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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Jennie Lucas

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sedução cruel, n.º 1232 - fevereiro 2018

Título original: The Innocent’s Dark Seduction

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-012-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

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Capítulo 1

 

Luzes brancas e brilhantes piscavam sob os tectos decorados com pinturas da grande sala de baile do Hotel Cavanaugh. Todos os famosos de Nova Iorque bebiam champanhe, fabulosos com os seus smokings e vestidos sofisticados para o «baile em branco e preto» celebrado pela ilustre e misteriosa condessa Lia Villani.

– Isto não vai ser tão fácil como pensas – disse o seu velho amigo enquanto se mexiam entre a multidão. – Tu não a conheces: é bela e teimosa.

– É apenas uma mulher – replicou Roark Navarre, penteando o cabelo com a mão e bocejando por causa do jet-lag. – Dar-me-á o que quero.

Arranjou os botões de punho de platina ao mesmo tempo que observava a sala cheia de gente. O seu avô tentara obrigá-lo a viver naquela jaula de ouro. No entanto, ele escapara: passara os últimos quinze anos fora do país, principalmente na Ásia, a construir edifícios enormes.

Nunca teria imaginado que regressaria àquela cidade. Porém, aquele era o maior terreno de Manhattan a sair para o mercado há mais de uma geração. Os cinco arranha-céus que planeava construir seriam o seu legado.

Portanto, enfurecera-se ao ouvir que o conde Villani se adiantara. Felizmente para ele, o ardiloso aristocrata italiano falecera há duas semanas. Então, Roark permitira-se um sorriso irónico. Já só teria de negociar com a jovem viúva do conde. Embora ela parecesse decidida a respeitar o último desejo do seu marido e a usar a maior parte da sua enorme fortuna para criar um parque público em Nova Iorque, a jovem caçadora de fortunas mudaria de opinião em breve.

Ela sucumbiria aos seus desejos, disse Roark para si. Tal como todas as mulheres.

– Provavelmente, nem sequer veio – insistiu Nathan. – Desde que o conde morreu…

– É claro que veio – disse Roark. – Não perderia o seu próprio baile de beneficência.

Contudo, ao ouvir o nome da condessa sussurrado com admiração por todo o lado, Roark perguntou-se pela primeira vez se ela seria um desafio, se ele teria de se esforçar para fazer com que ela acedesse ao seu pedido.

Uma ideia muito intrigante.

– Diz-se que o velho conde morreu na cama dela de tanto prazer – sussurrou Nathan, enquanto atravessavam a multidão. – Dizem que o seu coração não conseguiu suportá-lo.

Roark riu-se com desdém.

– O prazer não tem nada a ver com isso. Esse homem estava doente há meses. O meu coração ficará bem. Acredita em mim.

– Não a conheces. Eu já te avisei.

Nathan Carter limpou o suor da testa. O seu velho amigo do Alasca era o vice-presidente da sua empresa Propriedades Norte-americanas Navarre, S. L. Normalmente, era tranquilo e seguro de si próprio. Roark surpreendia-se por o ver tão nervoso naquele momento.

– Ela organizou este baile para angariar dinheiro para o parque. Porque achas que vai vender-te o terreno?

– Porque conheço as mulheres do seu tipo – resmungou Roark. – Vendeu o seu corpo para se casar com o conde ou não? Ele abandonou este mundo com um acto de caridade grandioso para compensar os seus anos de negócios implacáveis, porém, uma vez morto, ela quererá dinheiro. Talvez ela pareça desejosa de fazer boas acções, mas eu reconheço uma caçadora de fortunas assim que a vejo…

Ficou sem fala ao reparar numa mulher que chegava à sala de baile naquele momento: cabelo preto encaracolado sobre os ombros pálidos e nus; olhos entre verdes e cor de avelã; vestido branco sem mangas que realçava na perfeição a forma voluptuosa do seu corpo. Ela tinha um rosto angélico à excepção de uma coisa: os lábios vermelhos destacavam-se claramente, carnudos e incitantes, como se pedissem o beijo de um homem.

– Quem é? – perguntou Roark emocionado, algo pouco habitual nele.

Nathan sorriu.

– Meu amigo, ela é a viúva.

– A viúva…

Roark voltou a olhar para ela, atónito. Na sua vida, houvera muitas mulheres. Ele seduzira-as facilmente em qualquer lugar do mundo. No entanto, ela era a mulher mais bonita que alguma vez vira: voluptuosa, angélica, travessa. Pela primeira vez na sua vida, ele compreendeu o significado da expressão «bomba sexual».

Talvez os rumores de que o velho conde morrera de prazer fossem verdadeiros.

Engoliu em seco. A condessa Lia Villani não era uma simples mulher: era uma deusa.

