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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Christine Rimmer

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma visita inesperada, n.º 35 - Novembro 2014

Título original: A Bravo Christmas Reunion

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5843-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Volta

Capítulo 1

 

Marcus Reid sabia perfeitamente que devia afastar-se de Hayley Bravo. O máximo que pudesse.

Desde que o abandonara e se fora embora de Seattle, Marcus trabalhara mais do que nunca. Levantava-se antes do amanhecer para ir para o ginásio, onde levava o corpo ao limite das suas possibilidades, onde aliviava toda a tensão que acumulava todos os dias, no escritório. À noite, quando não tinha de ficar a trabalhar, tentava manter-se ocupado, ao sair com mulheres. Mulheres bonitas e carinhosas. Mulheres mais elegantes e sofisticadas que Hayley. Mulheres que eram suficientemente sensatas para não lhe pedir o impossível.

Sim. Precisara de meses para esquecer Hayley. Para ser sincero, fora muito mais do que teria esperado. Esquecer Hayley fora uma tarefa tremendamente difícil. Quase tão difícil como enfrentar o abandono da ex-mulher, Adriana.

Contudo, conseguira.

Ou, pelo menos, era o que dizia a si mesmo, várias vezes. Esquecera Hayley. Para sempre. Por completo.

Então, o que fazia à porta do apartamento dela, em Sacramento, naquela noite fria de dezembro?

Como não tinha intenção de responder à pergunta, optou por afastá-la da sua mente, abanando a cabeça.

O condomínio de moradias onde Hayley vivia não tinha nada de especial. As casas erguiam-se à volta de um pátio central. Certamente, tinham um preço médio ou até mesmo baixo. Sem dúvida, Hayley vivia melhor quando trabalhava para ele. Ele próprio se certificara de que assim fosse. Não só auferia um salário generoso, como também tinha um carro de luxo ao seu serviço e uma conta para pagar as despesas, uma gentileza da empresa Kaffe Central. Já para não falar dos presentes que lhe dera…

Agora, estava sozinha. E, provavelmente, teria de se ajustar a um orçamento mais modesto. Marcus não gostava da ideia de ela ser obrigada a economizar. Embora a relação tivesse acabado, havia uma parte dele que continuava a querer cuidar dela.

Viu luz numa janela que havia à esquerda, junto da porta. Através das cortinas, Marcus pôde ver que havia uma árvore de Natal e ouviu também uma música suave. Uma canção de Natal?

Hayley parecia estar totalmente perdida no espírito natalício. O terraço do segundo andar, que transformara numa espécie de pátio, com duas cadeiras de vime e uma mesa de madeira, estava adornado com grinaldas e luzes. Na mesa, havia uma árvore pequena onde tilintavam mais luzes. Marcus ficou pensativo, a observar a decoração, em vez de fazer alguma coisa.

Chegara o momento de dar o próximo passo. Tinha de tocar à campainha ou desaparecer de uma vez.

Respirou fundo, levantou a mão e bateu à porta.

Depois de uns segundos intermináveis, a porta abriu-se finalmente e, aos ouvidos de Marcus, chegou a melodia de uma canção de Natal.

Ela estava ali e a luz que vinha do interior fez brilhar o cabelo ruivo. Aqueles olhos verdes, cinzentos e azuis ao mesmo tempo, encheram-se de surpresa. No rosto dela, desapareceu o sorriso que desenhara naqueles lábios que beijara com tanto deleite.

– Marcus!

A expressão dela não lhe dava muita esperança, antes pelo contrário. Parecia sentir… Dor. E até um certo pânico. Levou a mão à boca e depois… À barriga.

Marcus seguiu o movimento e viu como a mão dela pousava na forma arredondada da barriga. Num gesto protetor. Não conseguia desviar o olhar da mão dela, enquanto tentava assimilar aquilo que via.

Era… Enorme. Era como se tivesse posto uma bola de praia sob a camisola vermelha que usava.

Estava demasiado atónito para mostrar qualquer tipo de cortesia, portanto, limitou-se a fechar a boca e a voltar a abri-la, para fazer uma acusação.

– Estás grávida – ao erguer o olhar, encontrou os olhos dela.

Hayley observava-o com o sobrolho franzido e parecia mais preocupada do que assustada.

– Marcus, estás bem?

– Estou – era mentira. O estômago ardia. Precisava de beber qualquer coisa. Precisava de desfazer o cretino que se atrevera a tocar nela.

