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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

 

© 2011 Tessa Radley. Todos os direitos reservados.

ALIANÇA DE CASAMENTO, N.º 1071 - Junho 2012

Título original: The Boss’s Baby Affair

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0308-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversion ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Voltar a casa significava... Jennie.

Nicholas Valentine olhou para a porta preta brilhante e respirou fundo. O imponente puxador de bronze em forma de leão era algo que ele próprio tinha escolhido para a impressionante casa de três andares na melhor zona de Auckland.

Depois de guardar no bolso as chaves do Ferrari, Nick marcou o código de segurança, escondido num dos painéis da entrada, e a porta pesada abriu-se.

O chão do vestíbulo, de um luxuoso mármore branco, brilhava sob dos focos do teto. Deveria estar contente por voltar a casa.

Deveria estar contente depois de várias semanas de viagem pela Indonésia, um país que atravessava uma situação muito difícil.

Mas estava demasiado cansado. A única coisa que desejava era tomar um duche e meter-se na cama... ainda que antes tivesse de ir ver Jennie.

Não ia ser um momento agradável mas tinha de fazê-lo, apesar dos sentimentos que a existência dela despertava nele.

Nick parou ao pé da escada e, contendo o desejo de fugir, pôs um pé no primeiro degrau.

Não via Jennie há um mês.

Conseguia lidar com uma companhia multimilionária, com a imprensa e com centenas de empregados sem se alterar ... mas Jennie assustava-o.

Ainda que nunca o admitisse, claro.

No fim da escada, um corredor dava a volta a toda a casa. À direita havia duas suites; à esquerda, quatro quartos com casa de banho, um dos quais se tinha convertido no quarto de Jennie. Em frente aos quatro quartos, o hall convertia-se numa sala de estar ampla decorada a branco, preto e cinzento, com um toque do pistacho, como Jilly tanto gostava.

Nick parou, surpreendido. O elegante e normalmente ordenado espaço tinha-se convertido num lugar cheio de caixas amarelas e cor-de-rosa que não reconhecia. A mesa de vidro estava afastada para um dos lados e uns retângulos de borracha com números ocupavam a zona entre dois cadeirões.

Alguém, a sua irmã talvez, parecia ter tido a inspiração de estimular as habilidades matemáticas de Jennie. Mas Nick tinha a certeza de que ainda levaria algum tempo até a menina aprender a contar. Apesar de tudo, só tinha seis meses.

– Mas que demónios...?

A porta do quarto de Jennie estava entreaberta mas quando espreitou comprovou que estava vazio. No centro, sobre o tapete, um círculo de ursinhos de peluche pareciam tomar chá em frente à parede de vidro que dava para a piscina, mas não havia nem sinal da menina ou da ama... Nick não se lembrava do nome dela. E também não estavam no jardim.

Nick olhou para o relógio; cinco em ponto. Conhecia o horário de Jennie de cor e sabia que era hora do jantar. A menina deveria estar em casa. Mas a senhora Busby, a governanta, saberia onde estavam.

No entanto, quando desceu até à cozinha ordenada e moderna, com eletrodomésticos de última geração, a senhora Busby não estava. Onde se tinha metido toda a gente?, perguntou-se, impaciente, tocando à campainha.

Uns minutos depois, a senhora Busby apareceu pela porta que dava para a zona de serviço e ao vê-lo, esticou o pescoço.

– Desculpe, senhor Valentine. Não sabia que tinha voltado para casa.

Nick não se deu ao trabalho de explicar que o voo tinha mudado à última da hora.

– Onde está a Jennie?

– A Candace levou-a ao parque... mas pode ligar-lhe para o telemóvel – a governanta abriu uma das gavetas. – Vou dar-lhe o número...

– Espere um momento. Quem é a Candace?

A senhora Busby vacilou um momento.

– A nova ama. A senhora Timmings não lhe disse?

Uma nova ama? A sua irmã não lhe tinha dito uma palavra.

– O que foi que...? – Nick tentou lembrar-se do nome da antiga ama, mas não era capaz.

– Quando a Jennie ficou doente, a Margaret decidiu ir-se embora – explicou-lhe a governanta.

– A Jennie está doente? – exclamou ele. Ninguém lhe tinha dito nada. – O que se passa com ela?

A senhora Busby parecia cada vez mais incomodada.

– Agora está muito melhor. A Candace tem cuidado dela e a senhora Timmings não queria que se preocupasse... por isso pensou que era melhor esperar até ao seu regresso.

Nick tentou conter a impaciência porque a mulher parecia a ponto de desmaiar, mas não era culpa dela que ninguém lhe tivesse contado nada.

– Falarei com a minha irmã.

– Sim, será o melhor – disse a governanta, claramente aliviada. – Quer comer alguma coisa, senhor Valentine?

Ele negou com a cabeça.

– Comi no avião... Bom, talvez uma das suas omeletas especiais – disse depois, ao ver a expressão dececionada da senhora Busby. – Mas antes, dê-me o número da ama. Estarei na sala de estar.

