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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2017 Jennie Lucas

© 2020 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Fruto da vingança, n.º 1810 - janeiro 2020

Título original: The Consequence of His Vengeance

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-979-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Letty Spencer saiu do restaurante de Brooklyn em que trabalhava e baixou a cabeça para se proteger da noite gelada de fevereiro. Doía-lhe o corpo depois de ter feito um turno duplo, mas não tanto como o coração.

Não fora um bom dia.

Tremendo dentro do casaco puído, inclinou a cabeça para se proteger do vento gelado que lhe atingia a cara.

– Letitia – disse alguém, atrás dela.

Letty endireitou-se de repente.

Já ninguém lhe chamava Letitia, nem sequer o pai. Letitia Spencer fora a herdeira mimada de Fairholme. Letty era apenas uma empregada de Nova Iorque que lutava todos os dias para chegar ao fim do mês.

E aquela voz parecia…

Apertando a alça da mala, Letty virou-se lentamente.

E ficou com falta de ar.

Darius Kyrillos estava apoiado num desportivo preto e brilhante. Os flocos suaves de neve caíam no seu cabelo escuro e no fato preto e elegante enquanto a observava, em silêncio.

Letty tentou entender o que os seus olhos viam. Darius? Ali?

– Viste isto? – perguntara o pai, de manhã, pondo o jornal na mesa velha da cozinha. – O Darius Kyrillos vendeu a empresa por vinte mil milhões de dólares! – Estava entusiasmado, com os olhos cansados por causa dos analgésicos e o braço que partira recentemente preso com o gesso. – Devias ligar-lhe, Letty. Devias fazer com que te ame outra vez.

Depois de dez anos, o pai voltara a pronunciar o nome de Darius. Infringira uma regra não escrita. E ela saíra de casa depressa, murmurando que estava atrasada para o trabalho.

Contudo, afetara-a durante todo o dia, fazendo com que deixasse cair as bandejas e esquecesse pedidos. Até deixara cair um prato de ovos com bacon em cima de um cliente. Era um milagre que continuasse a ter um emprego.

Não, pensou, incapaz de respirar. Aquele era o milagre. Aquele momento.

«Darius.»

Letty deu um passo em frente, com os olhos esbugalhados.

– Darius? – sussurrou. – És mesmo tu?

Ele endireitou-se como um anjo sombrio. Conseguia ver o seu fôlego à luz do candeeiro, como fumo branco na noite gelada. Depois, parou, imponente, com o rosto nas sombras. Quase esperava que desaparecesse se tentasse tocar nele, de modo que não o fez.

Então, tocou nela.

Esticou uma mão para tocar na madeixa escura que escapara do rabo de cavalo.

– Surpreende-te?

Ao ouvir aquela voz rouca, com um sotaque grego leve, Letty sentiu um calafrio. E soube que não era um sonho.

O seu coração enlouqueceu. Darius, o homem que tentara esquecer durante a última década. O homem com quem sonhara contra a sua vontade, noite após noite. Ali, ao seu lado.

– O que fazes aqui? – perguntou, tentando conter um soluço.

Olhou para ela de cima a baixo com os seus olhos escuros.

– Não consegui resistir.

Não mudara nada, pensou Letty. Os anos que tinham estado prestes a destruí-la não lhe tinham deixado marca. Era o mesmo homem que, uma vez, amara com todo o seu coração quando era uma rapariga teimosa de dezoito anos, presa numa história de amor proibido. Antes de ter de sacrificar a sua felicidade para salvar a dele.

Darius deslizou a mão pelo seu ombro e Letty sentiu o calor através da lã fina do casaco. Estava quase a chorar e a perguntar porque demorara tanto tempo. Quase perdera a esperança.

Então, viu que ele olhava para o seu casaco velho, com o fecho estragado, e para o uniforme branco de empregada de mesa que lavara demasiadas vezes com lixívia e começava a desfiar-se. Normalmente, costumava usar collants para evitar o frio, mas o último par estava demasiado rasgado e, naquele dia, estava com as pernas nuas.

– Não estou bem vestida…

– Isso não importa – interrompeu Darius. – Vá, vamos.

– Onde?

Deu-lhe a mão e, de repente, Letty deixou de sentir frio. Parou de sentir os flocos de neve a cair na sua cabeça porque experimentara uma descarga elétrica desde o couro cabeludo até às pontas dos pés.