Há demasiado tempo que ele não se sentia assim, tão intrigado e excitado por alguém. Ele fora àquela festa para convencer a condessa a vender-lhe o terreno. Uma ideia repentina apareceu na sua mente: se ela aceitasse a sua proposta de lhe vender a terra por uma boa soma de dinheiro, talvez também aceitasse ir para a cama com ele para selar o acordo?

Contudo, ele não era o único homem que a desejava: viu que um homem de cabelo grisalho com um smoking impecável subia as escadas apressadamente na direccão dela. Outros convidados, não tão descarados, observavam-na ao longe. Os lobos espreitavam.

E não era apenas a beleza dela que despertava reacções de todos os presentes: nostalgia nos homens e inveja nas mulheres. Ela irradiava um grande poder na dignidade do seu porte, no olhar frio que lançou ao seu pretendente. Esboçou um sorriso que não se reflectia nos seus olhos.

Os lobos espreitavam? Ela era uma loba. Aquela condessa não era uma virgem fraca nem uma debutante enjoada. Era forte. Mostrava a sua beleza e o seu poder como uma força da Natureza.

O desejo que despertou em Roark foi tão intenso que o incomodou. Com um simples olhar, aquela mulher excitara-o.

À medida que ela descia pelas escadas, com o seu corpo voluptuoso a balançar com cada passo, ele imaginou-a a arquear-se nua por baixo dele, a sussurrar o seu nome com aqueles lábios carnudos enquanto ele se encostava entre os seios e a fazia retorcer-se de prazer.

Aquela mulher que todos os outros homens desejavam, seria dele, disse Roark para si.

Juntamente com o terreno, é claro.

 

 

– Lamento muito a sua perda, condessa – cumprimentou Andrew Oppenheimer muito sério, beijando-lhe a mão.

– Obrigada.

Atordoada, a condessa Lia Villani olhou para aquele homem maduro. Desejou estar novamente na Villa Villani, a chorar a morte do seu marido em silêncio no seu canteiro já descuidado, protegida pelos muros medievais de pedra. Contudo, não tivera escolha: tivera de ir ao baile de beneficência que Giovanni e ela tinham planeado durante os últimos seis meses. Ele quereria que o fizesse.

O parque seria o seu legado, tal como o da família dela: dez hectares de árvores, relva e baloiços em lembrança eterna das pessoas que ela amara. E das quais já não restava nenhuma. Primeiro, o seu pai falecera, depois a sua irmã e a sua mãe. E há pouco tempo, o seu marido. Apesar da noite quente de Verão, Lia sentia o coração frio e paralisado, como se a tivessem enterrado no chão congelado junto da sua família.

– Encontraremos uma forma de a alegrar, espero – disse Andrew, afastando-se ligeiramente, mas ainda a segurar-lhe a mão.

Lia obrigou-se a sorrir. Sabia que ele só tentava ser amável. E era um dos principais benfeitores do fundo para criar o parque. Um dia depois do falecimento de Giovanni, passara-lhe um cheque de cinquenta mil dólares.

Andrew continuava a segurar-lhe a mão sem lhe permitir escapar dele com facilidade.

– Deixe-me trazer-lhe um pouco de champanhe.

– Obrigada, mas não – disse ela, desviando o olhar. – Aprecio a sua amabilidade, mas tenho de cumprimentar o resto dos meus convidados.

A sala de baile estava cheia. Aparecera toda a gente. Lia não conseguia acreditar que o parque Olivia Hawthorne fosse tornar-se uma realidade. Os dez hectares de vias de comboio e armazéns abandonados transformar-se-iam num lugar bonito mesmo do outro lado da rua onde a sua irmã morrera. No futuro, outras crianças internadas no hospital Saint Ann olhariam pelas suas janelas e veriam os baloiços e a grande extensão de relva. Ouviriam o vento ao abanar as árvores e a gargalhada das outras crianças a brincarem. Sentiriam esperança.

O que era a sua própria dor comparada com aquilo?, disse Lia para si.

Afastou-se do homem.

– Tenho de ir.

– Não me permitiria escoltá-la? – pediu ele. – Deixe-me ficar ao seu lado esta noite, condessa. Deixe-me consolá-la na sua dor. Deve ser difícil para si estar aqui. Dê-me a honra de permitir que a escolte e duplicarei a minha doação para o parque, triplicá-la-ei…

– Ela disse que não – interrompeu um homem, num tom grave. – Ela não quer estar consigo.

Lia levantou o olhar e susteve a respiração. Um homem alto e de ombros largos observava-a do fundo das escadas. Tinha o cabelo preto, a pele bronzeada e um corpo musculado sob o seu smoking impecável. E, embora estivesse a falar com Andrew, só olhava para ela.

O brilho daqueles olhos escuros e expressivos, estranhamente, acendeu-a. Transmitiam calor, coisa que ela não sentia há semanas, apesar de ser Junho.

