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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Jennie Lucas

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma obsessão, n.º 1820 - abril 2020

Título original: A Ring for Vincenzo’s Heir

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-278-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Tens duas opções, Scarlett – disse-lhe o seu ex-chefe, passando os olhos pela sua barriga de grávida e detendo-os nos seus grandes seios. – Ou assinas o documento e te casas comigo…

– Ou o quê?

Scarlett Ravenwood tentou afastar-se do documento em causa, que implicava renunciar ao filho assim que este nascesse, mas não conseguiu, porque o seu musculado acompanhante ocupava quase todo o lugar de trás.

– Ou farei com que o doutor Marston te declare louca e te interne numa instituição qualquer – respondeu com um sorriso. – Seria para o teu próprio bem. Afinal, nenhuma mulher no seu juízo perfeito recusaria casar comigo. E não te serviria de nada, porque, de qualquer modo, perderias o direito ao bebé.

– Estás a brincar, certo? – questionou ela, soltando uma gargalhada nervosa. – Então, Blaise… tu sabes que não podes fazer isso. – Em que século pensas que estamos?

– Num em que os ricos podem fazer o que quiserem e a quem quiserem.

Blaise estendeu um braço, brincou um pouco com uma das madeixas da sua farta e ruiva cabeleira e acrescentou:

– Quem poderia impedir-me? Tu?

Scarlett sentiu um nó na garganta. Estava há dois anos na casa de Blaise, uma mansão de Upper East Side. O seu ex-chefe contratara-a para que cuidasse da mãe dele e tudo tinha corrido mais ou menos bem até à mulher falecer. Blaise continha as suas tentativas de sedução porque para a anciã a possibilidade de ele manter quaisquer relações íntimas com uma simples criada era uma ideia terrível. Mas a senhora Falkner já não estava entre nós. E ele era imensamente rico.

Como se isso não chegasse, Scarlett não tinha amigos em Nova Iorque. Isolara-se do mundo, condenada a obedecer às ordens de uma série de enfermeiras e a limpar uma irritável e mesquinha inválida. Não podia pedir ajuda a ninguém. Não havia ninguém que a pudesse ajudar.

Ninguém a não ser ele.

«Não», disse-se, desesperada. «De maneira alguma».

Isso estava fora de questão.

Mas, que aconteceria se Blaise tivesse razão? Era um homem indiscutivelmente poderoso. Em quem acreditaria a polícia se ele fizesse queixa? Que aconteceria se ele e o médico descobrissem uma maneira de interná-la num hospital psiquiátrico?

Ainda estava pasmada com o que acontecera. Blaise pedira-a em casamento nessa mesma manhã, durante o funeral da sua mãe. Literalmente sobre a campa. Scarlett recusara o pedido, anunciando-lhe que iria deixar Nova Iorque, pensando que ele ficaria chateado. Mas, em vez disso, ele ofereceu-se para levá-la à estação de autocarros. E ela aceitou, não ligando aos seus pressentimentos.

Deveria ter imaginado. O seu ex-chefe não era um homem que se deixasse vencer facilmente. Mas, quem teria pensado que iria tão longe? Quem teria pensado que se atreveria a chantageá-la e a exigir que desse o filho para adoção?

Cometera um erro gravíssimo ao presumir que se tratava de um simples engatatão que queria ir para a cama com ela a todo o custo. Blaise não estava nessa categoria, mas noutra mais perigosa: a dos loucos.

– E então? Estou à espera de uma resposta – disse ele.

– Por que queres casar comigo? – perguntou timidamente. – És um homem rico e atraente. O mundo está cheio de mulheres que adorariam casar contigo.

– É possível, mas eu quero-te a ti – respondeu ele, agarrando-lhe o pulso. – Recusaste-me continuamente desde que chegaste. E não contente com isso, entregaste-te a um tipo sobre o qual te recusas a falar… Mas, quando casarmos, eu serei o único a poder tocar o teu corpo. Quando nos livrarmos do teu bebé, serás minha para sempre.

Scarlett estava cada vez mais assustada. Que poderia fazer?

Precisamente nesse momento, viu a famosa catedral da Quinta Avenida e ocorreu-lhe uma ideia maluca. Não fazia parte do seu plano inicial, que era entrar num autocarro, viajar para sul e começar uma vida nova num qualquer sítio quente e soalheiro, onde pudesse criar o seu filho. Mas era a única solução. Ou, pelo menos, a única imediata.