– Vamos às minhas águas-furtadas, no centro. – Darius olhou para os olhos dela. – Queres vir?

– Sim – sussurrou ela.

Darius sorria de uma forma estranha enquanto a levava para o desportivo brilhante e abria a porta do passageiro.

Letty entrou no carro, inalando o cheiro rico dos bancos de pele. Aquele carro devia custar mais do que ela ganhara na última década a servir às mesas. Quase sem se aperceber, passou a mão pela pele fina e creme. Esquecera que a pele podia ser tão suave.

Darius sentou-se ao seu lado e pôs o carro a trabalhar. O motor ganhou vida enquanto saíam do bairro humilde para se dirigir para os mais nobres de Park Slope e Brooklyn Heights, antes de atravessar a ponte que levava à zona mais procurada pelos turistas e pelos ricos: Manhattan.

Engolindo em seco, Letty olhou para o pulso forte, coberto de pelo escuro e suave, enquanto mudava de mudança.

– De modo que o teu pai saiu da prisão – comentou, num tom irónico.

– Sim, há alguns dias.

Darius virou-se para olhar para o seu casaco velho e para o uniforme desfiado.

– E, agora, estás disposta a mudar de vida.

Era uma pergunta ou uma sugestão? Estava a dizer que queria mudar a sua vida? Saberia a razão por que o traíra há dez anos?

– Aprendi da forma mais difícil que a vida muda, mesmo que não estejamos preparados.

Darius agarrou o volante com força.

– Certo.

Letty continuou a olhar para o seu perfil, hipnotizada. Desde as pestanas espessas até ao nariz aquilino, passando pelos lábios grossos e sensuais. Continuava a achar que aquilo era um sonho. Depois de tantos anos, Darius Kyrillos encontrara-a e levava-a para as suas águas-furtadas. O único homem que amara…

– Porque vieste procurar-me? Porquê hoje, depois de tantos anos?

– Por causa da tua mensagem.

Letty franziu o sobrolho.

– Que mensagem?

– Muito bem – murmurou ele, esboçando um sorriso. – Como queiras…

Mensagem? Letty começou a suspeitar. O pai quisera que entrasse em contacto com Darius e, durante os últimos dias, desde que partira o braço em circunstâncias misteriosas que não queria explicar, estava em casa, sentado à frente do computador velho e a tomar analgésicos.

O pai poderia ter enviado uma mensagem a Darius, fazendo-se passar por ela?

Letty decidiu que não importava. Se o pai interviera, só podia agradecer-lhe.

O pai devia ter-lhe revelado a razão por que o traíra há dez anos. Se não fosse assim, Darius não falaria com ela.

Mas como podia ter a certeza?

– Li no jornal que vendeste a tua empresa.

– Ah, claro – murmurou ele, num tom gelado.

– Parabéns!

– Obrigado. Demorei dez anos.

«Dez anos.» Essas palavras simples ficaram suspensas entre eles como uma pequena balsa num oceano de remorsos.

Pouco depois, chegaram a Manhattan, com toda a sua riqueza e a sua ferocidade. Um lugar que evitara durante quase uma década, desde o julgamento do pai, pensou Letty, com um nó na garganta.

– Pensei muito em ti. Questionava-me como estarias… Esperava que estivesses bem, que fosses feliz.

Darius parou o carro num semáforo e virou-se para olhar para ela.

– Fico contente por teres pensado em mim – disse, em voz baixa, novamente nesse tom estranho. Na noite fria, os faróis dos carros criavam sombras nas linhas duras do seu rosto.

Eram dez horas e o trânsito começava a diminuir. Dirigiam-se para o norte pela Primeira Avenida, passando à frente da praça das Nações Unidas. Os edifícios tornaram-se mais altos à medida que se aproximavam do centro. Darius virou na rua Quarenta e Nove para a ampla Park Avenue e, uns minutos depois, chegaram a um arranha-céus de vidro e aço de construção nova situado à frente de Central Park.

Letty olhava de um lado para o outro, espantada.

– Vives aqui?

– Comprei os dois últimos andares – respondeu ele, com a despreocupação com que qualquer outra pessoa diria: «Comprei dois bilhetes para o balé.»

A porta do carro abriu-se e Darius deu as chaves a um empregado sorridente que o cumprimentou respeitosamente. Depois, deu a volta ao carro para lhe abrir a porta e ofereceu-lhe a mão.

