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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Katherine Garbera

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Ilusão de amor, n.º 472 - novembro 2018

Título original: The Tycoon’s Temptation

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-302-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

– Já pode entrar.

Lily Stone pegou na agenda e seguiu a secretária até ao escritório de Preston Dexter. A meados de Agosto, em Nova Orleães, fazia um sol invejável e Lily teria preferido estar na rua, a bronzear-se, do que ali, de pé, naquele departamento com agradável ar acondicionado.

Tinha perdido dois dias na tentativa de se reunir com Dexter e estava decidida a passar toda a tarde naquele departamento, caso fosse necessário, só para o ver.

Os saltos altos enterraram-se no grosso tapete quando entrou no escritório do director geral da Dexter Resorts, uma empresa de hotelaria internacional. A sala estava decorada com luxo, com móveis de cromo e cristal. Um escritório enorme desenhado para intimidar quem quer que fosse.

Funcionou. Com a sensação de levar uma mala de chumbo e não de couro, Lily avançou até à mesa, batendo desajeitadamente com a perna. Dirigia o negócio de família desde que tinha vinte anos, mas, de improviso, tinha a sensação de se encontrar perante o seu primeiro cliente importante. Tinha vestido o melhor fato, um conjunto vermelho e preto com o qual, segundo o seu ajudante, Mae, projectava uma imagem de eficiência e profissionalismo.

Preston Dexter levantou-se para cumprimentá-la. Estendeu a mão e deu-lhe um valente apertão. Lily sentiu o calor dos seus dedos fortes, compridos e cuidados, que colocaram em evidência quão pequena e frágil era a sua própria mão. Quão pequena e frágil que se sentia «ela».

Dexter cheirava a água-de-colónia cara, mas também a algo puramente masculino, à semelhança dos seus irmãos mais novos. A ideia ajudou-a a relaxar. Não importava que aquele magnata pudesse comprar-lhe a casa e o negócio com alguns trocos. Era um homem como Dash e Beau.

Excepto por algo indefinível que o diferenciava dos irmãos. Lily contemplou os seus olhos cinzentos por um momento. Neles percebia-se uma atitude fria e calculista, um cinismo e um fastio que Dash e Bean não possuíam.

– Senhora Stone, sente-se, por favor. Lamento tê-la feito esperar.

Lily duvidava que o lamentasse de verdade. Seguramente, o que lamentava era que ela tivesse passado a tarde sentada na recepção, mas acabariam por ter problemas se não falassem, cara a cara, o quanto antes. Dexter tinha rejeitado três propostas de decoração para os quartos de hóspedes de White Willow House e Lily estava a ficar sem tempo. O hotel seria inaugurado a um de Janeiro e tinha que tomar decisões. Procurar e reproduzir móveis antigos para o estabelecimento. A sua loja de antiguidades, a Viagem Sentimental, proporcionava mobiliário a muitas das mansões mais antigas do Luisiana.

– Não se preocupe.

Há muito tempo que dizia a mesma coisa e nunca a tinha perturbado tanto uma pessoa, em particular, um homem. Mas os olhos cinzentos de Dexter enfeitiçavam-na. Ali, naquelas profundezas gélidas, havia algo que despertava a sua ternura, tal como acontecia com os seus irmãos quando uma namorada lhes dava uma negativa.

Dexter vestia um fato Armani como se tivesse nascido nele, ao contrário dos homens com quem Lily se relacionava, homens da classe trabalhadora, de mãos com calos e unhas sujas, e calças de ganga.

– Em que posso ajudá-la, senhora Stone? – recostou-se no seu cadeirão de executivo e uniu as pontas dos dedos de ambas as mãos, enquanto aguardava uma resposta.

Tinha uns lábios duros e Lily interrogou-se se seriam igualmente firmes ao beijar. Sentiu um formigueiro de desejo por todo o corpo e os seus seios contraíram-se por baixo blusa que trazia sob o casaco do fato. As pulsações aceleraram-se e mudou de posição no cadeirão.