Infelizmente, receava tanto a ideia quanto receava o homem que viajava ao seu lado. Trocar Blaise Falkner por Vincenzo Borgia equivalia a saltar da frigideira para o lume, e não apenas porque o segundo fosse o pai do seu bebé. Estremecia de cada vez que pensava nos seus olhos escuros. Vin podia ser um homem muito apaixonado. E também muito frio.

Ao fim de uns momentos, o motorista parou a limusina num semáforo vermelho. Scarlett não tinha a certeza do que ia fazer, mas lembrou-se do provérbio que o seu pai costumava dizer: para grandes males, grandes remédios. E não tinha tempo para pensar. Era agora ou nunca.

Decidida, respirou fundo e apertou um punho.

– Sabes o que gostaria de fazer? – perguntou a Blaise.

– O quê? – perguntou ele, admirando os seus seios.

– Isto!

Scarlet deu-lhe um murro tão forte que Blaise retrocedeu e lhe soltou a mão.

Aproveitando o seu desconcerto, abriu a porta do veículo, tirou os sapatos de salto alto e correu para a catedral de São Swithun, que ficava no fim do quarteirão. Era um dia perfeito para um casamento. O céu estava limpo e a cidade, mais bela do que nunca. Mas, chegaria a tempo?

Scarlett olhou para o relógio, que um dia pertenceu à sua mãe. Tinham passado quatro meses desde que vira o anúncio do casamento no New York Times, tinha feito tudo para não pensar nisso. No entanto, os acontecimentos tinham-se desenrolado de tal maneira que agora não conseguia pensar noutra coisa. Vin Borgia era o único que a poderia ajudar.

Ao ver os guarda-costas, acalmou-se um pouco. A sua presença indicava o mesmo que o Rolls Royce branco estacionado na esquina: que a cerimónia tinha terminado. E isso era bom. Exceto pelo detalhe de que os guarda-costas não estavam ali por acaso.

– Lamento, menina – disse um. – Terá de passar por outro lado.

Scarlett não ligou. Levou as mãos à barriga e gritou, melodramática:

– Socorro! Está um homem a perseguir-me! Quer roubar o meu bebé!

– Como? – perguntou o guarda-costas, espantado.

– Chame a polícia! – disse, passando à frente deles.

– Ei! Já disse que não pode passar!

Momentos depois, chegou à escadaria do enorme edifício de mármore cinza, o lugar onde se casavam os ricos e famosos de Nova Iorque.

– Alto aí! – exclamou um segundo guarda-costas.

Scartlett ficou gelada, pensando que iria fracassar no último segundo. Mas, nesse exato momento, apareceram os guarda-costas de Blaise e, enquanto discutiam uns com os outros, ela entrou na catedral.

A cena no interior parecia saída de um conto de fadas: dois mil convidados pelos bancos, rosas e lilases por todo o lado e, à frente do altar, a noiva mais bela do mundo e o noivo mais devastadoramente atraente da Terra.

Vin estava tão bonito que Scarlett sentiu o coração apertado.

– Se algum dos presentes tem algo contra este casamento, que fale agora ou se cale para sempre – sentenciou o padre.

Scarlett não hesitou. Desde o corredor central, ergueu uma mão e disse:

– Esperem!

Dois mil convidados viraram-se para ela, incluindo o noivo e a noiva.

Scarlett sentiu-se enjoada, mas fez um esforço e concentrou-se na única pessoa que importava naquele momento.

– Ajuda-me, Vin. Imploro-te… – a sua voz fraquejou. – O meu chefe quer roubar-nos o bebé!

 

 

Vincenzo Borgia, Vin para os amigos, tinha dormido que nem uma pedra na noite anterior. Ao contrário de tantos noivos prestes a casarem-se, ele não tinha motivos para estar nervoso. A sua relação com Anne Dumaine era tão simples quanto inócua. Não tinham discutido sequer uma vez. Não estavam encurralados numa teia de emoções. Nem sequer tinham feito amor, embora o fossem fazer mais tarde.

No entanto, esses detalhes tornavam-na a mulher perfeita. Esses e uma consequência do seu casamento, a fusão das empresas das suas respetivas famílias.