Além disso, aquilo era diferente. Nenhum olhar de homem a afectara assim.

– Conheço-o? – murmurou ela.

Ele sorriu.

– Ainda não.

– Não sei quem é – interveio Andrew, friamente. – Mas a condessa está comigo.

– Podia trazer-me um pouco de champanhe, Andrew? – pediu ela, virando-se para ele com um sorriso radiante. – Far-me-ia esse favor?

– É claro, será um prazer, condessa – respondeu ele e olhou para o estranho. – Mas e ele?

– Por favor, Andrew – repetiu ela, pousando a sua mão no pulso dele. – Tenho muita sede.

– É para já – disse ele, com dignidade, e afastou-se para ir buscar o champanhe.

Lia respirou fundo, fechou os punhos e virou-se para o intruso.

– Tem exactamente um minuto para falar antes de eu avisar a segurança – anunciou, descendo as escadas até o enfrentar. – Conheço a lista de convidados. E o senhor não está nela.

Contudo, quando se viu junto dele, percebeu como era grande e forte. Com o seu metro e setenta, ela não era precisamente baixa, mas ele tinha pelo menos mais quinze centímetros e mais trinta quilos.

E ainda mais poderoso do que o seu corpo era a maneira como o homem olhava para ela. Não desviou o olhar dela. E ela não foi capaz de desviar o olhar daqueles olhos pretos intensos.

– É verdade que não me conhece. Ainda – disse ele, aproximando-se dela com um sorriso arrogante. – Mas vim para lhe dar o que deseja.

Lutando para controlar o calor que invadia o seu corpo, Lia ergueu o queixo.

– E o que acha que desejo?

– Dinheiro, condessa.

– Já tenho dinheiro.

– Vai gastar a maior parte da fortuna do seu falecido marido nesse projecto de beneficência estúpido – indicou ele, com um sorriso. – É uma pena que desperdice assim o dinheiro depois de ter trabalhado tão arduamente para pôr as mãos em cima dele.

Ele estava a insultá-la na sua própria festa e a chamar-lhe caçadora de fortunas! Por mais que isso fosse parcialmente verdade… Ela conteve as lágrimas face ao desprezo da memória de Giovanni e depois olhou para o estranho com tanta altivez como conseguiu.

– Não me conhece. Não sabe nada sobre mim.

– Saberei tudo em breve.

Ele estendeu uma mão e passou o seu dedo pelo queixo dela.

– Em breve, tê-la-ei na minha cama – acrescentou, em voz baixa.

Não era a primeira vez que um homem lhe dizia uma coisa tão ridícula, contudo, daquela vez, Lia não conseguiu desprezar a arrogância daquelas palavras. Não quando o toque daquele dedo sobre a sua pele revolucionara o seu corpo inteiro.

– Eu não estou à venda – declarou ela.

Ele levantou-lhe o queixo.

– Será minha, condessa. Desejar-me-á como eu a desejo.

Ela ouvira falar da atracção sexual, porém, pensava que perdera a sua oportunidade de a sentir. Estava demasiado fria, demasiado embargada pela dor, demasiado… intumescida.

Sentir a mão dele sobre a sua pele fora como um raio de sol quente que começava a partir o gelo do seu corpo e o derretia.

Contra a sua vontade, aproximou-se dele um pouco mais.

– Desejá-lo? Isso é ridículo – disse, num tom rouco e com o coração acelerado. – Nem sequer o conheço.

– Conhecerá.

Ele segurou na sua mão e ela sentiu aquele fogo estranho a espalhar-se por todo o seu corpo.

Ela estava congelada há muito tempo, desde que, em Janeiro, tinham descoberto a doença de Giovanni. Por isso, naquele momento, o calor provocado por aquele estranho foi quase doloroso.

– Quem é o senhor? – murmurou ela.

Lentamente, ele abraçou-a e aproximou o seu rosto do dela até ficar a meros centímetros.

– Sou o homem que vai levá-la para casa esta noite.

Capítulo 2

 

Sentir a mão dele a envolver a dela causou uma explosão interior em Lia. À medida que ele a abraçava, ela sentiu aquelas mãos sobre as suas costas, o toque do smoking elegante contra a sua pele nua, a firmeza daquele corpo contra o seu.

Começou a ofegar. Olhou para ele, confusa com aquela sensação de desejo. Entreabriu os lábios e…

E quis ir-se embora com ele. Fosse para onde fosse.

– Aqui tem o seu champanhe, condessa.

O regresso repentino de Andrew quebrou o feitiço. Franzindo o sobrolho para o estranho, o milionário interpôs-se entre ambos e entregou um copo a Lia. Ela, de repente, percebeu que os outros doadores tentavam chamar a sua atenção: cumprimentavam-na discretamente com a mão ou iam ao seu encontro. Percebeu que trezentas pessoas a observavam e esperavam falar com ela.

