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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2017 Michelle Smart

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Despertar nos teus braços, n.º 1823 - maio 2020

Título original: Once a Moretti Wife

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-281-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Quanto tinha bebido?

Anna Robson levou as mãos à cabeça, que lhe doía como se estivessem a bater-lhe por dentro com cem martelos.

Tinha um galo na testa. Tocou-lhe com cuidado e fez um esgar de dor. Teria batido com a cabeça?

Fez um esforço para lembrar-se. Tinha saído para beber um copo com Melissa… ou não tinha sido assim?

Sim, era isso. Tinha saído com a sua irmã para beber algo depois da aula de spinning, como costumavam fazer todas as quintas à tarde.

Ao olhar para o relógio que estava na mesa de cabeceira sobressaltou-se. O alarme do seu telemóvel deveria ter tocado há uma hora. Onde o tinha posto?

Olhou em volta para ver se o encontrava, mas esqueceu-se por completo do assunto ao sentir umas náuseas repentinas. Só teve tempo para chegar à casa de banho antes de começar a vomitar.

Depois permaneceu sentada junto à banheira como uma boneca de trapos. Tentou lembrar-se do tipo de álcool que bebera. Normalmente, bebia apenas pouco mais que um copo de vinho branco quando saía, mas naquele momento sentia-se como se tivesse bebido várias garrafas.

Naquele estado não poderia ir para o escritório… Mas depois lembrou-se que ela e Stefano tinham uma reunião com o diretor de uma nova empresa de tecnologia que o seu chefe queria comprar. Como de costume, Stefano tinha-lhe pedido que analisasse detalhadamente todos os relatórios sobre a empresa. Confiava na sua opinião. Se coincidisse com a dele iria investir sem hesitar na companhia. Caso contrário, repensaria a sua estratégia.

Mas não ia ter outro remédio senão enviar-lhe o relatório por correio eletrónico e explicar-lhe que estava doente.

Depois de deambular como um fantasma pela casa à procura do seu portátil, sem o encontrar, deduziu que o teria deixado no escritório. A única solução era ligar a Stefano e dar-lhe a sua palavra-chave e dizer-lhe que tratasse ele mesmo de aceder ao relatório.

A única coisa que tinha de fazer era encontrar o seu telemóvel. Na mesa da cozinha encontrou um saco elegante na bancada e, junto a este, um envelope dirigido a ela.

Pestanejou para manter o olhar focado enquanto abria o envelope. Leu a carta que estava dentro, mas não conseguiu perceber. Era de Melissa e pedia-lhe desculpa por ter ido para a Austrália. Prometia ligar-lhe assim que chegasse.

Austrália? Só podia ser uma brincadeira, embora não tivesse graça nenhuma o facto de a sua irmã lhe dizer que ia visitar a mãe que as abandonara há uma década. Melissa acrescentava ainda que tinha espalhado areia pelo degrau da porta de entrada para que não voltasse a escorregar no gelo. E pedia-lhe que fosse ao médico sem falta caso lhe continuasse a doer onde se tinha magoado.

Ana levou instintivamente a mão ao galo que tinha na testa. Não se lembrava de ter escorregado, nem de haver gelo no degrau.

Mas a cabeça doía-lhe demasiado para compreender, por isso deixou a carta de lado e deu uma vista de olhos ao saco. O porta-moedas que usava há quase uma década estava lá dentro. Fora uma prenda do seu pai, pouco antes de morrer. Teria trocado de porta-moedas com Melissa? Não seria nada de estranho, porque costumavam emprestar-se coisas uma à outra. O que era realmente estranho era não se lembrar disso. Mas deviam ter feito isso, já que no fundo do saco também encontrou o seu telemóvel.

Tirou-o e viu que tinha cinco chamadas perdidas. Esforçou-se por focar a visão enquanto inseria o pin.

Pin errado. Tentou outra vez. Pin errado.