Quando a sua Sky World Airways se fundisse com a companhia aérea do pai de Anne, Vin ganharia trinta rotas transatlânticas entre as quais havia trajetos tão lucrativos como Nova Iorque-Londres e Boston-Paris. A sua empresa duplicaria de dimensão, e em condições muito vantajosas, porque Jacques Dumaine queria ser generoso com o seu futuro genro.

Como não iria estar tranquilo? Aquele casamento poria fim a todas as incertezas da sua desventurada vida.

Sim, Vin tinha dormido bem na noite anterior e dormiria ainda melhor quando consumasse o seu casamento com a sua tradicional e conservadora noiva, que insistira em chegar virgem ao altar. De facto, tinha a certeza de que a partir de então, não voltaria a perder nem um minuto de sono.

Só havia dois aspetos preocupantes naquele plano: o primeiro era que ele e Anne não tinham nada em comum e o segundo era que não se sentia particularmente atraído por ela. Mas também não era para tanto. Desde que respeitassem e tolerassem as fraquezas de cada um, não haveria nenhum problema. E, quanto à paixão, era quase melhor que esta fosse inexistente; afinal, ninguém sentia saudades daquilo que nunca tinha tido.

No entanto, o seu casamento com Anne Dumaine ia mais além do interesse económico. Vin começara a cansar-se das continuadas e sempre imprevisíveis aventuras da sua vida amorosa. Queria assentar a cabeça e criar uma família. Ou, pelo menos, queria-o desde que o seu caminho se cruzara com uma ruiva imponente que, depois dar-lhe a melhor noite de sexo da sua vida, desaparecera como se nunca tivesse existido.

Anne era a melhor aposta que poderia fazer. Oferecia segurança, uma família irrepreensível e a certeza de que seria uma boa mãe e uma boa esposa para um executivo como ele, porque falava vários idiomas e tinha uma licenciatura em comércio internacional. Além disso, era muito bonita. E tinha um dote verdadeiramente irresistível: a companhia aérea Air Transatlantique.

– Se algum dos presentes tem algo a objetar a este casamento… –começou a dizer o padre.

Vin sorriu para a loira e bela Anne e pensou que se parecia com a princesa Grace. Levava um vestido branco simples e um longo véu com rendas, feito à mão. Estava perfeita. Absolutamente impecável.

– …que fale agora ou se cale para sempre.

– Esperem!

Vin ficou gelado. Quem se teria atrevido a interromper o seu casamento? Alguma amante ressentida? E como era possível que tivesse entrado na igreja, escapando à vigilância dos guarda-costas?

A sua indignação transformou-se em espanto quando se voltou e viu uns olhos verdes e uma cabeleira ruiva que conhecia muito bem. Era ela. Scarlett. A mulher dos seus sonhos, literalmente. A mulher com que sonhava há oito meses. A apaixonada ruiva com que desejara viver uma noite inesquecível. O anjo sexual que desaparecera na manhã seguinte sem dizer-lhe sequer o seu apelido e o seu número de telefone.

Nenhuma das suas amantes o tratara alguma vez tão mal. Tinha feito amor com ele, levara-o aos píncaros do prazer e partira como uma Cinderela, mas sem deixar um maldito sapato de cristal.

Que estava ali a fazer? E por que razão estava descalça?

– Ajuda-me, Vin. Imploro-te… O meu chefe quer roubar-nos o bebé!

Vin engoliu em seco, desconcertado.

Bebé? Qual bebé?

Os dois mil convidados do casamento deixaram de olhar para a mulher vestida de negro e cravaram os olhos em Vin.

Os seus planos acabavam de rebentar pelos ares. O pai de Anne olhava-o com uma fúria evidente e a mãe dela com espanto. Era óbvio que os desiludira, e quase ficou contente por não ter família própria, porque a sua desilusão teria sido maior.

Quando se voltou para sua noiva, apanhou uma surpresa. Esperava que os olhos dela estivessem lacrimejantes e que ardessem de recriminação. Afinal, Anne não poderia saber que tinha ido para a cama com Scarlett vários meses antes de conhecê-la a ela e que, consequentemente, não se tratava de uma qualquer traição. Mas o seu belo rosto estava completamente impassível.

– Desculpas-me por um momento? – perguntou ele.

– Leva o tempo que quiseres.

