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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Harlequin Books S.A.

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

União de conveniência, n.º 1766 - outubro 2018

Título original: Married for the Greek’s Convenience

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-125-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Se Xander Trakas pensava que a sua semana não poderia piorar, aí estava a derradeira desgraça que faltava para acabar com ele.

O seu advogado americano, um homem muitíssimo ponderado, confirmara que o casamento de Xander com Elizabeth Young estava, de facto, registado em todas as autoridades e jurisdições relevantes. Portanto, não havia evidência da anulação.

Eles ainda eram casados.

Ele esfregou a nuca com força e respirou fundo.

O escândalo global provocado pela Celebrity Spy! continuava eternamente a estragar-lhe a vida. O que começara com uma chamada de capa, relativamente pequena, que prometia revelar os «mais interessantes e mais escandalosos detalhes» sobre os mais cobiçados e libertinos solteiros do mundo, tornara-se o escândalo da década. E pensar que ele nem dera grande importância àquele artigo inicial… Sim, ele era considerado um dos solteiros mais cobiçados do mundo, mas um libertino? Ouvira muitas histórias picantes sobre os seus novos companheiros ao longo dos anos. Comparado com eles, era praticamente virgem.

Era verdade, isso poderia ser um exagero, mas alguns dos seus romances monogâmicos ao longo dos anos não tinham nada a ver com os lendários casos de Dante Mancini, Benjamin Carter ou do xeque Zayn Al-Ghamdi.

Os artigos subsequentes, não apenas na Celebrity Spy!, mas nos tabloides concorrentes e sites por todo o mundo, tinham traçado um retrato dele no qual ele, pura e simplesmente, não se reconhecia. Três das suas ex-namoradas tinham-no apunhalado pelas costas, enchendo de sensacionalismo o que, para ele, tinham sido relações amorosas perfeitamente normais. Meia dúzia de mulheres de que ele mal se lembrava de ter conhecido tinham vendido histórias das suas noites com ele. Era tudo puro lixo.

Estranhamente, a única mulher do seu passado com a qual não se preocupara se venderia a alma por dinheiro era a mulher com quem cometera o erro de casar-se uma década antes.

Bastaria apenas que um repórter mais persistente esmiuçasse os registos civis e o seu casamento estaria ali para que o mundo soubesse. Não demoraria muito até que as pessoas somassem dois mais dois e percebessem que, enquanto a sua rejeitada noiva grega estava de rastos, ele se casara com uma beldade americana, alheio à destruição que deixara para trás.

Nunca falara do seu casamento com Elizabeth. A ninguém. Nem aos pais. Nem aos amigos.

Nunca tinham vivido como marido e mulher. Tinham-se conhecido, casado e seguido caminhos separados após um louco período de lua de mel na ilha paradisíaca de St. Francis.

Mas a separação não incluiu a anulação que Elizabeth jurara que obteria.

A última vez que a vira fora no hotel. Corriam-lhe as lágrimas pelo rosto transtornado.

Teria tomado conhecimento de que a anulação fora negada? A casamenteira dos milionários saberia que ainda era a esposa legal de um multimilionário? Tudo levava a crer que não sabia e, em todos os anos de separação, nunca o contatara.

E ele também nunca a procurara. Apagara o rosto dela da sua mente quase por completo.

Agora, teria de lidar com as coisas com cuidado.

O relatório que encomendara sobre ela revelara uma mulher diferente daquela que conhecera na época. Já não era uma jovem despreocupada de 19 anos que só vivia para sentir o vento no cabelo e o sol no rosto. Ao longo da década que passara desde que se tinham separado, ela construíra uma vida nova e bem-sucedida para si mesma.

O telemóvel vibrou, interrompendo-lhe os pensamentos. Esperando que fosse o seu advogado, a quem ordenara que descobrisse a razão exata da não anulação do casamento, conteve-se a tempo para não premir o botão para aceitar a chamada. Quem estava a ligar era o seu pai, com quem não estava com vontade nenhuma de falar.

Não conseguia enfrentar mais uma discussão. As ligações diárias da Grécia tornavam-se cada vez mais tensas, de ambos os lados. Na noite anterior, a cunhada fora internada com uma intoxicação alcoólica. Diagnóstico: falência do fígado. E o próximo a sofrer deveria ser o seu irmão, a não ser que ele parasse de consumir drogas.