Tinha de saber, pensou, tentando disfarçar o arrepio causado pelo toque da mão masculina. Se não fosse assim, porque teria ido procurá-la? Porque não continuava a odiá-la?

Darius levou-a através de um vestíbulo espantoso, com decoração minimalista e tetos de sete metros.

– Boa-noite, senhor Kyrillos – cumprimentou o porteiro. – Está frio esta noite. Espero que esteja bem agasalhado.

– Estou. Obrigado, Perry.

Darius apertou a sua mão e Letty sentiu-se como se estivesse prestes a explodir enquanto abria a porta do elevador com um cartão magnético e carregava no botão do septuagésimo andar.

Apertou a sua mão novamente enquanto o elevador os levava ao seu destino. Letty sentia o calor do corpo masculino ao lado do dela, a uns centímetros, e mordeu o lábio, incapaz de olhar para ele. Limitava-se a olhar para os números no painel enquanto o elevador subia. Sessenta e oito, sessenta e nove, setenta…

Ouviu uma campainha quando a porta se abriu.

– Tu primeiro… – disse Darius.

Olhando para ele com um ar nervoso, Letty saiu diretamente para umas águas-furtadas muito altas e ele seguiu-a, enquanto a porta do elevador se fechava silenciosamente atrás deles.

As solas de borracha dos seus sapatos faziam barulho no chão de mármore enquanto atravessava o vestíbulo amplo, com um lustre moderno de cristal no teto. Letty torceu o nariz, envergonhada, mas, no rosto bonito de Darius, não havia expressão alguma enquanto tirava o casaco comprido. Não acendeu as luzes e não parou de olhar para ela.

O apartamento tinha dois andares e poucos móveis. Era tudo preto ou cinzento, mas o que mais chamou a sua atenção foi uma janela que servia de parede na sala enorme.

Olhando da direita para a esquerda, conseguia ver o Central Park escuro, os edifícios situados à frente do rio Hudson e as luzes de Nova Jérsia do outro lado. A sul, via os arranha-céus do centro da cidade, incluindo o Empire State, até ao distrito financeiro e ao brilhante One World Trade Center.

Para além das chamas azuis que dançavam na lareira elegante, as luzes da cidade eram a única iluminação.

– Incrível – murmurou, aproximando-se da janela. Sem pensar, chegou-se para a frente para apoiar a testa no vidro e olhar para Park Avenue. Os carros e táxis pareciam minúsculos, como formigas. Era um pouco aterrador estar num andar tão alto, perto das nuvens. – É lindo.

– Tu és linda, Letitia – elogiou ele, num tom rouco.

Virou-se para olhar para ele com mais atenção… e teve uma surpresa.

Porque achara que Darius não mudara?

Mudara por completo.

Com trinta e quatro anos, já não era o jovem magro e alegre que conhecera, mas um homem adulto e poderoso. Os seus ombros eram mais largos, a condizer com a estatura elevada, e o seu peito era impressionante. O cabelo escuro, uma vez despenteado como o de um poeta, estava bem cortado e era tão severo como o queixo quadrado.

Tudo nele parecia rigidamente controlado, desde o corte do seu fato caro até à camisa preta com o primeiro botão desabotoado, passando pelos sapatos de couro preto e brilhante e pela sua postura imponente. A boca fora expressiva uma vez, terna e doce, mas a arrogância, até crueldade, dos seus lábios era nova.

Era como um rei majestoso nas suas águas-furtadas, com a cidade de Nova Iorque aos seus pés.

Ao ver a sua expressão, Darius cerrou os dentes.

– Letitia…

– Letty – corrigiu ela, tentando sorrir. – Já ninguém me chama Letitia.

– Nunca consegui esquecer-te – continuou a dizer, em voz baixa. – Ou esse verão em Fairholme…

Letty deixou escapar um gemido. «Esse verão.» Dançando na pradaria, a beijar-se, a fugir do olhar curioso dos empregados para se esconder na garagem enorme de Fairholme e embaciar as janelas dos carros de coleção do pai durante semanas…

Estivera disposta a dar-lhe tudo.

Era Darius que queria esperar pelo casamento para consumar o seu amor.

– Só quando fores a minha esposa – sussurrara, enquanto se abraçavam, seminus, ofegando de desejo no banco traseiro de uma limusina. – Só quando fores minha para sempre.

