cover.jpg

portadilla.jpg

 

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2014 Annie West

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Apaixonei-me por uma princesa, n.º 1632 - Setembro 2015

Título original: Damaso Claims His Heir

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7087-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Damaso olhou para ela e ficou com falta de ar.

Ele, que tivera mulheres rendidas aos seus pés, antes de ganhar o seu primeiro milhão de dólares...

Quando fora a última vez que uma mulher acelerara o seu coração?

Conhecera divas, duquesas e modelos. Ainda que, ao princípio, tivessem sido turistas e uma dançarina de tango memorável, cujo corpo sinuoso e sensualidade descarada despertara o seu desejo de adolescente. Mas nenhuma o afetara como ela, sem fazer o menor esforço.

Pela primeira vez, estava sozinha, sem se rir, sem um séquito de homens à sua volta. Surpreendeu-se ao vê-la a fotografar flores exóticas, inclinada para o chão, tão concentrada que não ouviu os seus passos a aproximar-se.

Incomodava-o que não reparasse nele, quando não conseguia parar de olhar para ela. Exasperava-o que os seus olhos não parassem de a procurar, enquanto ela se limitava a sorrir, como sorria para todos os outros.

Damaso aproximou-se um pouco mais, intrigado. Não o vira ou estava a tentar chamar a sua atenção? Saberia que preferia ser o caçador e não a presa?

Loiras bonitas era algo banal no seu mundo. No entanto, desde que vira aquele rosto radiante enquanto praticava rafting, sentira algo novo, uma faísca, uma ligação especial.

Seria por causa da energia dela? Por causa do brilho no olhar, enquanto arriscava o pescoço várias vezes nas águas furiosas do rio? Ou por causa daquela gargalhada tão sensual, que parecia tocar diretamente as suas zonas vitais? Talvez fosse a coragem de uma mulher que não se intimidava diante de nenhum desafio, numa excursão planeada para os mais ricos, os mais temerários.

– Finalmente, encontro-te, Marisa. Procurei-te por todo o lado – o jovem Saltram ficou ao seu lado.

Bradley Saltram, um génio da informática que parecia ter dezoito anos, mas que ganhava milhões, era como um cachorrinho grande a salivar à frente de um osso... Embora o osso fosse o traseiro fantástico de Marisa.

Damaso ia dar um passo em frente, mas deteve-se quando ela virou a cabeça. Desse ângulo, via o que Saltram não conseguia ver. Marisa suspirara, como se tivesse de ganhar paciência antes de falar com ele.

– Bradley! Há horas que não te via!

Saltram agarrou-a pelo braço e ela sorriu, coquete.

Damaso teve de cerrar os dentes, para não afastar o jovem com um empurrão.

Com calções e umas botas de montanha, as pernas bem torneadas eram como um banquete para um mendigo faminto. Ao seu nariz chegava um aroma a limão e maçãs verdes...

Como era possível? Estava demasiado longe para sentir o perfume dela.

Ela deixou que Saltram a guiasse pelo caminho escarpado, com a trança comprida a balançar de um lado para o outro.

Durante uma semana, Damaso quisera acariciar aquela cascata de ouro e descobrir se era tão suave como parecia, mas mantivera as distâncias, cansado de lidar com mulheres que queriam mais do que estava disposto a dar.

Contudo, ela não lhe faria pedidos, dizia-lhe uma vozinha interior. Exceto na cama.

A princesa Marisa de Bengaria tinha fama de ser exigente com os amantes. Mimada desde a infância, a viver dos rendimentos, segundo as revistas cor-de-rosa, era temerária, imprudente e longe de ser uma princesa virginal e tímida.

Damaso estava farto de meninas mimadas, mas sabia que Marisa não se colaria a ele. Nem a ninguém.

Seduzia todos os homens do grupo, exceto ele. E era exatamente do que precisava, porque não tinha o menor interesse em virgens. Um pouco de temeridade tornaria uma aventura mais interessante.

Damaso sorriu, enquanto a seguia pelo caminho.