Maldição! Que mosca lhe tinha mordido? Estava numa entrevista de trabalho e tinha-lhe custado mais de uma semana a consegui-la. Fez um esforço para recordar as frases que tinha preparado, inspirou fundo e tentou não pensar no desejo que lhe alterava a pulsação.

– Obrigada por me receber esta tarde, senhor Dexter. Como disse ao senhor Rohr, gosto de conhecer os donos das casas que decoro.

– Não tem de quê. Não tenho pensado fazer de White Willow House a minha residência, como bem sabe. Será o novo empreendimento hoteleiro da Dexter Resorts.

Lily cruzou as pernas e notou que se abria a abertura da saia. Como se sentia incómoda mostrando as pernas, fechou-a com a mão.

– Sim, o senhor Rohr disse-me. Quer criar um ambiente que se adapte à imagem da empresa. Como rejeitou as duas últimas propostas, achei conveniente que falássemos em pessoa.

– Disponho de quinze minutos para responder a perguntas. Por desgraça, tenho um jantar no outro lado da cidade. Continuo convencido de que a sua empresa fará um excelente trabalho com a decoração.

Lily começou a descontrair-se enquanto começavam a falar de negócios. Dexter era um homem ocupado e mostrava-se um pouco impaciente com ela porque tinha ousado pedir uma reunião com ele. Na realidade, tinha sido generoso em duas ocasiões, mas naquela tarde Lily tinha-se negado a ir-se embora sem o ver. Como director geral da Dexter Resorts, conhecia na perfeição os cantos da empresa e a sua imagem corporativa. Lily necessitava de certa informação que não podia extrair dos relatórios anuais ou dos catálogos. Queria criar algo mais do que um hotel decorado com antiguidades, queria adjudicar uma sensação cálida de lar à antiga mansão.

Cravou o olhar num ponto por cima do ombro de Dexter para não se distrair com a falha da sua barbicha, nem com aquele olhar penetrante que parecia despi-la.

– Gosto de incutir às casas a personalidade da família ou da empresa.

– Então, estarei encantado em ajudá-la. Impressionou-me o seu trabalho na mansão Seashore, em Milton Head – Dexter sorria-lhe com o tipo de encanto que costumava irritá-la. Tinha carisma. Não o das estrelas de Hollywood, que eram só brilho e nada de substância, mas o de um homem repleto de energia e entusiasmo pelo seu negócio. Parecia mais importante do que Lily se tinha sentido alguma vez.

– Como sabe que decorei a Seashore? – perguntou. Tinha-o feito como um favor a uma amiga da universidade e ao seu marido, quando ainda eram recém-casados. Tinha sido a sua primeira responsabilidade comercial.

Dexter entreabriu os olhos e baixou o olhar até aos lábios de Lily. Qual seria o problema? Maldição, talvez tivesse manchado os dentes com o batom! Que rica primeira impressão profissional estava a dar!

– Os proprietários são meus amigos – declarou.

Lily passou a ponta da língua pelos dentes com a esperança de limpar o que pudesse estar a chamar a atenção de Dexter. Conheceria Kelly ou o seu marido?

– Estive mês e meio a falar com Brit e Kelly antes de pôr mãos à obra. Mas você é um homem muito ocupado.

Lily tirou a sua agenda da mala e começou a escrever notas. O livrinho fazia-a sentir-se invencível. Era uma ferramenta importante para organizar o trabalho e tinha escrito a palavra «relaxa», junto à data. Sorriu ao lê-la. Também tinha elaborado uma lista de perguntas, imaginando que não dispunha dos trinta minutos que tinha solicitado.

– Bem, o que gostaria de saber sobre a Dexter Resorts? A empresa foi fundada pela minha família no início dos anos vinte e, desde então, tem vindo sempre a crescer.

– Li o relatório anual e os seus catálogos. Fale-me de si e do que mais lhe agrada quando se aloja num hotel.

Dexter semicerrou os olhos. Os dela tinham-se adaptado por fim à luz do sol e podiam distinguir os detalhes do seu rosto. Tinha o queixo quadrado. Se não se sentisse segura de si própria e do seu trabalho, Lily teria fugido ao vê-lo.