Tudo isto já seria muito para enfrentar, não teriam precisado de suportar também a grande intromissão da imprensa desencadeada pelo escândalo da Celebrity Spy!.

Naquela noite, ele precisava de manter-se calmo e com os pensamentos em ordem. Voltaria cedo para casa na manhã seguinte, mas, para já, tinha o baile anual da gala da Fundação Esperança, a principal obra de beneficência para que contribuía. A imprensa estaria lá em peso. Todos os quatro homens no centro do escândalo estariam sob o mesmo teto pela primeira vez. Todos contribuíam para a fundação e era já evidente que esta estava a sofrer as consequências da sua ligação a eles.

Embora os negócios dos quatro fossem em campos diferentes, tinham sido rivais por anos. Os quatro eram homens fortes, extremamente ricos e com faro para os negócios. Nunca existira nada de amigável nas relações entre eles. Naquela noite, Xander desconfiava de que teriam de encontrar uma maneira de romper o habitual e silencioso antagonismo.

Os quatro estavam a sentir a pressão. Estavam no olho do furacão e, quanto mais depressa o abandonassem, melhor.

Duas semanas depois

Elizabeth Young entrou no seu apartamento em West Village com uma sensação suficientemente real de alívio. Depois de uma semana em Roma, sabia-lhe bem o regresso ao espaço que chamava de lar.

Adorava o seu apartamento, situado no coração do bairro mais antigo de Nova Iorque. Embora não fosse o maior imóvel em redor – ela ganhava muito bem, mas nem tanto –, nunca vivera com tanta alegria em lugar nenhum.

Pela, talvez, décima vez desde que aterrara no aeroporto JFK, verificou o telemóvel. Disse a si mesma que foi a preocupação com Piper o que a levou a verificar o aparelho e não a sombria possibilidade do seu ex-marido a contatar.

Foi o facto de ouvir Piper dizer o nome dele que a deixou tão tensa. A bela australiana estivera a especular abertamente, enchendo-a de perguntas. Elizabeth não a culpava. Se estivesse no lugar de Piper, ela também teria ficado curiosa. Três dos homens envolvidos no escândalo da Celebrity Spy! tinham solicitado os serviços dela e, portanto, era natural que o quarto também os requeresse.

O Dante disse que o Xander também te deverá ligar.

Tinham sido essas as palavras de Piper? Decididamente, fora algo similar, o que forçara Elizabeth a confrontar o que passara quase quinze dias a negar a si mesma.

Benjamin, Zayn e Dante tinham-lhe dito que Xander a recomendara a eles. Ele dera os contatos dela aos três.

Ela não fazia ideia de como o ex-marido sabia como ganhava a vida ou de como obtivera os seus contatos. A Leviathan Solutions era dirigida com o máximo do secretismo e contava apenas com publicidade boca a boca.

Elizabeth assegurou a si mesma que o facto de ele a ter recomendado aos outros homens não queria dizer que também iria requisitar os serviços dela para si mesmo. A situação dele era diferente da dos outros. Há muitas gerações que a Timos SA era propriedade da família Trakas.

A empresa possuía inúmeras linhas de cosméticos e de roupa que eram vendidas em todo o mundo. Os seus clientes não se importavam nada com o escândalo. Não tinham acionistas a quem precisasse de tranquilizar, nem sequer precisava de lidar com o mercado de ações. Xander não precisava de casar-se para preservar uma imagem familiar…

Naqueles primeiros dias difíceis depois de ele a ter deixado, ela vivera como que envolta numa névoa fria e incompreensível. Acordava esperando que tudo fosse um pesadelo e esticava a mão, esperando encontrá-lo ali.

No quarto dia, verificara o telemóvel pela centésima vez, esperando um contato dele. Naquele exato momento, a sua mãe entrara no quarto. Elizabeth desviara o olhar do telemóvel que tinha na mão para a mulher que a criara e, então, por fim, deixara de ver o mundo cor-de-rosa, como sempre fizera durante toda a sua vida.

O romance e o amor eterno eram mitos. Os seus pais eram exemplos vivos dessa verdade e ela seria uma idiota ingénua se continuasse a pensar que, para ela, as coisas seriam diferentes.

Daquele momento em diante, a sua vida mudara. Tudo.

Nos anos subsequentes, recusara-se a pensar no homem que lhe partira o coração. No que lhe dizia respeito, ele não existia. O que resultara durante três anos, até deparar-se com um artigo sobre a nomeação do novo presidente da Timos SA, Xander Trakas. Xander conseguira o que parecera impossível e entrara no mercado americano.