 

 

Marisa virou a cabeça para a cascata de água, agradecendo a sua frescura no meio daquele calor asfixiante. Doíam-lhe as pernas e os braços, mas agarrava-se com força à rocha, sobre a catarata.

Sim, era aquilo que queria. Perder-se no desafio de cada momento. Esquecer-se de...

– Marisa, estou aqui!

Ela virou a cabeça. Bradley Saltram, a alguns metros de distância, olhava para ela com um sorriso de triunfo.

– Conseguiste, fico feliz por ti! – Bradley falara-lhe do seu medo das alturas e aquilo era um triunfo para ele. Claro que usava um arnês de segurança e Juan, o guia, não se afastava dele. – Sabia que conseguias.

Porém, não era fácil olhar para aqueles olhos febris, carregados de emoção e alegria.

Marisa sentiu um aperto no coração. Quando sorria daquele modo, pensava noutro sorriso, tão radiante como o sol. Uns olhos tão claros e brilhantes como um céu do verão, uma alegria tão contagiante que a fazia arder por dentro.

Stefan sempre fora capaz de a fazer esquecer a tristeza com um simples sorriso, uma brincadeira ou uma aventura. Com ele, o mundo infeliz em que estavam presos não era tão difícil de suportar.

Marisa pestanejou, desviando o olhar do jovem americano que não estava consciente da dor que evocava.

Com um nó na garganta do tamanho do palácio real da Bengaria, frio e cinzento, tinha de fazer um esforço para respirar.

«Não, agora não, aqui não». Pensou.

Virou-se para Bradley, tentando esboçar um sorriso.

– Vemo-nos lá em baixo. Eu vou continuar a subir.

Ele disse alguma coisa, mas Marisa não ouviu porque já estava a avançar, à procura de um apoio para os pés na parede de rocha.

Era disso que precisava. De se concentrar no desafio, nas exigências do momento, esquecendo tudo o resto.

Subira mais do que pretendia, mas o ritmo da escalada era tão viciante que não prestou atenção aos gritos de aviso de Juan, o chefe da excursão.

O barulho da água era mais forte ali e a rocha não estava só molhada, como encharcada. No entanto, o barulho da catarata atraía-a, como se pudesse apagar todas as suas emoções.

Um pouco mais acima, estaria no sítio onde, segundo a lenda, um rapaz corajoso se atirara à água num salto impossível.

Deteve-se, tentando conter a tentação. Não de se tornar famosa por um ato de valentia, mas de arriscar a sua vida, de se precipitar para as garras do esquecimento.

Não queria morrer, mas brincar com o perigo era o que fazia ultimamente, para sobreviver. Para acreditar que poderia voltar a ter alegria na sua vida.

O mundo era um lugar cinzento, a dor e a solidão eram insuportáveis. As pessoas diziam que a dor passava com o tempo, mas não acreditava. Tinham-lhe arrancado uma metade, deixando um vazio que nada poderia preencher.

O barulho da água misturava-se com os batimentos rápidos do seu coração. Parecia chamá-la, como Stefan fizera tantas vezes. Quando fechava os olhos, quase conseguia ouvir o seu tom trocista...

«Vá lá, Rissa. Não me digas que tens medo».

Não, não tinha medo de nada, exceto da solidão que a envolvia desde que Stefan morrera.

Sem pensar, começou a subir para uma saliência, levando o seu tempo nas rochas traiçoeiras.

Quase chegara lá quando um ruído a parou.

Marisa virou a cabeça e ali, à sua direita, estava Damaso Pires, o brasileiro que evitara desde que começara a excursão. Algo na forma de olhar para ela, com aqueles olhos escuros e penetrantes, a perturbava, como se visse através do que Stefan costumava chamar a sua «cara de princesa».

Mas havia algo diferente no olhar de Damaso Pires, naquele momento, algo que a fazia pensar no tio, perito em julgar e condenar os outros.

Contudo, ele esboçou um sorriso e Marisa agarrou-se à saliência com todas as suas forças.

Aquele sorriso fazia com que parecesse um homem diferente.

Alto, moreno e lacónico, tinha uma presença formidável, um carisma que chamava a atenção. Marisa vira outras mulheres a suspirar por ele, virtualmente a atirar-se para os seus pés, e também já o observara.