Meu Deus! Não podia acreditar que Hayley estava com outro homem. Que ia ter um filho com outro.

Não era possível.

Ao mesmo tempo que pensava que aquilo não podia estar a acontecer, a parte mais racional da sua mente estava consciente de que o seu espanto era ridículo. Porque não podia estar com outro homem? Com alguém que a fizesse feliz, alguém que a amasse, cuidasse dela, quisesse constituir uma família com ela…

A canção de Natal chegou ao fim, mas deu lugar a outra.

– Marcus… – esticou a mão, hesitante. – Entra, por favor, e…

Interrompeu-a e deu um passo atrás, afastando-se para que não conseguisse tocar-lhe.

– Marcus… – olhou para ele com uma expressão parecida com pena.

Sentiu vontade de gritar, de dizer que nunca devia sentir pena dele. Porém, não gritou. Em vez disso, disse aquilo que pensava. Soltou aquela frase só para demonstrar que vê-la grávida de outro homem não o afetava.

– Estou na cidade em trabalho e pensei vir, para ver como estavas…

Ela abraçou-se e olhou para ele fixamente. Agora, parecia estar triste.

– Estou bem.

Marcus esboçou um sorriso.

– Fico feliz. Estavas a jantar?

Ela cerrou os dentes e abanou a cabeça.

– O teu… O teu marido está em casa?

Passou uma eternidade antes de ela responder.

– Não, Marcus.

Esperou que dissesse mais alguma coisa, mantendo o olhar fixo no rosto dela, com muito cuidado para não voltar a olhar para a barriga.

Finalmente, ela respirou fundo e perguntou:

– Bom, vais entrar ou não?

– Sim.

Desviou-se para o deixar passar e fechou a porta. Estavam sozinhos no apartamento.

A casa era pequena. À frente da porta havia um corredor. À direita, havia uma cozinha diminuta, com uma mesa para duas pessoas. À esquerda, era a sala de estar. Era lá que se encontrava a árvore de Natal, que já tinha dois presentes embrulhados. Do móvel da televisão pendiam grinaldas com bolinhas vermelhas e até havia um presépio numa das mesinhas de apoio.

Hayley gostava que o Natal estivesse presente em tudo. No ano anterior…

Não, não ia pensar no ano anterior. Estava acabado, esquecido. Só estava ali para a cumprimentar e desejar que ela, o bebé… E o outro tipo fossem muito felizes.

– Se me deres o casaco… – murmurou ela.

Marcus voltou a afastar-se, para fugir do toque dela

– Não te preocupes. Prefiro manter o casaco vestido.

Deixou cair o braço que estendera para agarrar no casaco.

– Como queiras… – agora, era ela que esboçava um sorriso. – Bom, senta-te – convidou, apontando para o sofá azul que presidia a zona de estar.

Marcus sentou-se, obedientemente.

– Queres beber alguma coisa? – ofereceu, sem se afastar da porta.

Precisava de uma bebida, num momento como aquele, algo que lhe entorpecesse um pouco os sentidos e que lhe toldasse a visão. Algo que o fizesse acreditar que não se importava que Hayley estivesse à espera do filho de outro homem.

– Sim. Obrigado.

– Uma Pepsi?

– Não. Uma bebida alcoólica. Qualquer coisa, menos uísque.

Hayley pestanejou. Sabia o que Marcus pensava do álcool em geral.

– Muito bem. Penso que tenho uma garrafa de vodca em algum lugar. Mas não tenho água tónica, nem nada parecido.

– Não importa. Vodca com gelo serve.

Viu-a a dirigir-se para a cozinha e a desaparecer por um momento. Ouviu o som do gelo. Voltou com um copo numa mão e a garrafa na outra. Verteu a bebida por cima do gelo, tapou a garrafa e voltou para junto dele, precedida pela barriga enorme.

– Obrigado – agradeceu, quando lhe deu o copo. Bebeu de um só gole e esticou a mão. – Outra, por favor.

Abriu a boca para dizer alguma coisa, mas o olhar de Marcus fez com que mudasse de opinião. Apenas suspirou, antes de lhe servir mais uma bebida. Já com o copo na mão, Marcus viu-a a sentar-se numa cadeira, à frente do sofá.

Felizmente, o álcool não cheirava a nada. Considerou a ideia de o beber tão depressa como da primeira vez, mas temeu que voltasse a desejar mais com igual rapidez, portanto, bebeu devagar e agradeceu que tivesse tão pouco sabor e cheiro.