– O que têm a ver os meus gostos com o aspecto do hotel e dos quartos?

Lily fez uma pausa deliberada. Era evidente que Dexter estava acostumado a que as pessoas dançassem ao som da sua música. Claro que ela também.

– Assim posso reduzir a minha lista de opções.

– Compre o que Rohr lhe indicar – declarou ele com voz gélida.

– Se a única coisa que quer é um inventário de antiguidades, senhor Dexter, talvez deva procurar outra decoradora.

– Quero a mesma qualidade que se aprecia na mansão Seashore.

– Então – replicou Lily, sorrindo, – necessitarei de algumas respostas.

– Fez a Brit todas essas perguntas? – inquiriu Dexter, encolhendo com calma uma sobrancelha. – De modo que conhecia Brit e não Kelly.

– Não, fi-las a Kelly. Você é casado? – a pergunta pessoal apanhou-o de surpresa, porque se recostou no cadeirão e manteve-se em silêncio durante um minuto.

– Não.

Lily fez um rascunho na página em branco da sua agenda. Como podia ter feito esta pergunta?

– Sinto muito. Não devia imiscuir-me na sua vida pessoal.

– Não se preocupe – disse Dexter. – Eu forcei-a. Porque é que não se amedrontou?

Pela primeira vez desde que tinha começado a falar, Lily olhou-o nos olhos. A altivez tinha sido substituída por um brilho de interesse claramente masculino.

– Tinha-se amedrontado você? – Lily deu a volta à questão. Tinha a intuição de que, se cometesse o erro de dar vantagem a Preston Dexter, este não deixaria de a manipular.

– Não, mas estou acostumado a que as pessoas me satisfaçam.

– Eu também – repôs Lily, incapaz de dissimular o gozo que impregnava a sua voz.

Dexter riu e, durante uns instantes, deixou de parecer ameaçador. No seu rosto reflectiu-se um ápice de humor e vulnerabilidade. Lily sorriu para si, consciente de que tinha criado o tipo de vínculo que sempre procurava com os seus clientes. O sorriso ajudava a gerar confiança.

– Onde aprendeu a dar ordens? – inquiriu Dexter.

– Criei dois irmãos mais novos que dominavam todos os que não eram capazes de lhes fazerem frente.

Lily adivinhou que queria fazer-lhe mais perguntas sobre o seu passado, mal ele reprimiu a sua curiosidade. Começou a explicar as suas preferências num hotel de férias. Era um homem refinado, mas de gostos simples.

– Detesto sentir-me como num museu no qual não se pode tocar em nada – afirmou, – e ter medo de me sentar numa cadeira de aspecto frágil, caso esta se parta.

Lily começou a sentir afecto por aquele homem frio, duro e distinto. Assustou-se, porque Dexter parecia a aventura da sua vida, e ela não era uma mulher aventureira.

 

 

Preston não costumava ceder aos caprichos das decoradoras que exigiam falar com ele em pessoa. Preferia que Jay Rohr, um dos seus vice-presidentes, se ocupasse disso. Confiava na opinião de Jay, porque lhe pagava a peso de ouro. Uma das lições que aprendeu no colo da sua mãe foi que uma pessoa consegue sempre aquilo por que paga.

Quando Jay lhe pediu que recebesse a decoradora, sentiu-se incomodado, mas acedeu e arreganhou os dentes. Agora que a conhecia, alegrava-se de tê-la satisfeito. Tinha-a imaginado exigente e ambiciosa e capaz de manipular um dos seus executivos para que acedesse a algo a que Jay não acederia, em circunstâncias normais.

O que não tinha imaginado era que se sentiria atraído por ela. Todas as decoradoras que tinha conhecido nas concorridas inaugurações dos seus hotéis tinham sido mulheres maduras e adornadas. Aquela Lily Stone irradiava uma frescura que, para ele, era uma novidade. Sim, ia arranjada, mas havia algo nela que não encaixava com as mulheres elegantes que tinha conhecido.

As suas pernas longas e sedutoras faziam-no pensar em tórridas tardes na cama, o que era de todo inaceitável numa entrevista de trabalho. Encantava-lhe que não fizesse mais do que tirar o casaco para tentar agradar-lhe.