Mas, quando sorria... Experimentava um calor inusitado.

O cabelo escuro e molhado, colado à cabeça, destacava a sua beleza masculina, a sua estrutura óssea fabulosa. As gotas de água que deslizavam pelo queixo sólido até ao pescoço...

Foi então que se apercebeu de que não usava capacete.

Seria isso que Stefan, sempre temerário, faria. Isso explicava a ligação repentina que sentia com ele?

O brasileiro arqueou uma sobrancelha de ébano, apontando para a esquerda.

Juan dissera-lhes que havia uma saliência nessa zona e um caminho que descia até ao vale.

O brilho no olhar parecia chamá-la e Marisa experimentou um calafrio de prazer inesperado, como se reconhecesse uma alma gémea.

Assentindo com a cabeça, começou a subir, agarrando-se à rocha com todas as suas forças. Ele subia atrás dela e cada movimento era preciso, metódico, até que, por fim, teve de fazer um esforço para não olhar para ele. Precisava de toda a sua concentração, esgotada por completo.

Quase chegara ao topo e acabava de se agarrar à saliência na rocha, quando uma mão apareceu à sua frente. Grande, áspera, mas bem cuidada, com marcas de cicatrizes antigas, parecia ser uma mão a que qualquer pessoa poderia agarrar-se.

Marisa levantou a cabeça e, ao encontrar aqueles olhos escuros, sentiu novamente um calafrio, um formigueiro. Damaso Pires ofereceu-lhe a mão, mas hesitou antes de a aceitar, interrogando-se por aquele homem ser tão diferente do resto. Tão... Verdadeiro.

– Aceita a minha mão.

Devia estar habituada a esse sotaque. Passara uma semana desde que chegara à América do Sul, mas a voz aveludada de Damaso e o brilho sedutor do olhar fazia com que algo se encolhesse dentro dela.

Fazendo um esforço para sair daquele torpor estranho, segurou a mão dele e viu que esboçava um sorriso de satisfação. Damaso puxou-a, sem esperar que encontrasse um espaço para apoiar os pés...

Aquela demonstração de masculinidade não devia fazer com que o seu coração acelerasse. Conhecera muitos homens bem treinados, mas nenhum deles a fizera sentir tão feminina e desejável como ele.

Damaso observava-a, enquanto lhe tirava o capacete. A força da água revolvia o seu cabelo encharcado... Devia ter um aspeto horrível, mas não ia arranjá-lo. Em vez disso, observou aquele rosto de bronze, as maçãs do rosto salientes, o nariz comprido, aquilino, a boca firme, séria, e uns olhos que pareciam guardar muitos segredos.

Olhava para ela como se a visse realmente, não como a princesa famosa, mas como a mulher que estava sozinha, perdida.

Nenhum homem olhara para ela assim.

Quando ele cravou os olhos na sua boca, teve de engolir em seco. Não estava preparada para o desejo que a embargou, enquanto inalava o cheiro a suor masculino e algo mais, sabonete talvez.

– Bem-vinda, pequenina. Fico feliz por teres decidido vir comigo.

Marisa olhou para ele, com o queixo erguido. Os olhos, no azul mais puro que alguma vez vira, observavam os dela, sem pestanejar. Damaso excitava-se só de estar perto dela.

Como seria beijá-la?

Essa pergunta causou-lhe uma emoção estranha.

Marisa não se afastou, mas soltou a mão enquanto se virava para admirar a vista. Era uma paisagem fabulosa, a razão por que milhares de pessoas viajavam para aquele continente. No entanto, Damaso suspeitava que era apenas uma desculpa para evitar o seu olhar.

Demasiado tarde. Sabia que ela sentia o mesmo.

Reconhecera o brilho de desejo no seu olhar e não continuariam a evitar-se.

– O que fazias há pouco, na catarata? – a pergunta parecia ser uma acusação, embora não fosse isso que pretendia. Talvez por causa da lembrança do medo que o fizera escalar atrás dela, sem se incomodar em usar capacete.