Vin avançou lentamente pelo corredor central e parou à frente da ruiva que, até há uns segundos, já era quase um personagem fictício, como se fosse apenas um produto da sua imaginação.

Mas era real.

– Estás grávida? – perguntou, olhando para o ventre dela.

Ela olhou-o nos olhos.

– Sim.

– De mim?

Scarlett levantou o queixo.

– Achas que estou a mentir?

Vin lembrou-se do suave gemido de dor que Scarlett soltou quando a penetrou pela primeira vez. Lembrou-se das suas lágrimas, e de como ele mesmo as secou enquanto a dor se tornava algo muito diferente. Quem teria imaginado que era virgem?

– E só agora é que conseguiste contar-me?

– Desculpa – disse ela em voz baixa. – Eu…

Ness exato momento apareceram três homens que se aproximaram deles. O que parecia ser o chefe agarrou Scarlett pelo punho, atirou-lhe um nome pouco lisonjeador e disse a Vin, com maus modos:

– Isto é um assunto privado. Volte para a sua cerimónia.

Vin esteve quase a fazê-lo. Teria sido o mais fácil. Sentia a pressão da sua noiva, da família da sua noiva, dos dois mil convidados, do padre e até do próprio conselho de administração da Sky World Airways. Mas o problema desapareceria de imediato se acusasse Scarlett de ser uma mentirosa e voltasse ao altar onde a sua noiva o esperava.

Então, porque não voltou?

Talvez porque aqueles tipos estavam a magoar Scarlett. Talvez porque a arrastassem para a saída como se fosse um vulgar objeto. Talvez porque era uma criatura indefesa no meio de uma catedral apinhada de mulheres e homens poderosos que não tinham mexido um dedo para ajudá-la. Ou talvez porque a sua situação se parecia muito com a que sofrera ele próprio na sua infância, quando o tiraram da sua casa contra a sua vontade.

Fosse qual fosse o motivo, Vin fez algo que há muito não fazia: tomou partido.

– Deixem-na em paz – ordenou.

– Não se meta onde não é chamado.

Vin ignorou-o.

– É óbvio que a rapariga não quer ir com vocês.

– Não passa de uma louca – disse o tipo que a agarrava pelo pulso. – Vou levá-la ao meu psiquiatra. E tenho a impressão de que ficará internada durante muito tempo.

– Não! – disse Scarlett a Vin, desesperada. – Não estou louca! Este homem era o meu chefe… Quer que eu case com ele e que dê o nosso filho para adoção.

Ao ouvir a última frase, Vin sentiu-se como se lhe tivessem cravado uma faca no coração. Dar o seu filho para adoção? Não, de modo algum! Nem a levaria, nem lhe tiraria o seu bebé.

– Larga-a já!

– Ou o quê? – desafiou-o.

– Sabes quem eu sou? – perguntou Vin com toda a calma.

O indivíduo olhou para ele com desprezo, mas mudou radicalmente de atitude quando reconheceu a sua cara.

– Meu Deus… – Vincenzo Borgia – declarou com espanto. – Desculpe-me. Não me tinha apercebido.

Vin olhou para os seus próprios guarda-costas, que tinham entrado na catedral e rodeado os três homens com uma precisão cirúrgica, preparados para entrarem em ação. Depois, fez um gesto ao seu chefe de segurança para que mantivesse as distâncias e gritou:

– Saia daqui. Já.

O desconhecido soltou a sua presa e fugiu rapidamente com os seus dois capangas. Os convidados do casamento romperam o silêncio e começaram a falar, espantados com o que tinha acontecido. E Scarlett abraçou Vin.

– Bem te tinha dito, Anne! Eu disse-te que não casasses com ele! – exclamou um jovem de repente. – Que importa se te deserdam?

Anne não disse nada, mas o jovem não se ficou por ali. Olhou para toda a gente à volta e acrescentou com orgulho:

– Vou para a cama com ela há seis meses!

Tudo se tornou um caos. O pai da noiva começou a gritar; a mãe da noiva começou a chorar e, quanto à noiva, esta desmaiou rápida e convenientemente sobre a bela massa branca de tecido do seu vestido.

No entanto, Vincenzo não lhes prestou atenção. O seu mundo ficara reduzido a duas coisas: às lágrimas de Scarlett no seu smoking e ao suave corpo de grávida que descansava entre os seus braços.