Ao lê-lo, ela descobrira exatamente o quanto ele e a família eram ricos e poderosos: podiam ser comparados à família Onassis. Fora através do artigo que ela ficara a saber a história de Ana Soukis, a namorada de infância dele. Xander e Ana estavam para casar-se, mas ela morrera tragicamente num acidente de carro antes de poderem trocar os votos.

Xander tinha 20 anos quando Ana morrera. A mesma idade que tinha quando se casara com ela, aquele mentiroso e embusteiro.

Ou ele se casara com Elizabeth quando estava noivo de outra mulher, ou quando deveria ter estado de luto pelo amor da sua vida.

Ela queimara o artigo e agradecera aos céus que o mentiroso a tivesse deixado antes que fosse demasiado tarde para obter uma anulação. Ela não teria conseguido lidar com um divórcio.

Por mais que se odiasse a si mesma por fazê-lo, ficou de olho no nome dele ao longo dos anos. Xander nunca voltara a casar-se. E por que razão o faria? Ele tinha as mulheres aos seus pés; mais mulheres do que pensaria possível, a acreditar na Celebrity Spy!

De todos os homens no centro do escândalo, Xander era o menos afetado. Não precisava de arranjar uma esposa.

Não deveria estar a pensar nele, disse para si mesma, contrariada, enquanto entrava na casa de banho e punha a tampa no ralo na banheira. Após um voo de 14 horas, sentia-se suja e completamente desorientada.

 

 

Se Piper não tivesse dito o que dissera, Elizabeth nem sequer estaria a pensar nele.

Determinada a tirá-lo da cabeça, pensou em Piper e desejou de coração poder avisá-la para ficar longe de Dante. Elizabeth não os unira. O casamento de ambos nascera de um encontro de uma noite que resultara numa gravidez. Os serviços de Elizabeth tinham sido solicitados apenas para torná-la uma esposa radiante que parecesse bem ao lado de Dante.

Se lhe tivessem pedido que arranjasse par para Dante, Piper teria sido a última mulher da lista. Era demasiado doce e ingénua para o mundo em que estava a ser metida.

Assim como ela, Elizabeth já fora demasiado doce e ingénua no passado.

Ela despiu-se e entrou na água quente, repleta de espuma. Depois, recostou-se e fechou os olhos.

O telemóvel tocou.

Todo o seu corpo gelou. Incluindo o cérebro. Em seguida, o seu coração disparou, como se exigisse atenção.

Respirando fundo e mantendo os olhos fechados, fez algo que nunca tinha feito antes e ignorou a chamada, deixando esta seguir para o gravador de mensagens.

Uma breve vibração um momento depois informou-a que quem ligara deixara realmente uma mensagem.

Abrindo os olhos, observou o teto branco que ela mesma pintara e desejou que o seu corpo ficasse calmo.

Não era forçoso que tivesse sido ele. Podia ter sido qualquer um. Os seus clientes eram muito ricos e não estavam habituados a esperar por ninguém. A maioria não fazia nem ideia do que era o conceito de espaço ou tempo pessoais dos outros. Para eles, ela era contratada para fazer um trabalho e se quisessem telefonar-lhe às 22h de uma sexta-feira, ela deveria estar disponível para atender a chamada.

Ouviria a mensagem quando terminasse o banho e ligaria de volta para quem quer que fosse. O seu negócio era tudo para ela e algo de que se orgulhava na sua vida. Começara-o do zero e…

O telemóvel voltou a tocar.

Daquela vez, o seu coração ameaçou sair pela boca. Virou a cabeça para olhá-lo. Estava no banquinho onde sempre o colocava, ao alcance da mão. O ecrã faiscava em sincronia com o toque.

Antes de poder fazer um gesto, a chamada voltou a seguir para o gravador de mensagens.

Dez segundos depois, o telemóvel voltou a tocar.

Um fluxo de adrenalina fê-la endireitar as costas. Enxugou as mãos numa toalha próxima e agarrou o telemóvel. Não era um número que reconhecesse.

Com o coração a bater fortemente, atendeu.

– Alô? – lançou, trémula.

– Elizabeth?

Escutar a voz possante de Xander no seu ouvido foi chocante, como se lhe tivessem despejado um balde de gelo em cima. O seu corpo reagiu de acordo, com o telemóvel a escorregar das suas mãos rígidas e indo cair na água entre as suas pernas.