Voltou a guardar o telemóvel com um suspiro. Já lhe estava a custar tanto manter-se em pé quanto mais para esforçar-se em lembrar-se do código. Era em momentos como aquele que se arrependia de ter desistido definitivamente do telefone fixo.

Não lhe restava outro remédio senão ir ao escritório, explicar que estava à beira da morte e voltar para casa.

Antes de vestir-se, tomou um analgésico, pedindo ao seu estômago para retê-lo. Depois, voltou ao quarto e sentou-se na beira da cama. Quando voltou a olhar para a cadeira em que costumava deixar a roupa preparada para o dia seguinte surpreendeu-se ao ver o vestido que ali estava. Donde tinha saído? Melissa devia ter voltado a mexer nas suas roupas. Sem energia para procurar outro, decidiu vesti-lo. Era um vestido preto simples, com mangas compridas e que lhe ficava por cima dos joelhos, mas ainda demorou algum tempo a conseguir vesti-lo.

Não se sentia com forças para maquilhar-se, por isso limitou-se a passar a escova pelo cabelo antes de sair.

No alpendre encontrou um par de botas negras de solas grossas que não tinha visto antes. Certa de que Melissa não se importaria que as usasses, calçou-as.

Depois fechou a porta da casa e desceu cuidadosamente os degraus. Felizmente, só demorou um momento a encontrar um táxi. Uns minutos depois, este parava à frente do edifício com fachada de vidro localizado no centro de Londres, a partir do qual Stefano dirigia os seus negócios. Enquanto esperava no passeio da frente pelo semáforo mudar para verde para os peões, viu um elegante Mercedes preto a parar à frente do edifício. O porteiro aproximou-se rapidamente para abrir a porta e Stefano saiu do carro.

O semáforo mudou e Anna cruzou a passadeira como um robô sem desviar o olhar de Stefano.

Uma mulher alta e loira saiu do carro atrás dele. Anna reconheceu-a, mas havia algo de familiar no seu rosto, algo que a fez sentir-se como se lhe estivessem a cravar um prego no estômago.

Esforçando-se por conter as náuseas, entrou no prédio, passou a mala pelo leitor ótico de segurança, esperou que lha devolvessem e depois teve de ir quase a correr para a casa de banho, onde vomitou no primeiro cubículo que encontrou livre.

Um suor frio e desagradável molhou-lhe a pele e soube que tinha cometido um erro ao decidir ir ao escritório. Nunca se tinha sentido tão mal.

Depois de lavar as mãos e o rosto, olhou-se no espelho. Tinha um aspeto terrível. Estava intensamente pálida e o seu cabelo negro parecia palha-d’aço. Deixou-se ficar a olhar, momentaneamente surpreendida ao ver o cabelo. Seria possível que lhe tivesse crescido durante a noite?

Saiu da casa de banho e dirigiu-se para os elevadores. Reparou que o homem e a mulher com quem coincidiu a subir, cujos rostos reconheceu vagamente, interromperam a conversa e olharam para ela com curiosidade. Estaria assim com tão mau aspeto? Foi um alívio quando por fim saiu no 13.º andar.

À frente do escritório que Anna partilhava com Stefano havia sempre muitas secretárias e administrativos. Todos voltaram a cabeça para olhar para ela quando saiu do elevador. Alguns deles até ficaram boquiabertos.

Por que tinham de demonstrar de forma tão evidente que estava com um ar horroroso? Apesar de tudo, Anna teve forças suficientes para continuar a sorrir. Ninguém lhe retribuiu o sorriso.

Olhou em volta à procura de Chloe, a sua nova secretária, que começava a tremer sempre que Stefano aparecia. A coitada não ia ficar muito contente quando soubesse que teria de substituí-la naquele dia.

Anna não queria uma secretária. Ela era a secretária! Mas Stefano dera-lhe tantos trabalhos que no final não lhe restara outro remédio senão aceitar.

