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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Jennie Lucas

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Noite de amor no Rio de Janeiro, n.º 1351 - agosto 2018

Título original: Reckless Night in Rio

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-530-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Quem é o pai, Laura?

Com o seu filho de seis meses nos braços, Laura Parker sorria de orgulho e prazer na quinta familiar, que tinha duzentos anos e estava repleta de amigos e vizinhos que tinham ido ao copo-d’água do casamento da sua irmã. Compôs os óculos e olhou com desânimo para a sua irmã mais nova.

«Quem é o pai?»

As pessoas tinham deixado de lhe fazer aquela pergunta, já que Laura se recusava a responder, por isso, começava a acreditar que o escândalo acabara.

– Di-lo-ás alguma vez? – o rosto de Becky reflectia tristeza sob o véu. Com dezanove anos, era uma recém-casada idealista, com sonhos românticos sobre o Bem e o Mal. – Robby merece um pai.

Tentando conter a angústia, Laura beijou o seu filho.

– Já falámos sobre isso.

– Quem é? – gritou a sua irmã. – Tens vergonha dele? Porque não me dizes?

– Becky! – Laura olhou, inquieta, para os convidados. – Já te disse que... – inspirou profundamente, – não sei quem é.

A sua irmã olhou-a com olhos chorosos.

– Estás a mentir. É impossível que tenhas ido para a cama com qualquer um. Foste tu quem me convenceu a esperar pelo amor verdadeiro.

Quem estava mais perto delas tinha deixado de fingir que conversava e tentava ouvir o que as irmãs diziam. A família e os amigos passeavam pelas divisões da quinta, fazendo ranger o chão de madeira, enquanto os vizinhos estavam sentados em cadeiras desdobráveis junto das paredes e comiam de pratos de papel que seguravam no colo.

Laura abraçou a criança com mais força.

– Becky, por favor... – sussurrou.

– Abandonou-te. E não é justo!

– Becky – a sua mãe apareceu de repente, – acho que não conheces a bisavó Gertrude, que veio de Inglaterra. Queres ir cumprimentá-la? Acho que também quererá conhecer Robby – acrescentou, enquanto tirava a criança dos braços de Laura.

– Obrigada – sussurrou-lhe ela.

Ruth Parker respondeu-lhe com um sorriso amoroso e um piscar de olho, antes de levar a sua filha e o seu neto. Laura observou-os a afastarem-se, com o coração cheio de amor. Ruth usava o melhor vestido que tinha, mas já tinha o cabelo grisalho e o corpo curvado ligeiramente. E, no último ano, tornara-se mais frágil.

Laura sentiu um nó na garganta. Acreditara que esqueceria o escândalo que implicara a sua gravidez ao voltar para a sua vila, no norte de New Hampshire, sem emprego e sem respostas. Mas conseguiria superá-lo a sua família? E ela?

Três semanas depois de partir do Rio de Janeiro, descobrira que estava grávida. O seu pai exigira-lhe que dissesse quem era o pai. Laura receara que fosse procurar Gabriel Santos com um ultimato ou, pior ainda, com uma espingarda. Portanto, mentira e dissera que não sabia. Dissera que a sua estadia no Rio de Janeiro fora um bacanal, quando, na verdade, só tivera um amante em toda a sua vida e durante uma única noite.

Uma noite maravilhosa.

«Preciso de ti, Laura.» Continuava a sentir a violência do abraço do seu chefe enquanto a deitava na secretária, afastando os papéis e atirando o computador ao chão. Ao fim de mais de um ano, continuava a sentir o calor do corpo dele, o toque dos lábios no seu pescoço e os beijos brutais na sua pele. A lembrança de como Gabriel Santos lhe arrebatara a virgindade continuava a invadir os seus sonhos todas as noites.