Ao entrar no departamento, tinha projectado uma imagem de profissionalismo, mas ia unida a uma bondade que não costumava encontrar-se no mundo dos grandes negócios. Preston decidiu fazer averiguações sobre a sua empresa. Quais tinham sido as suas origens?

Ao apertar-lhe a mão tinha sentido a sua pele lisa e suave. Eram mãos de mulher, de unhas cortadas. Preston torturava-se imaginando o toque da sua pele. Notou a tensão entre as pernas e mudou subtilmente de posição no seu amplo cadeirão de couro.

Não devia deixar-se afectar tanto por aquela mulher, pensou, mas Lily Stone intrigava-o.

O seu escritório deveria tê-la intimidado. Tinha visto hábeis profissionais a perderem a calma ao entrarem nos seus domínios. Esse era o efeito que Preston procurava, para poder desfrutar de uma certa vantagem em qualquer reunião que celebrasse no seu terreno.

Mas o seu escritório não tinha impressionado Lily Stone. Tinha-o demonstrado mantendo-se firme com ele e Preston sentia o desejo de colocá-la, novamente, à prova.

Gostava da sua coragem e da sua serenidade e do brilho dos seus olhos azuis quando o desafiava. Tinha abordado terrenos pessoais como nenhum dos seus empregados se atrevia a fazer, uma vez que lhes pagava os salários e não podiam dar-se ao luxo de enfurecê-lo.

Mas a senhora Stone não parecia nervosa. Aquilo deveria tê-lo irritado, mas não era assim. Seguramente porque o seu corpo voluptuoso tinha-o distraído.

Não teria a figura de uma manequim de passerelle, com seios exagerados e sem pernas. Contava, por outro lado, com curvas generosas e o fato que trazia assentava-lhe na cintura na perfeição. Tinha pernas longas e esbeltas envoltas em meias negras. Dexter perguntou-se o que sentiria com elas à volta da sua cintura. O que faria Lily Stone se lhe pedisse que se sentasse na ponta da secretária para poder beijá-la de pé, entre as suas intermináveis pernas?

Seguramente, processava-o por abuso sexual. E com razão. Mas o seu cérebro proporcionava-lhe imagens que não tinha o direito de conceber sobre aquela mulher.

Tinha o nariz levantado e o cabelo ruivo e curto, com um bonito estilo petulante que a favorecia muito. Parecia chegar de outro mundo, um mundo no qual ele não se sentia cómodo, mas que não se importaria de visitar, com ela.

Tinha sentido uma reacção física por Lily desde o momento em que a tinha visto entrar no seu escritório batendo distraidamente com a perna na mala. Os seus movimentos tinham delatado o seu nervosismo, apesar de nem a sua voz, nem a sua postura, nem a sua conversa, o terem deixado vislumbrar. O escritório não a incomodava, mas ele sim. Preston não queria incomodar dessa maneira. Queria torná-la sua.

– Bem, agora tenho uma ideia mais clara do que devo fazer na entrada, nas suites e nos quartos. Não utilizarei o mesmo estilo que em Seashore, mas acredito que os seus hóspedes desfrutarão de um ambiente igualmente cálido – afirmou Lily Stone, enquanto escrevia outra nota na agenda.

– Gostaria de criar a mesma sensação de elegância infindável que tem a mansão Van Benthuysen Elms. Já lá esteve?

– Sim, várias vezes. O que é que gosta nela?

O tom profissional que mantinha fustigava-o. A resposta do seu corpo à sua presença feminina incentivava-o a explorar terrenos pessoais. De repente, alegrava-se de ter aprendido a seduzir observando um verdadeiro mestre: o seu pai.

– Tem tempo para vê-la comigo? É lá que celebro o meu jantar de negócios.

– Agora?

– Sim.

– Deixe-me dar uma olhadela na minha agenda – baixou uma vez mais o olhar em direcção às folhas. – Acho que poderei arranjar um buraco – concluiu com um brilho anti-herói no olhar.