Não conseguia acreditar que pensara em fugir com um desconhecido.

Claramente, a tristeza diminuíra a sua sensatez!

– Desculpe – disse, afastando-se do estranho, desesperada para fugir da sua força intoxicante e erguendo o queixo. – Tenho de cumprimentar os meus convidados. As pessoas que eu convidei.

– Não se preocupe – respondeu ele, com um olhar ardente que fez Lia tremer. – Vim acompanhar uma pessoa que convidou.

Aquilo significaria que ele estava ali com outra mulher? E quase a convencera a ir-se embora com ele? Lia fechou os punhos.

– A sua namorada não vai gostar de o ver aqui comigo.

Ele sorriu como um predador.

– Não vim com uma namorada. E ir-me-ei embora consigo.

– Engana-se respeito a disso – replicou ela, desafiante.

– Condessa? Permite-me que a acompanhe para longe deste… indivíduo?

Andrew Oppenheimer esboçou um sorriso ao olhar para o outro homem.

– Obrigada – respondeu ela, dando-lhe o braço e deixando-se levar para perto do resto de convidados.

Contudo, enquanto Lia bebia Don Perignon e fingia sorrir e desfrutar da conversa, conhecendo toda a gente, os seus êxitos e a sua posição em sociedade, não conseguiu ignorar o seu estado de alerta a respeito do estranho. Sem necessidade de olhar à sua volta, ela sentia o olhar dele sobre ela e sabia exactamente onde se encontrava na sala enorme.

Sentia-se embargada por uma tensão estranha e crescente, a sensatez começava a derreter-se como um pedaço de gelo ao sol.

Ela sempre ouvira dizer que o desejo podia ser esmagador e destruidor. Que a paixão podia fazer perder a cabeça. Mas ela nunca o compreendera. Até então.

O seu casamento fora por amizade, não por paixão. Com dezoito anos, casara-se com um amigo da família que respeitava, um homem que se portara bem com ela. Nunca se sentira tentada a traí-lo com outro homem.

Com vinte e oito anos, Lia ainda era virgem. E já aceitara que isso nunca mudaria.

De certa forma, fora uma bênção não sentir nada. Depois de perder todas as pessoas que eram importantes para ela, a única coisa que quisera fora continuar intumescida durante o resto da sua vida.

No entanto, o olhar ardente do estranho fazia com que o seu coração acelerasse e com que se sentisse viva contra a sua vontade.

Ele era bonito, porém, não com a elegância e dignidade de Andrew e dos outros aristocratas de Nova Iorque. Não parecia alguém nascido na riqueza. Na trintena, grande e musculado, tinha o aspecto de um guerreiro. Implacável e até mesmo cruel.

Lia tremeu. Uma ansiedade líquida espalhava-se pelas suas veias, ainda que ela se opusesse com todas as suas forças, dizendo-se que se devia ao cansaço. Que era uma ilusão. Demasiado champanhe, demasiadas lágrimas e pouco sono.

Quando começou o jantar, Lia percebeu que o estranho desaparecera. A emoção intensa que crescera no seu interior desapareceu de repente. Melhor assim, disse para si. Fizera-a perder o seu equilíbrio.

Mas, onde estava? E porque se fora embora?

O jantar acabou e um novo receio embargou-a. O mestre-de-cerimónias, um famoso promotor imobiliário, subiu ao estrado com um maço.

– E agora, a parte mais divertida da noite – anunciou, com um sorriso. – O leilão de que todos estavam à espera. O primeiro lote…

O leilão para angariar fundos começou com uma mala Hermès de pele de crocodilo dos anos sessenta que uma vez fora propriedade da princesa Grace. As ofertas, astronómicas e crescentes, deviam ter agradado a Lia: cada cêntimo doado naquela noite seria usado para construir e manter o parque.

No entanto, conforme se aproximavam do último lote, o seu receio aumentava.

– É uma ideia perfeita – assegurara Giovanni com uma gargalhada fraca, quando o organizador da festa o sugerira.

Do seu leito de morte, Giovanni pousara a sua mão trémula sobre a de Lia.

– Ninguém conseguirá resistir-te, querida. Tens de o fazer.

E embora ela odiasse a ideia, acedera. Porque ele lho pedira. Mas nunca teria imaginado que a doença dele se precipitaria tão depressa para o pior. Ela não esperava ter de enfrentar aquilo sozinha.

Depois de uns brincos de diamantes Cartier se venderem por noventa mil dólares, Lia ouviu o golpe do maço. Foi como a preparação final para a guilhotina.

– E chegámos ao último artigo do leilão – anunciou o mestre-de-cerimónias. – Uma coisa muito especial.