Vinte minutos depois, com a pressão arterial quase a voltar ao normal, o corpo seco e protegido por um roupão felpudo, ela desligou o secador de cabelo, que usara para secar o chip que tirara do telemóvel molhado. Ainda a censurar-se a si mesma pela sua estupidez e esperando que os danos fossem mínimos, inseriu o chip no seu antigo telemóvel, que tirou de uma gaveta.

Foram necessários três minutos de suspense até ela conseguir confirmar que a troca fora bem-sucedida e que todos os seus contatos tinham sido armazenados. Infelizmente, não havia como verificar o número de Xander no velho telemóvel, mas a sua intuição dizia-lhe que não demoraria muito até ele voltar a contatá-la. E, desta vez, estaria preparada.

A sua intuição estava correta.

O antigo telemóvel ainda tinha tudo programado, incluindo o correio eletrónico. Surgiu uma mensagem na caixa de entrada.

«Elizabeth, daqui fala o Xander. Presumo que estejas a ter problemas com o teu telemóvel. Este é o meu número. Liga-me assim que possível.»

O primeiro impulso dela foi explodir em lágrimas, mas, antes que estas pudessem cair, ela foi dominada por uma raiva poderosa e conteve-as.

Portanto, ele queria seguir os passos dos seus companheiros Casanovas e contratá-la.

Que coragem a dele. Que completa falta de sensibilidade.

Para que precisava de uma esposa?

Por mais tentador que fosse enviar-lhe uma resposta zangada por e-mail, dizendo-lhe o que fazer com a sua ordem para ligar-lhe assim que possível, ela conteve-se.

Xander deixara-a dez anos antes. Se fosse rude ou o ignorasse, implicaria que ainda estava zangada com ele, o que, por sua vez, significaria que nunca o esquecera, o que, por si só, era ridículo. Estava apenas cansada e stressada após algumas semanas movimentadas.

E provaria que não tinha nenhum sentimento residual por ele.

Colocando-se à frente do espelho do quarto, contou até trinta e, então, digitou o número. Foi atendida ao primeiro toque.

– Obrigado por me ligares de volta.

O tom formal dele ecoou no ouvido de Elizabeth.

Mantendo o foco no seu reflexo, ela colocou um sorriso no rosto para que a sua completa falta de sentimentos por ele fosse transmitida através do telemóvel.

– Sem problemas. As minhas desculpas por não ter atendido antes. Deixei o telemóvel cair em Roma e, desde então, não funciona muito bem. – A mentira saiu com facilidade e a voz soava tão cordial quanto a queria.

– E a chamada pode cair a qualquer momento?

– Não. Estou em casa e a usar o meu antigo telemóvel.

– Que bom. – Sem uma pausa, ele acrescentou: – Preciso falar contigo pessoalmente.

– Está certo. – Ela disse as palavras para impedir-se a si mesma de gritar-lhe. Ainda a sorrir, perguntou: – Tens uma data específica em mente? – Se pudesse livrar-se daquilo, ela fá-lo-ia, mas a sua empresa, a sua própria reputação, eram construídas com o seu toque pessoal. Impunha a sua própria marca no ramo casamenteiro e era extremamente bem-sucedida. A equipa que contratava era apenas para apoio técnico e religioso.

– Vou viajar até à tua parte do mundo em breve. Estás disponível para nos encontrarmos amanhã?

Xander vivia numa ilha grega. Elizabeth fez alguns cálculos rápidos. Deviam de ser quase 6h lá. A que horas se levantava aquele homem?

Então, lembrou-se dos artigos sobre ele. Provavelmente, ainda não fora para a cama.

Ou estaria a ligar-lhe da sua cama? Estava com uma mulher adormecida ao seu lado naquele exato momento?

– Elizabeth?

A tentar ultrapassar o nó no estômago, ela pensou na sua agenda para o dia seguinte.

– Quando dizes amanhã…?

– Sábado. Devo aterrar por volta das 15h, hora do Leste.

– Amanhã, já tenho um compromisso ao almoço.

– Então, terás a tarde livre. – Foi uma declaração, não uma pergunta e ela ficou em pânico.

– Estou livre no domingo, o dia inteiro. – Ela ficou contente perante a possibilidade de adiar o encontro, ainda que fosse por apenas um dia. – Sabes onde fica o meu escritório?