Havia algo na maneira de ela escalar, uma determinação estranha, como se não se importasse com o perigo. Como se o procurasse.

Porquê?

No brilho do olhar havia uma premonição de perigo...

Damaso tinha instinto para o perigo em todas as suas formas e não gostara do brilho no olhar da princesa.

– Estava a admirar a paisagem – indicou, num tom despreocupado, como se não acabasse de arriscar a vida numa das ravinas mais perigosas do país. – Recordei-me de que Juan tinha falado do rapaz que se atirou à água...

Damaso abrira a boca para lhe recordar como era perigoso, quando viu os músculos tensos do pescoço e a postura rígida. Era como um soldado numa parada militar.

Ou uma princesa a escapar de perguntas impertinentes?

Tinha muito que aprender, se pensava que ia ser assim tão fácil livrar-se dele.

Damaso levantou a mão, para lhe acariciar o cabelo dourado.

Era mais suave do que imaginara.

– A selva parece ser interminável – comentou Marisa, num tom rouco.

Damaso sorriu.

– Podemos demorar dias a percorrê-la, isto se não nos perdermos – murmurou, afastando-lhe uma madeixa de cabelo da testa. A pele era tão suave, que gostaria de a acariciar por todo o lado, aprender aquele corpo pelo toque, antes de o provar com o resto dos sentidos.

Ela levantou a cabeça e Damaso viu-se perdido nuns olhos azuis.

– Conhece bem a selva, senhor Pires?

Parecia o que era, uma princesa a conversar com um cortesão, num tom leve e amável. Mas a camada fria de cortesia só servia para destacar a mulher sensual que era. O facto de ter o cabelo molhado, sem um traço de maquilhagem, como uma mulher que acabara de se levantar da cama, dava-lhe um toque picante.

Ardia só de olhar para ela.

E ela sabia isso. Estava estampado nos seus olhos.

– Vivo na cidade, Alteza. Mas venho para a selva sempre que posso – Damaso tirava um mês de férias por ano e ia sempre para um resort da sua empresa. Desta vez, escolhera algo que estava muito na moda. Férias e aventura.

E tinha a impressão de que a aventura estava prestes a começar.

– Marisa, por favor. Alteza parece ser tão pomposo – indicou, com um brilho de humor no olhar.

– Marisa, então – assentiu. Gostava de como o nome soava, feminino e intrigante. – Eu sou Damaso.

– Não conheço bem a América do Sul, Damaso – a pausa que fez, depois de pronunciar o seu nome, fez com que sentisse um calafrio de antecipação. Seria tão fria e composta, quando a tivesse nua na sua cama? Não, certamente, não. – Ainda tenho de visitar muitas cidades – Marisa estendeu a mão para lhe afastar uma folhinha do pescoço e o toque dos seus dedos deixou-o com falta de ar.

Os olhos dela diziam que o toque fora deliberado.

«Ah, uma sereia».

– O lugar onde nasci não está entre os lugares de interesse turístico.

– Ah, não? Surpreende-me. Ouvi dizer que és uma lenda no mundo dos negócios. Imagino que, mais cedo ou mais tarde, alguém vai pendurar um cartaz a dizer: Damaso Pires nasceu aqui.

Ele tirou-lhe um bocado de erva do cabelo, brincando com ele entre os dedos. Não ia dizer-lhe que ninguém sabia onde nascera ou que nem sequer tivera um teto sobre a cabeça.

– Eu não nasci na riqueza.

Ela fez uma careta e Damaso interrogou-se se teria cometido um erro ao dizer isso. Mas depressa esboçou um sorriso.

– Não digas a ninguém, mas nascer na riqueza não é tão maravilhoso como as pessoas pensam.

Damaso pegou-lhe na mão e ambos ficaram em silêncio. Um silêncio carregado de promessas. Ela não desviou o olhar, nem se mostrou tímida.

– Gosto de como enfrentas os desafios – elogiou ele, antes de franzir o sobrolho. Normalmente, escolhia as suas palavras com cuidado, não falava sem pensar.

– E eu gosto do facto de não te importares com o meu estatuto social.