 

 

O telemóvel da ama estava desligado e depois de tentar duas vezes, impaciente, Nick marcou o número da sua irmã.

– Por que não me disseste que a Jennie tem estado doente? O que aconteceu? – sentenciou, sem se incomodar em cumprimentá-la.

Do outro lado da linha fez-se silêncio.

– Que tal «boa tarde, Alison, como estás»?

Sem se aperceber do sarcasmo, Nick começou a passear pela sala de estar.

– O que é que ela tem?

– Uma infeção no ouvido. Levei-a ao médico e não te queria incomodar...

– É minha filha – interrompeu ele. Ainda que o dissesse com mais convicção do que sentia na realidade. – Devias ter-me ligado.

– Nicky, a menina está bem.

– Isso a senhora Busby disse-me – Nick mudou o telefone para a outra orelha. – Tu sabes o que senti ao saber que a Jennie esteve doente e não me contaste?

– Desculpa, Nicky – pediu a irmã. – Tens razão, devia ter ligado. Pensei que estarias muito ocupado...

– E isso que tem a ver?

– Vi as notícias sobre os distúrbios na Indonésia e estava preocupada... tu também devias ter ligado.

– As tuas ações na Valentine estão a salvo e consegui encontrar os móveis ecológicos e as estátuas de jardim de que precisávamos.

– Não era isso que me preocupava, embora te deva dizer que recebemos uma oferta pelas ações.

– Uma oferta?

Nick estava demasiado cansado para continuar aquela conversa, mas aquela frase surpreendeu-o.

Ele sabia que Alison e o marido, Richard, precisavam desesperadamente de vender as ações deles para compensar os prejuízos da cadeia de lojas de eletrodomésticos devido à recessão.

Por lealdade, tinham esperado para dar-lhe uma oportunidade de que ele as comprasse... algo impossível até a dívida contraída com o sogro, Desmond Perry, ter sido paga na totalidade.

E estava prestes a fazê-lo. No dia seguinte, pagaria a Perry a última prestação da dívida e nada lhe daria mais satisfação do que atirar o último cheque sobre a secretária do seu antigo sogro.

Ficaria sem liquidez, era óbvio, mas se Alison e Richard pudessem aguentar mais uns meses, seria capaz de comprar as ações deles na cadeia de centros de jardinagem Valentine.

Com as pessoas a sair cada dia menos e a passar mais tempo em casa, o seu negócio expandia-se de maneira notável. E, felizmente, em todas as cidades de North Island, na Nova Zelândia, havia um centro de jardinagem Valentine, o que tinha sonhado quando começou. Os centros eram centros sociais, lugares para as pessoas se relacionarem. As pessoas iam lá à procura do estilo de vida que o coração vermelho do logotipo Valentine prometia: conselhos sobre paisagismo e design de jardins, fontes, móveis de jardim, todas as plantas que se pudessem imaginar... os clientes podiam encontrar tudo nos centros de jardinagem Valentine.

Tinha pensado ampliar o negócio para South Island e depois, mais à frente, para a Austrália. Mas, ainda que as lojas e o próprio negócio valessem milhões, a rápida expansão tinha-o deixado sem liquidez e ter de pagar a dívida ao seu ex-sogro piorara a situação.

Nick sabia que brevemente liquidaria essa dívida, mas a menção de uma oferta de compra inquietou-o.

– Quando te fizeram essa oferta?

– Há uns dias – respondeu a sua irmã.

– Alison...

– Estava demasiado preocupada com a infeção de ouvido da Jennie... e contigo, que estavas num lugar perigoso – interrompeu-o ela. – Diz-me que estás bem, a sério.

Nick não estava com vontade de falar da viagem à Indonésia. A única coisa que lhe importava era pagar a última prestação da dívida multimilionária a Desmond Perry... três meses antes do previsto. Contra a sua vontade, tinha tido de considerar a ideia de vender um dos seus estabelecimentos. Felizmente, tinha decidido não o fazer e ficava contente por isso.

Afinal, fechar esse estabelecimento teria custado muito caro a todos. A ele, a Alison, a Richard e ao resto dos acionistas. Tinham escolhido cuidadosamente cada loja e, com o tempo, cada uma seria um tesouro. Mas os lucros futuros não ajudavam a sua irmã, que precisava de apoio imediato.

– Estou bem, já te disse. Não sejas chata.

– Tu deixas-me de fora, como sempre. Suponho que te deveria agradecer o facto de pelo menos falares com o Richard... ainda que só sobre negócios, claro. Mas não sobre o teu casamento, sobre o que tem sido esperar que caia a espada de Dâmocles.

Nick suspirou.

– Alison...

– Não te preocupes, eu sei! O teu casamento é um assunto teu e não me posso meter. Nunca falas de coisas privadas, mas um dia terás de deixar entrar alguém dentro dessa couraça tão dura que fabricaste.

Nick passou uma mão pela cara, contendo o desejo de dizer à irmã que exagerava, que essa couraça tão dura só estava na sua imaginação. Porque, dissesse o que dissesse, Alison começaria a discutir.