E a lembrança do que tinha acontecido depois ainda lhe doía. Na manhã a seguir a seduzi-la, ela dissera-lhe, entre lágrimas, que não tinha outro remédio senão deixar o emprego e ele limitara-se a encolher os ombros.

– Boa sorte – dissera-lhe. – Espero que encontres o que procuras.

Fora só isso, depois de cinco anos de amor e dedicação. Tinha amado o seu chefe de forma estúpida e sem esperança. Não o via há quinze meses, mas não conseguia esquecê-lo, por muito que tentasse. Como poderia fazê-lo quando o seu filho tinha os mesmos olhos escuros?

As lágrimas que tinha vertido uma hora antes na igreja não tinham sido só de felicidade por Becky. Amara um homem com todo o seu coração, sem se ver correspondida. E, às vezes, ainda imaginava que ouvia a voz profunda dele a dirigir-se a ela, unicamente a ela.

«Laura.»

Tal como naquele momento. Recordá-la era torná-la realidade. O seu som chegou-lhe ao coração como se ele estivesse atrás dela, a sussurrar-lhe ao ouvido.

«Laura.»

Sentia-a muito perto.

Muito perto.

Tremeram-lhe as mãos ao pousar o copo de champanhe barato. A falta de sono estava a provocar-lhe alucinações. Tinha de ser isso. Não podia ser...

Inspirou profundamente e virou-se.

Gabriel Santos estava à frente dela. No meio da sala lotada, sobressaía em relação ao resto dos homens presentes. E estava mais bonito do que nunca. Mas não era só o seu queixo cinzelado, nem o fato italiano caro que o faziam sobressair. Nem a sua altura ou a largura dos ombros.

Era a intensidade desumana dos seus olhos pretos.

Laura sentiu um calafrio.

– Gabriel... – sussurrou.

– Olá, Laura.

Ela engoliu em seco, enquanto cravava as unhas nas palmas das mãos para acordar daquele pesadelo.

– Não é possível que estejas aqui.

– Mas estou, Laura.

Ela tremeu ao ouvi-lo a dizer o seu nome. Não lhe parecia adequado que estivesse ali, na sala da casa familiar, rodeados de amigos que comiam o que eles mesmos tinham trazido.

Gabriel Santos, de trinta e oito anos, possuía um complexo internacional de empresas que compravam e enviavam aço e madeira para todo o mundo. Dedicava a sua vida aos negócios, aos desportos radicais e às mulheres bonitas. Sobretudo a elas.

Então, o que fazia ali? A não ser que...

Viu pelo canto do olho que a sua mãe desaparecia no hall com a criança.

Cruzou os braços para que não lhe tremessem as mãos. Portanto, Gabriel estava na quinta Greenhill. Não era complicado encontrá-la ali. Os Parker viviam na quinta há duzentos anos. Que o seu chefe estivesse ali não implicava que soubesse da existência de Robby.

– Não te alegra veres-me?

– Claro que não! – respondeu-lhe ela. – Lembra-te de que já não sou tua secretária. Portanto, se fizeste milhares de quilómetros porque precisas que volte para o Rio de Janeiro para te coser um botão ou preparar-te um café...

– Não vim por isso – os seus olhos brilhavam. Olhou para a sala, decorada com balões cor-de-rosa e corações de papel vermelho nas paredes. – O que estão a celebrar?

– Um casamento.

Ele aproximou-se mais, fazendo ranger o chão de madeira. Laura pensou que era muito bonito. Esquecera como era atraente. Os seus sonhos não lhe faziam justiça. Dava-se conta da razão pela qual mulheres de todo o mundo o perseguiam e acabavam desesperadas.

– E quem é a noiva?

Surpreendeu-a a dureza da sua voz.

– Becky, a minha irmã mais nova.

– Ah... – relaxou os ombros de maneira quase imperceptível. – Becky? Mas é apenas uma menina!

– E eu que o diga! Achavas que era eu?

Olharam-se fixamente.

– É claro que achava que eras tu.