– E vou ter um novo título profissional? – perguntou descaradamente quando por fim aceitou que ia ter uma secretária. Stefano recompensou-a com uma promoção a secretária executiva e um generoso aumento de salário.

Mas Chloe não estava à vista. Talvez se tivesse escondido em algum canto, aguardando a sua chegada. Mas Anna tinha a certeza de que acabaria por habituar-se a Stefano com o tempo, como costumava acontecer com a maioria dos empregados. Stefano inspirava tanto terror quanto admiração nos outros.

Quando se voltou depois de fechar a porta do escritório deteve-se subitamente. Por um instante esqueceu por completo a sua dor de cabeça e as suas náuseas.

Quando Stefano lhe ofereceu aquele trabalho e lhe explicou que este implicava partilhar com ele aquele escritório, ela aceitara com a condição de que a deixasse decorar o seu lado num tom verde ameixa.

Mas agora o escritório estava completamente pintado de creme.

Acabava de pôr-se atrás da sua secretária quando a porta se abriu e Stefano apareceu, tão obscuro e ameaçador como sempre.

Mas antes que Anna tivesse tempo de perguntar-lhe se tinha tido um exército de decoradores a trabalhar durante a noite, Stefano fechou a porta com força, cruzou os braços e olhou para ela franzindo o sobrolho.

– Que fazes aqui?

– Tu também? Não, por favor! – murmurou Anna. – Acho que ontem me fui abaixo. Sei que tenho um aspeto horrível, mas importas-te de fingires que pareço a supermodelo de sempre?

Aquilo tornara-se uma piada entre eles. Sempre que Stefano tentava convencê-la a sair com ele, Anna fazia algum comentário cortante, normalmente seguido da recordação de que as mulheres com quem ele costumava sair eram sempre supermodelos fabulosas e ela, por outro lado, só tinha um metro e sessenta.

– Parto-te o pescoço se tentares beijar-me – dissera-lhe ela uma vez.

– Queres tentar? – replicou de imediato Stefano.

Anna não se atreveu a voltar a mencionar a palavra beijar à frente dele. Já lhe chegava a sua imaginação, à qual certa vez sucumbiu, o que a obrigou a passar uma semana a fingir que não sentia palpitações quando Stefano estava por perto.

Era impossível negá-lo. O seu chefe era uma estampa, algo em que mesmo no estado em que se encontrava não poderia deixar de reparar. Não havia um só traço físico dele que não a fizesse sentir-se a derreter. Tinha pelo menos mais vinte e cinco centímetros do que ela, o cabelo escuro que parecia negro, um firme nariz romano, uns lábios generosos e uma mandíbula marcada coberta por uma barba incipiente. Os seus olhos eram de um verde que podia passar do escuro ao claro num instante. Anna tinha aprendido a interpretar os seus olhares, que costumavam corresponder exatamente ao seu humor no momento. E naquela manhã pareciam mais escuros que nunca.

Mas Anna não se encontrava no melhor momento para decidir que significaria aquele olhar. O analgésico quase não tivera efeito e as suas têmporas palpitavam de dor. Apoiou-se um momento na ponta da secretária antes de sentar-se e reparou de imediato em algo estranho. A sua mesa estava um caos e ela costumava deixá-la sempre arrumada. Aquilo era uma loucura. E além disso…

– Que fazem estas fotos de gatos no meu escritório? – ela era uma pessoa de cães, não de gatos. Os cães eram leais. Os cães nunca te abandonam.

– No escritório de Chloe, queres tu dizer – replicou Stefano com voz dura.

Anna pôs a cabeça de lado e suspirou.

– Não gozes comigo – pediu. – Cheguei apenas vinte minutos atrasada e tenho a cabeça…

– Nem posso acreditar que tenhas tido a coragem de apresentares-te aqui desta maneira – interrompeu-a Stefano.