– Como descobriste onde vivo? – quis saber ela, com a cabeça bem erguida.

– Segui a pista – passou-lhe pela cabeça que talvez isso o fizesse parecer um perseguidor, por isso, apressou-se a acrescentar: – Bom, só sei a tua morada e o teu número de telefone… – «não tem nada de obsessivo», pensou. A verdade é que sentia uma certa… Responsabilidade por ela. Por isso, contratara alguém para descobrir a morada e o número de telefone dela.

Mais de uma vez, marcara o número quando sabia que não estaria em casa, só para ouvir a voz dela no atendedor de chamadas e para saber que, se alguma vez precisasse de entrar em contacto com ela, poderia fazê-lo.

– Queria ter a certeza de que estavas bem – acrescentou.

– Bom, como vês… – e estendeu os braços, para apontar para tudo aquilo que a rodeava. O pequeno apartamento, o sofá azul, a árvore de Natal junto da janela, o bebé que esperava e o marido que ainda não estava em casa. – Estou bem.

Devia ter pedido ao investigador para descobrir mais coisas, pois assim teria sabido que havia outro homem e teria sabido da gravidez. Se soubesse, não teria ido vê-la e não estaria ali, naquele momento, a beber vodca e a sentir-se um estúpido.

– O teu marido… – começou por dizer, mas não soube como continuar.

Ela abanou a cabeça.

– Marcus, eu…

– Espera. Agora que penso nisso, não quero saber – bebeu outro gole de vodca, acabando o segundo copo. – Estou a ver que estás bem e fico feliz – e levantou-se para se dirigir para a porta.

– Marcus, espera…

No entanto, ele seguiu em frente, sem se virar. Quatro passos e estava à porta. Quando a abriu, ela insistiu:

– Bolas, Marcus!

Fechou a porta atrás dele, sem fazer caso da voz que o chamava, desceu os degraus das escadas de dois em dois, sentindo um nó na garganta e uma pressão tremenda no peito.

Em menos de um minuto, alcançou o portão de ferro que separava o pequeno jardim da rua e dirigiu-se para o carro que alugara. Pôs a chave na ignição e girou-a.

Contudo, não saiu dali. Limitou-se a deitar a cabeça para trás e olhar em frente, sem ver nada. A única imagem que aparecia à sua frente era a de Hayley, a olhar para ele com aqueles olhos solenes. Hayley a aproximar-se dele com o segundo copo na mão, com aquela barriga enorme.

Não usava aliança.

Endireitou as costas, de repente. Deixara o trabalho em… maio. Tinham passado sete meses.

Recordou a imagem dela, quando lhe abrira a porta, com a mão na barriga. Naquela barriga grande como uma bola.

Marcus não era um perito em gravidez, mas parecia que aquela barriga era de mais de sete meses. Na verdade, parecia estar prestes a dar à luz…

Sentiu um aperto no coração e um nó no estômago, ao mesmo tempo que tudo começava a rodopiar.

Sem aliança. E o marido… Não estava, porque…

Não havia nenhum marido.

Tirou a chave da ignição e saiu do carro. Atravessou o jardim e correu para o portão.

Estava fechado.

Praguejou. Há pouco, tivera a sorte de entrar atrás de um casal que estava demasiado ocupado a beijar-se, para se aperceber de que alguém entrava na urbanização. Porém, dessa vez, não tivera tanta sorte. Ficou ali, a praguejar. Finalmente, carregou no botão da casa de Hayley.

Ela atendeu imediatamente, como se estivesse à espera que somasse dois mais dois.

– Marcus…

– É meu?

Em vez de responder, ela abriu-lhe a porta.

Quando chegou ao cimo das escadas, encontrou-a à espera, com a porta aberta. Já não havia canções de Natal.

– E então? – perguntou, em voz baixa.

Ela assentiu. Muito devagar. Deliberadamente.

– E o teu marido? – continuou a perguntar. Mas ao ver que ela franzia o sobrolho, inquiriu: – Há algum marido?

Ela abanou a cabeça. Não havia marido.

Olhou para ela em silêncio. Não sabia o que dizer.

Aceitou o convite silencioso para entrar e voltou a sentar-se no sofá. Tinha o corpo dormente.

Viu-a a sentar-se novamente na cadeira e não pôde evitar fixar o olhar na barriga dela. Tentou assimilar aquela realidade estranha. O bebé que esperava era dele.