A ideia de sair com outro homem, e ainda mais a de se casar, fez com que Laura reprimisse uma gargalhada. Alisou o vestido de dama de honor com mãos trémulas.

– Não.

– Portanto, não há ninguém importante na tua vida? – perguntou ele em tom despreocupado.

Havia alguém importante. Tinha de tirar Gabriel dali antes que visse Robby.

– Não tens o direito de me perguntar isso.

– Não. Mas não usas aliança.

– Está bem – disse ela, enquanto olhava para a ponta dos pés. – Não sou casada.

Não tinha de perguntar se Gabriel era, porque já sabia a resposta. Quantas vezes lhe dissera que nunca teria uma esposa?

«Não fui feito para o amor, querida. Nunca terei uma mulherzinha que me prepare o jantar numa casa confortável, enquanto leio histórias aos nossos filhos.»

Gabriel aproximou-se ainda mais, até quase lhe tocar. Ela apercebeu-se de que as pessoas murmuravam, perguntando-se quem seria aquele desconhecido tão bonito e bem vestido. Sabia que tinha de lhe dizer que partisse, mas sentia-se impedida pela força do seu corpo, tão perto do dela. Olhou-lhe para os pulsos que saíam pelos punhos da camisa e tremeu ao recordar o seu corpo sobre o dela, a carícia dos seus dedos...

– Laura...

Levantou o olhar e percorreu o seu corpo musculado, os ombros largos e o pescoço, e parou na sua cara, de uma beleza brutal. Viu-lhe na têmpora a cicatriz de um acidente em criança. Viu o homem que sempre desejaria, que não deixara de desejar.

Os olhos dele queimavam-na por dentro e as lembranças invadiram-na. Sentiu-se vulnerável, quase indefesa sob o fogo do seu olhar.

– Alegra-me voltar a ver-te – afirmou ele em voz baixa. E sorriu.

A beleza masculina da sua cara deixou-a sem fôlego. Os quinze meses afastados tinham aumentado a sua beleza, enquanto ela...

Há um ano que não ia a um salão de beleza. Há séculos que não cortava o cabelo e a única maquilhagem que usava era um batom cor-de-rosa e pouco favorecedor que pusera perante a insistência da sua irmã. O cabelo loiro fora apanhado num coque antes da cerimónia, mas os puxões de Robby tinham-no desfeito.

Laura já se desvalorizava na sua infância e, desde que se tornara mãe solteira, a sua auto-estima era inexistente. Tomar banho e fazer um rabo-de-cavalo era o máximo que fazia. E ainda não tinha perdido o peso ganho na gravidez.

– Porque estás a olhar para mim?

– És mais bonita do que recordava.

Laura corou.

– Não mintas.

– É verdade.

Os seus olhos abrasavam-na. Olhava para ela, não como se pensasse que era uma mulher banal, mas como se...

Como se...

Ele desviou o olhar e ela libertou o ar que estivera a conter.

– Portanto, estão a celebrar o casamento de Becky? – olhou à sua volta, com ar de desaprovação.

Laura achava que a sua casa era bonita, inclusive romântica para um casamento campestre. Tinham-na limpado e arrumado, mas, ao seguir o olhar masculino, de repente viu como tudo era tão pobre.

Sentira-se orgulhosa do quanto tinha conseguido com um orçamento tão baixo. As flores eram muito caras, portanto, tinha feito corações de papel para os pôr na parede e comprara balões e serpentinas. Tinha decorado a casa durante a noite, enquanto esperava que o bolo arrefecesse. Para o jantar, a sua mãe fizera o famoso frango assado e os amigos e vizinhos tinham trazido saladas e outros pratos. Ela fizera o bolo seguindo uma receita de um livro antigo de cozinha.

Deitara-se ao amanhecer, cansada e feliz. Mas, naquele momento, ao ver o olhar de Gabriel, nada lhe pareceu bonito.