– Sei que não estou bem – reconheceu Anna. – De facto, sinto-me um zombie, mas deixei aqui o computador portátil e tinha de entregar-te o relatório. Receio que Chloe terá de substituir-me na reunião.

Stefano esboçou um sorriso de desdém.

– Trata-se de uma nova tática?

Anna não percebia o que se estava a passar. Uma das vantagens de trabalhar com Stefano era que este dizia sempre o que pensava sem quaisquer rodeios, embora sempre com o seu marcado acento italiano.

– Ainda bem que aprendi inglês sozinho – costumava dizer com desdém aos seus empregados. – Se tivesse aprendido com vocês só conseguiria dizer parvoíces autoindulgentes.

Anna sorria sempre quando o ouvia dizer aquilo.

Foi ela quem lhe ensinou as palavras «parvoíces autoindulgentes» na primeira semana em que trabalhou para ele. E o seu forte acento italiano fazia com que soassem muito mais divertidas. Desde então, ensinara-lhe um monte de insultos e palavrões, a maioria dos quais foram inicialmente dirigidos a ele.

O que fazia com que aquela situação fosse ainda mais confusa.

– Do que estão a falar?

Stefano deu um passo na direção dela.

– Terá estado a ter aulas de teatros recentemente, senhora Goretti?

– Senhora…? – Anna fechou os olhos por um momento e moveu a cabeça para tentar aclarar as ideias, mas só conseguiu sentir uma pontada de dor. – Estou no meio de um pesadelo ou algo parecido?

Quando abriu os olhos viu que Stefano estava muito perto dela.

– Seja lá qual for o jogo, estás a jogar muito bem. Diz-me quais são as regras, para eu saber o que fazer – embora Stefano tivesse dito aquelas palavras com aparente delicadeza, a ameaça patente nas suas palavras era inconfundível.

Anna arregalou os seus belos olhos cor de avelã. Stefano pensou que era evidente que tinha estado a praticar aquela expressão de inocência desde que a vira pela última vez, um mês atrás.

Já tinha passado um mês desde que o humilhara perante o seu próprio conselho de administração e saíra da sua vida.

Apoiou as mãos na secretária e inclinou-se para olhar mais de perto para Anna. O seu belíssimo rosto cativara-o desde o primeiro instante.

– Não sei do que estás a falar – disse Anna enquanto se punha lentamente em pé. – Vou para casa. Um de nós está confundido e não sei bem qual.

Stefano soltou um riso em que não havia qualquer humor.

– E tu também deverias ir para casa – acrescentou Anna, olhando-o como uma pessoa que estivesse encurralada por um cão perigoso. – Se não te conhecesse pensaria que estás bêbado.

Stefano perguntou-se por um momento se não seria ela que estava bêbada. Estava a arrastar as palavras e parecia algo instável.

Mas, como sempre, os seus tentadores e sensuais lábios estavam a tentá-lo. Ela estava a tentá-lo. Estava a jogar um jogo do qual ele desconhecia as regras. Mas não estava disposto a voltar a cair nas suas armadilhas. Ele escrevia as regras, não aquela bruxa que tentava hipnotizá-lo, atraindo-o.

Anna planeara tudo desde o princípio. Tinha travado os seus avanços durante dezoito meses e tinha conseguido que se sentisse tão desesperado por possuí-la que chegou a estar disposto a casar com ela só para poder ir para a cama com ela. Tinha de reconhecer que o assunto não fora tão linear, mas em resumo era isso. Chegara a acreditar que a conhecia bem. Que podia confiar nela… ele, Stefano Moretti, um homem que aprendera praticamente desde criança a não confiar ninguém.

Anna conseguira que ele se casasse com ela, para logo depois pedir-lhe o divórcio por adultério, humilhando-o perante os seus empregados e conseguido uma boa tranche da sua fortuna.

Ainda não podia acreditar que tivesse sido tão estúpido para deixar-se levar daquela maneira.