– Nao será aí o nosso encontro. Preciso que apanhes um voo para o local onde nos vamos encontrar.

Um calafrio subiu pela espinha dela, mas manteve a voz jovial.

– E onde será isso?

– Em St. Francis.

Todo o ar pareceu sair dos pulmões dela e o sorriso dissipou-se do seu rosto.

– Não haverá tempo para levar o meu jato para Nova Iorque para apanhar-te e, assim, reservarei um jato particular para levar-te quando o teu compromisso tiver terminado. Prepara uma mala e mantém o domingo livre para mim.

Elizabeth não conseguia falar. O cérebro estava congelado e os joelhos tremiam tanto, que teve de sentar-se na ponta da cama.

– Há algum problema, Elizabeth? – Houve um quê de desafio no tom formal dele.

Ela cobriu a boca para não o deixar ouvi-la a pigarrear.

– Não há problema algum. Eu irei encontrar-me contigo onde te for mais conveniente.

– St. Francis é o lugar conveniente para mim.

– Sabes que cobro uma taxa extra de 25 por cento nas viagens ao estrangeiro? – Ela esforçou-se para manter a voz inalterada e a respiração tranquila.

– Envia-me uma mensagem com os teus dados bancários e a quantia, e eu pagarei.

Antes que ela pudesse pensar, muito menos proferir quaisquer objeções, Xander disse:

– Está tudo combinado, então. Vemo-nos amanhã.

E a chamada foi cortada.

Elizabeth afastou o telemóvel da orelha e olhou para este como se subitamente o aparelho pudesse mordê-la.

Aquilo acabara realmente de acontecer?

Multimilionários a mostrarem o seu poder não era nenhuma novidade. Estava acostumada aos caprichos deles. Uma vez, chegara a ter uma reunião com um cliente numa luxuosa tenda beduína no deserto do Saara, menos de doze horas depois da sua chamada inicial. Para alcançar o estatuto de multimilionário era necessária uma desumanidade que os meros mortais desconheciam. Não eram pessoas más, mas estavam habituados a terem as coisas à sua maneira e a agirem segundo as suas intenções. O facto de ela se ter habituado a satisfazer os caprichos desta gente era uma das razões para ter conquistado tanto sucesso no mundo deles.

A sua conversa com Xander era uma variação daquelas que tivera dezenas de vezes com outros clientes. Entre eles, não havia nada de especial. Eram dois estranhos que, por acaso, tinham calhado casar no passado e ficado juntos durante um grandioso total de 14 dias. Ele, obviamente, já não tinha quaisquer sentimentos por ela, assim como ela não tinha por ele.

Foi a escolha de St. Francis que a desconcertou.

Entre todos os lugares do mundo, porquê lá? Porquê?

Não podia ser coincidência que o ex-marido tivesse escolhido a exata ilha onde se tinham conhecido, casado e separado, para contratar os serviços dela para lhe arranjar uma nova esposa.

Xander desligou e lançou um profundo suspiro. Foi até à janela e olhou para o Egeu, onde os primeiros raios de sol surgiam no horizonte, entre o céu que ia clareando e o mar ainda escuro.

Foi uma ligação que esperara não ter de fazer. Após a furiosa discussão com os seus pais, que tinha ido até às primeiras horas da manhã, chegara à conclusão de que não tinha escolha.

Pelo bem do seu sobrinho, precisava de uma esposa e precisava de uma agora. Era pura sorte já ter uma.

Tudo o que precisava de fazer era convencer Elizabeth a seguir de acordo com o plano. Depois da maneira como ele terminara as coisas entre ambos, há tantos anos, sabia que tinha uma luta pela frente. Podia lidar com ela. Estava habituado a travar batalhas. Cada dia da sua vida era uma nova batalha.

Ouvira Elizabeth a respirar fundo quando ele mencionara o local do encontro. Mantivera a conversa deliberadamente breve e objetiva para que ela não tivesse tempo de protestar. Não lhe daria tempo, nem hipótese, de rejeitar a sua proposta.

Elizabeth já não era a rapariga pela qual ele se interessara há tantos anos, quando tinha deixado as emoções transparecerem. Ela amadurecera e tornara-se uma mulher discreta, profissional e com uma mente clara e analítica.

Precisaria dessa mente clara para tomar a decisão correta e aceitar voltar a ser a sua esposa.