O «para sempre» nunca chegara. O seu romance era ilícito, proibido. Ela tinha apenas dezoito anos e era a filha do patrão. Darius, que tinha mais seis anos, era filho do motorista do pai, que se zangara como nunca ao descobrir o romance. Furioso, ordenara que Darius saísse da propriedade e, durante uma semana horrível, tinham estado separados. E, então, Darius ligara-lhe.

– Vamos fugir – propusera. – Conseguirei um trabalho para seguirmos em frente. Arrendaremos um estúdio na cidade… Qualquer coisa serve, desde que estejamos juntos.

Letty receava que isso arruinasse o seu sonho de fazer fortuna, mas não fora capaz de resistir. Ambos sabiam que não poderiam casar-se porque o pai o evitaria, de modo que planearam fugir para as cataratas do Niágara.

Nessa noite, Darius esperara por ela à frente do portão de Fairholme, mas Letty não aparecera.

Não retribuíra nenhuma das suas chamadas frenéticas e, no dia seguinte, convencera o pai a despedir Eugenios Kyrillos, que fora o seu motorista durante vinte anos.

Mesmo então, recusando-se a aceitar o fim, continuara a ligar até Letty lhe enviar uma mensagem fria.

 

 

«Só estava a usar-te para conseguir a atenção de outro homem. É rico e pode dar-me a vida de luxo que mereço. Estamos noivos. Achavas mesmo que alguém como eu conseguiria viver num estúdio minúsculo com alguém como tu?»

 

 

Com essa mensagem, conseguira o seu objetivo.

Mas era mentira. Não havia nenhum outro homem. Com vinte e oito anos, Letty continuava a ser virgem.

Durante todos esses anos, prometera-se que Darius nunca saberia a verdade. Não saberia que se sacrificara para que ele pudesse cumprir os seus sonhos sem se sentir culpado ou ter medo. Ainda que, desse modo, tivesse conquistado o seu ódio.

Porém, Darius devia ter descoberto a verdade. Era a única explicação possível.

– Então, sabes porque te traí há dez anos? – perguntou, incapaz de olhar para ele nos olhos. – Perdoaste-me?

– Isso já não importa – declarou ele, num tom rouco. – Agora, estás aqui.

O coração de Letty acelerou ao ver o brilho de ansiedade dos seus olhos.

– Não podes continuar… a desejar-me.

– Enganas-te. – Darius, num gesto incrivelmente erótico, tirou-lhe a mala e o casaco e atirou-os para o chão de mármore. – Desejava-te então – afirmou, segurando a cara dela –, e continuo a desejar-te agora.

Letty, involuntariamente, passou a língua pelos lábios e o olhar de Darius fixou-se na sua boca.

Enredando os dedos no seu cabelo, desfez o rabo de cavalo e deixou o cabelo comprido cair por cima dos seus ombros.

Era muito mais alto do que ela, mais forte em todos os sentidos, e Letty sentiu um nó no estômago, como se tivesse dezoito anos outra vez. Estando com ele, a angústia e a dor dos últimos dez anos desapareciam como se tivessem sido um pesadelo.

– Tive tantas saudades… – murmurou Darius. – Só sonho contigo…

Quando pôs um dedo nos seus lábios, o contacto causou uma descarga que viajou desde a sua boca até aos seus seios. Saltavam faíscas entre eles nas águas-furtadas escuras.

Apertando-a contra ele, Darius inclinou a cabeça.

O beijo era dominante e o toque da barba masculina arranhava a pele delicada, mas Letty retribuiu o beijo com um desejo impaciente.

Um gemido rouco escapou da garganta masculina enquanto a empurrava contra a parede e, com uma mão, desabotoava os botões do uniforme. Letty fechou os olhos quando descobriu o conjunto humilde de sutiã e cuecas brancas.

– És linda – sussurrou, enquanto desabotoava o sutiã, que caiu ao chão. Baixando-se à frente dela, tirou-lhe os sapatos brancos. Estava quase nua, de pé à frente da janela.

Darius endireitou-se para a beijar. Apoderou-se da boca dela como se quisesse marcá-la e, quase sem se aperceber, Letty começou a desabotoar a camisa para tocar na sua pele. Acariciou o seu peito coberto de pelo escuro, tremendo. Era como aço embrulhado em cetim, duro e suave ao mesmo tempo.

Precisava desesperadamente de se apertar contra ele, de o sentir. Queria perder-se nele…