Quando o seu advogado lhe ligou para dizer-lhe que a sua esposa ia processá-lo por uma fortuna, refreou o impulso de correr para casa e enfrentá-la. Mas obrigou-se a fazê-lo, algo que não lhe foi fácil. Não era o tipo de homem que gostava de esperar para resolver os seus problemas, costumava enfrentá-los diretamente para resolvê-los. Reagia. Sempre o fizera. Aquela característica era a que o tinha metido em tantos problemas desde criança. Nunca soube como manter a boca fechada nem os punhos quietos.

Passou quase duas semanas a recusar-se a reconhecer os factos. Faltavam dez dias para cumprirem um ano de casados, momento em que poderia divorciar-se legalmente. Então, e só então, Anna descobriria o que estava disposto a dar-lhe: nada. E pretendia fazê-la passar as passas do Algarve antes de tal descoberta.

Ia fazê-la pagar por todas as suas mentiras e enganos. Só pararia quando Anna tivesse sofrido a mesma humilhação que ele.

Cem milhões de libras e várias propriedades por um ano de casamento? O descaramento de Anna era incrível.

Mas, apesar de tudo o que tinha feito, o certo era que o seu desejo por ela não tinha diminuído nem um pouco. Anna continuava a ser a mulher mais sensual do mundo. De uma beleza clássica, tinha um longo cabelo sedoso, castanho escuro, que marcava na perfeição o seu rosto com maçãs do rosto salientes, os seus carnudos e sensuais lábios, a sua pele cremosa. Deveria ter sido tão narcisista como uma estrela de cinema, mas fora sempre muito desdenhosa no que se referia ao seu aspeto. Aquilo não significava que se esforçava em ter bom ar. De facto, adorava roupa, mas nunca fazia nada por realçar os atrativos que a natureza lhe tinha dado.

Anna Moretti, a mulher com o rosto e corpo de uma deusa e a língua de uma víbora. Esperta, convincente, doce e adorável, um enigma envolto numa capa de mistério.

Desprezava-a.

Sentia a falta dela na sua cama.

Desde que tinha saído da prisão, há muitos anos, tornara-se um especialista em disfarçar a pior parte do seu mau génio, canalizando-o para outros aspetos da sua vida, mas Anna perturbava-o como nunca ninguém conseguira.

Não era uma mulher submissa. Descobriu-o no primeiro encontro. Apesar de tudo, nunca tinha imaginado que teria a audácia de voltar ali depois do que tinha feito.

– Não estou bêbado – disse enquanto se inclinava para ela e inspirava o seu aroma. – Mas se tens problemas de memória, ocorre-me um método para ajudar-te a refrescá-la.

Anna arregalou os olhos, alarmada. Mas Stefano não lhe deu oportunidade de replicar. Deslizou um mão pela sua cintura, puxou-a para si e beijou-a. Sorriu ao reparar em como estava rígida. Se Anna queria brincar, deveria perceber que quem ditava as regras era ele, não ela.

A humidade quente dos seus lábios, os seus seios pressionados contra o dele e o seu aroma fizeram com que, como sempre, o sangre lhe corresse ardente pelas veias.

Mas, de imediato, Anna pôs o rosto de lado e deu-lhe uma bofetada.

– Que achas que estás a fazer? – perguntou, visivelmente perturbada, enquanto esfregava os lábios com a manga do vestido. – És… és…

– Sou o quê? – perguntou Stefano, que teve de esforçar-se para controlar o seu tom.

Anna pestanejou e, quando voltou a olhar para ele, a fúria tinha desaparecido dos seus olhos. No seu olhar havia medo e ela ficara intensamente pálida.

– Stef…

Anna cambaleou e estendeu as mãos para ele como se precisasse de agarrar-se a algo.

– Anna?

Quando caiu à sua frente, Stefano apenas teve tempo de agarrá-la antes que caísse ao chão.