Damaso acariciou-lhe a mão com o polegar. Gostava que não tentasse fingir desinteresse, porque o equilíbrio delicado acrescentava uma tensão deliciosa ao momento.

– Não é o teu título que me interessa, Marisa.

O nome sabia melhor, cada vez que o pronunciava. Damaso inclinou-se para a frente, mas deteve-se a tempo. Aquele não era o lugar.

– Não sabes como me alegro ao ouvir isso – Marisa pôs-lhe as mãos na camisa e o seu coração enlouqueceu. Era como se o tivesse marcado.

Desejava-a naquele preciso instante e, a julgar pela respiração agitada, ela sentia o mesmo.

Queria possuí-la ali, mas o instinto dizia-lhe que precisaria de mais do que um encontro rápido para satisfazer a sua ansiedade.

Como conseguira resistir durante uma semana?

– Talvez, enquanto descemos, possas dizer-me em que estás interessado, exatamente.

Damaso deu-lhe a mão e, quando Marisa enredou os dedos nos dele, o prazer que experimentou quase lhe pareceu inocente.

Quando fora a última vez que dera a mão a uma mulher?

 

 

Marisa secava o cabelo com uma toalha, olhando para o pátio privado da sua suíte, no resort luxuoso, observando umas borboletas que voavam por entre as folhas de um arbusto.

Devia estar a imaginar como ia capturá-las com a sua máquina fotográfica, mas só conseguia pensar em Damaso Pires, no toque da sua mão enquanto desciam e na sensação de perda quando a soltara, ao encontrar-se com os outros. Em como o seu olhar ardente parecia despi-la.

Era lógico que o tivesse evitado até àquele momento.

Mas desejava-o. Ela, que aprendera a desconfiar do desejo. No entanto, aquilo era algo novo. Com Damaso Pires, sentia um elo especial, quase um reconhecimento, algo que nunca experimentara. Recordava-lhe o que houvera entre Stefan e ela.

Suspirando, abanou a cabeça. A dor invadia os seus pensamentos?

Nem o cansaço, nem o perigo conseguiam apagar a dor. Desde a morte de Stefan, vivia num mundo cinzento... Até Damaso lhe oferecer a mão.

Conseguia fazê-lo? Poderia entregar-se a um estranho? Apesar do que muitas pessoas pensavam, não era a devoradora de homens que a imprensa descrevia.

E então, recordou o que sentira enquanto falava com ele, como os seus corpos pareciam comunicar subtilmente, com uma linguagem tão antiga como o sexo.

Sentira-se feliz, excitada. A sensação horrível de solidão desaparecia, quando estava com ele. Sentira-se viva.

Alguém bateu à porta e Marisa olhou-se ao espelho. Descalça, com o cabelo molhado a cair pelas costas e o rosto livre de maquilhagem, não parecia ser a princesa que era.

Damaso queria a mulher real? Durante um momento de covardia, quis fingir que não ouvira a porta. Arriscara-se com outros homens e fora sempre uma desilusão. Mais do que isso, sentira-se ferida pelo seu egoísmo...

Voltaram a bater à porta e Marisa saltou da cadeira.

Tinha de enfrentar Damaso. Pela primeira vez, em anos, atrevia-se a arriscar. O laço que havia entre eles era tão intenso, tão profundo, que queria confiar nele. Precisava desesperadamente de não estar sozinha.

O coração acelerou, enquanto abria a porta. Damaso enchia a ombreira. Os olhos estavam tão escuros e famintos, que sentiu um nó no estômago.

Sem dizer nada, Damaso entrou no quarto e fechou a porta, sem deixar de olhar para ela nos olhos.

– Querida – a palavra era como uma carícia. Se estava dececionado, por ela não se ter arranjado, não o demonstrava. Antes pelo contrário, havia um brilho de aprovação no olhar. – Não mudaste de opinião?

– E tu? – perguntou, endireitando os ombros.

– Como poderia fazê-lo? – replicou Damaso, exibindo um sorriso mais devastador do que qualquer outro.

E quando inclinou a cabeça, para procurar os seus lábios, o mundo deixou de existir.