Era o seu filho…

– Marcus – começou por dizer ela, num tom trémulo. – Estou tão…

– Sabias, não é verdade? – interrompeu, bruscamente. – Foi por isso que me deixaste. Porque sabias que estavas grávida.

Ela abanou a cabeça.

– O quê? Estás a dizer que não sabias que estavas grávida, quando me deixaste?

– Está bem. Sabia, sim – apoiou-se nos braços da cadeira, como se quisesse levantar-se. – A sério, temos de…?

– Sim.

Voltou a sentar-se.

– Não é necessário. A sério. Não espero nada de ti.

– Responde. Deixaste-me porque estavas grávida?

– Mais ou menos.

– Bolas! Ou fizeste isso, ou não.

Hayley fechou os olhos e respirou fundo. Quando voltou a olhar para ele, começou a falar com extremo cuidado.

– Fui-me embora porque não me amavas, não querias casar comigo e já mo tinhas dito. Quando começámos a namorar, deixaste bem claro que nunca mais voltarias a casar e que não querias ter filhos. Senti-me culpada por ter ficado grávida mas, ao mesmo tempo, queria ter o bebé. Não podia ficar em Seattle e esperar que te sentisses responsável, apesar de não me amares, nem quereres ter este filho. Não tinha outra saída, portanto, voltei para casa.

O tom de voz dela deixou-o nervoso. Falava como se tivesse sido um ato de nobreza, abandoná-lo, sem dizer nada. Como se ele fosse o culpado.

– Devias ter dito a verdade, antes de te ires embora. Eu tinha o direito de saber.

Nas faces pálidas, apareceu um certo rubor.

– Tinha intenção de te dizer.

– Quando?

Ela desviou o olhar.

– Escuta – começou por dizer, depois de respirar fundo várias vezes. – Tens de entender que foi algo muito difícil para mim. Admito que não queria ver-te, mas já tinha organizado tudo para saberes.

– Tinhas… Organizado?

– Foi o que eu disse.

– Tinhas organizado tudo, para quando?

– Para quando o bebé nascesse. Ias saber assim que nascesse.

– Ias ligar para mim, do hospital?

Engoliu em seco.

– Não exatamente.

– Bolas, Hayley!

Ela pôs a mão na barriga e levantou-se.

– Vem comigo.

Porém, ele não se mexeu.

– Onde?

– Vem comigo, por favor.

– Hayley…

No entanto, ela continuou a andar. Dirigiu-se para a entrada, agarrou num casaco que estava no cabide e virou-se para olhar para ele enquanto o vestia.

– Onde tens o carro?

– À porta. Mas não…

– Estás bêbado?

– O quê? Claro que não.

– Então, podes conduzir.

Marcus praguejou, antes de se levantar e a seguir para enfrentar a noite fria.

 

 

Dez minutos mais tarde, Hayley indicou um desvio que os deixou à frente de uma casa branca, situada numa rua tranquila, ladeada por carvalhos e áceres.

Parou onde ela pediu.

– Quem vive nesta casa?

– Vamos – indicou, como se isso servisse de resposta.

Contra aquilo que o bom senso lhe dizia, saiu do carro e seguiu-a até à porta vermelha. Hayley tocou à campainha.

Ouviram o latido de um cão e uma menina que gritava.

– Eu abro!

A porta abriu-se e apareceu uma menina de cabelo castanho, vestida com roupa de balé. O cão, um pastor alemão idoso, ficou junto da menina e ladrou duas vezes com esforço evidente.

– Calma, Candy – pediu a menina, com um sorriso enorme nos lábios. – É a tia Hayley!

A tia Hayley? Impossível! Para ser tia tinha de ter irmãos e Hayley não tinha nenhum.

Atrás da menina apareceu uma mulher de cabelo castanho e olhos azuis, que era muito parecida com Hayley. Talvez fosse a forma dos olhos ou dos lábios.

– Ena, que surpresa! – exclamou a mulher, ao mesmo tempo que secava as mãos com um pano de cozinha. Depois, olhou para Marcus com curiosidade.

– Este é Marcus – explicou Hayley.

– Ah… – murmurou, como se acabasse de obter a resposta para uma pergunta pertinente. – Entrem.

Hayley e Marcus entraram na casa acolhedora e seguiram a mulher até uma sala acolhedora, tanto como a do apartamento de Hayley. Também havia uma árvore de Natal, junto da janela.