Becky mostrara-se encantada ao ver a decoração e o bolo, e Laura pensara que não poderia ter feito mais quando a família queria um casamento bonito para Becky sem ter um cêntimo para gastar nele.

Como se lhe tivesse lido o pensamento, Gabriel olhou para ela.

– Precisas de dinheiro, Laura?

Ela sentiu que lhe ardiam as faces.

– Não – mentiu. – Estamos bem.

Ele voltou a olhar à sua volta.

– Surpreende-me que o teu pai não tenha podido fazer mais por Becky, embora ande mal de dinheiro.

– O meu pai morreu há quatro meses – sussurrou ela.

Ouviu que Gabriel respirava fundo.

– O quê?

– Teve um enfarte durante a colheita. Só o encontrámos no tractor à hora de jantar, quando não apareceu.

– Lamento, Laura – Gabriel agarrou-lhe a mão.

Sentiu a sua pena e a sua compaixão. E também o calor da sua mão, que tinha desejado durante o ano anterior e os cinco anos precedentes.

Suspirou e largou-lhe a mão.

– Obrigada – disse, tentando conter as lágrimas. Pensava que já tinha superado o luto, mas sentira um nó na garganta ao ver o seu tio a acompanhar Becky até ao altar e a sua mãe sozinha no banco da igreja, lavada em lágrimas. – Foi um Inverno muito longo. Foi tudo abaixo sem ele. A quinta é pequena e seguíamos em frente de ano para ano com muita dificuldade. Como o meu pai já não está cá, o banco não quer prorrogar o empréstimo, nem ceder-nos dinheiro para podermos plantar na Primavera.

– O quê?

Ela levantou o queixo.

– Está tudo bem agora – afirmou, embora tentassem resistir mais uma semana, até que o empréstimo seguinte chegasse. E, depois, rezariam para que o ano seguinte fosse melhor. – Tom, o marido de Becky, viverá aqui e cultivará a terra. Dessa maneira, a minha mãe poderá ficar na sua casa e ser bem tratada.

– E tu?

Laura apertou os lábios. Naquela noite, Robby e ela mudar-se-iam para o quarto da sua mãe, já que não podiam partilhar o de Becky, nem o que as suas outras irmãs, Hattie e Margaret, partilhavam. A sua mãe dissera que adoraria que o neto dormisse no quarto dela, embora tivesse o sono leve. Não era uma situação ideal.

Precisava depressa de um emprego e de um apartamento. Era a primogénita, tinha vinte e sete anos. Deveria estar a ajudar a sua família e não ao contrário. Andava há meses à procura de emprego, mas não havia. Nem sequer por uma fracção do que ganhava a trabalhar para Gabriel.

Mas não ia dizê-lo.

– Ainda não me disseste o que fazes aqui. É evidente que não sabias nada do casamento. Vieste por causa de negócios? A mina Talfax está à venda?

– Não. Continuo a tentar fechar o negócio com a Açoazul, no Brasil. Vim porque não tinha outro remédio.

– Ao que te referes?

– Não adivinhas?

Ela conteve a respiração. O seu pior pesadelo estava prestes a tornar-se realidade.

Gabriel viera por causa da criança.

Depois de todas as vezes que dissera que não queria filhos, depois do que fizera para se certificar de não os ter, tinha descoberto o seu segredo e estava ali para levar Robby. E não o faria porque o quisesse, certamente, mas porque o considerava o dever dele.

– Quero que te vás embora, Gabriel – sussurrou ela, tremendo.

– Não posso.

– O que te trouxe aqui? Um rumor ou...? – humedeceu os lábios com a língua e, de repente, foi incapaz de suportar a tensão. – Pára de brincar comigo, pelo amor de Deus, e diz-me o que queres.

Os seus olhos escuros atravessaram-lhe o coração.

– A ti, Laura – disse em voz baixa. – Vim por ti.