– Podem dar-me os casacos? – perguntou. E quando Hayley abanou a cabeça, convidou: – Então, sentem-se.

Marcus estava desejoso que alguém lhe dissesse o que estava a acontecer. Sentou-se na cadeira que estava mais perto, enquanto a menina fazia uma pirueta que não lhe saiu nada bem. Aterrou sem muita suavidade, mas levantou-se depressa, rindo-se. Tinha um sorriso tão contagiante como o da mãe… E o de Hayley.

– Sou Dede – apresentou-se a menina.

– Os trabalhos de casa – recordou a mãe.

– Mamã…

A mãe não teve de dizer mais nada, pois um olhar bastou para que a menina obedecesse.

– Está bem, já vou – murmurou, contrariada.

No entanto, era evidente que era uma menina alegre, pois não conseguiu manter a careta por muito tempo e saiu da divisão a sorrir, novamente, seguida pelo cão.

Hayley, que se sentara junto dele, apresentou:

– Marcus, esta é a minha irmã, Kelly.

De repente, pensou que a tarde começava a parecer um sonho. Hayley ia ter um filho dele. A menina com um maiô cor-de-rosa. O cão decrépito. O aparecimento repentino de uma irmã cuja existência desconhecia por completo.

– Tens uma irmã… – murmurou, revelando a confusão que realmente sentia.

Hayley crescera em casas de acolhimento. A mãe, uma mulher doente que não conseguia manter um emprego, sempre dissera que não tivera força suficiente para criar a sua única filha. Por isso, abandonara-a, deixando-a aos cuidados do Estado.

– Meu Deus, Marcus! – começou por dizer Hayley, com evidente tristeza. – Sei que é uma grande surpresa. Também foi para mim. Acredita. A minha mãe sempre me disse que era filha única e nunca pensei que poderia ter mentido… Nunca pensei que alguém fosse capaz de mentir sobre algo parecido.

– Compreendo – afirmou Marcus, que esperava que as surpresas acabassem depressa.

Kelly sorriu.

– Também temos um irmão.

– Encontrei-os em junho – continuou a explicar Hayley. – Bom, encontrámo-nos uns aos outros, quando a mamã morreu.

Marcus sentiu algo estranho na garganta e teve de tossir.

– A tua mãe morreu…

– Sim. Um pouco depois de eu vir para aqui. Conheci Kelly e o nosso irmão, Tanner, no hospital onde ela estava internada.

– Quando estava a morrer?

– Sim – antes de ter tempo para perguntar mais, Hayley olhou para a irmã. – Podes ir buscar a carta, por favor?

Kelly franziu o sobrolho.

– Tens a certeza? Talvez devesses…

– Vai buscá-la, por favor.

– Está bem.

Quando Kelly saiu, Marcus ficou em silêncio, a olhar para a mulher que ia ter o seu filho. Nenhum deles disse nada.

Provavelmente, era melhor assim.

Kelly regressou com um envelope, que deu a Hayley. Ela mostrou-o, para que visse a morada no lugar indicado para o destinatário.

– Diz-lhe Kelly.

Respirou fundo e olhou para Marcus.

– Teria de te enviar isto, quando o bebé nascesse – e mostrou-lhe dois autocolantes. Um azul que dizia «É um menino» e outro cor-de-rosa em que se lia «É uma menina».

Hayley acrescentou, num tom sumido:

– Já sabes. Depende…

Marcus olhou para o envelope, para a irmã que o observava com os dois autocolantes na mão e para Hayley, sentada à frente dele, com a mão na barriga.

«Vou acordar», pensou. «A qualquer momento, vou acordar».

Contudo, não foi assim.

Capítulo 2

 

Hayley sentia desprezo por si mesma.

Enganara-se completamente e sabia isso. Olhou para o pai do filho, sentado à frente dela, e desejou poder recuar no tempo.

Devia ter contado. Vendo-o em perspetiva, percebia perfeitamente o erro que cometera ao não lhe dar a notícia em maio, antes de acabar com ele, antes de deixar de trabalhar como secretária e voltar para Sacramento, para curar o seu coração maltratado.

Iria rejeitá-la, quando lhe dissesse que o amava, mas isso não importava. Tinha o direito de saber. Não importava se tivesse dado um «não» como resposta, quando lhe pedisse para reconsiderar a ideia de casar e que, depois, quando sugerisse que deviam acabar, porque era óbvio que a relação não tinha futuro, ele estivesse de acordo.