Em lugar disso, deixou-se cair sobre o sofá de pele branca, apoiando os pés num dos quatro cubos que faziam de mesa de café.

– Bom, mas agora quero falar. Por que não me disseste que a ama da Jennie se foi embora e que tiveste de contratar outra?

– A Candace não é uma ama... é enfermeira.

– Enfermeira? Há algo que não me tenhas contado?

Teria Jennie estado mais doente do que a sua irmã lhe dissera?

– Não, a Jennie está bem. E a Candace é um presente do céu. Conheci-a no hospital e gostamos uma da outra de imediato. E quando soube que a Margaret se tinha ido embora...

– A Margaret por que se foi embora?

– Tinha a tensão muito alta e quando a Jennie ficou doente foi demasiado para ela.

Nick fechou os olhos, contendo o desejo de soltar um palavrão.

Ele não sabia que a ama de Jennie tinha a tensão alta ou não a teria contratado. Claro que certamente por isso Jilly não lhe tinha dito nada. Margaret parecia perfeita; uma senhora de uma certa idade com um aspeto maternal e referências impecáveis. Parecia perfeita, mas estava claro que não era.

– O que sabemos desta mulher?

– É enfermeira de pediatria e tem umas referências fabulosas. Esteve em viagem durante os últimos meses e contrataram-na no serviço de Urgências do hospital assim que voltou – a sua irmã calou-se para recuperar o fôlego. – Imagino que até tu verás que para a Jennie é melhor uma enfermeira do que uma ama normal. Aposto que a Jilly adoraria.

– Vamos deixar a Jilly fora disto.

Nick não ia deixar que a sua irmã mudasse de assunto.

– Quando conheceres a Candace vais ver que é perfeita. Não sei o que vamos fazer quando decidir voltar a trabalhar no hospital.

– Contratar uma ama? – sugeriu Nick, trocista. – Assim, quando eu voltar para casa, pelo menos a Jennie estará aqui para me cumprimentar.

 

 

Um Ferrari vermelho ocupava o espaço que tinha estado vazio desde que começou a cuidar de Jennie.

Candace estacionou o monovolume entre o Ferrari e um Daimler prateado, pensativa. De maneira que Nick Valentine estava de volta a casa... já era hora.

Ficava contente por Jennie e sorriu enquanto a tirava da cadeirinha de segurança.

Jennie era a menina mais doce do mundo. No seu trabalho como enfermeira de pediatria, Candace tinha visto muitas crianças, mas Jennie era especial.

E o seu coração derretia-se cada vez que ela apoiava a cabecinha no seu ombro. Pobrezinha menina órfã. A primeira vez que a teve nos braços tinha sentido uma ligação inexplicável com ela...

Mas não era filha dela, devia lembrar isso a si mesma. Jennie era de outra pessoa e, no entanto, estava louca por ela. E sentia uma certa raiva pelo presente que Nick Valentine tratava com tanta despreocupação.

Candace entrou no corredor de mármore que a fazia sentir-se como se estivesse numa revista de decoração. Não havia plantas, nem flores que rompessem a paleta de pretos, brancos e cinzentos.

A menina que tinha nos seus braços era a única coisa real naquela mansão fria.

Não havia ninguém, mas conseguia ouvir a televisão na sala de estar...

O estômago dela encolheu-se, mas conteve o desejo de subir para o quarto. Não fazia sentido atrasar o encontro. Quanto antes conhecesse o seu chefe, melhor.

Com a menina ao colo, parou à porta da sala de estar.

Nick Valentine estava deitado no sofá de pele branca, diante do televisor. Tinha o cabelo preto despenteado, como se tivesse passado os dedos por ele várias vezes. O casaco do fato abandonado sobre um cadeirão e os dois primeiros botões da camisa desabotoados, a revelar um triângulo de pele suave e bronzeada. Candace não tinha esperado que fosse tão... arranjado.

Felizmente, estava a dormir.

Sobre os cubos que faziam de mesa de café havia uma bandeja com uma omeleta que não tinha tocado e um copo com um líquido cor de âmbar...

Que tinha esperado, um pai desejoso de ver a filha? Nick Valentine era empresário e isso era o que mais lhe importava no mundo, como lhe tinha contado Jilly Valentine. O tipo de homem que bebia uísque em vez de comer e adormecia a ver desporto na televisão em vez de dar atenção à sua filha depois de estar um mês ausente.

A esperança de tê-lo julgado mal morreu naquele momento e Candace apertou Jennie contra o peito, desejando afastá-la daquele homem.

Era hora de dar banho à menina, além do mais.

Depois de Jennie ter tomado banho e de estar em pijama, abriu o pequeno frigorífico onde guardava os biberões esterilizados. De facto, naquele quarto havia tudo o que uma criança pudesse precisar.

Nick Valentine era milionário, mas de que modo isso ajudava uma menina cujo pai mostrava tão pouco interesse por ela?

Candace fez uma careta ao ver que não havia nenhum biberão... e tinha deixado os medicamentos lá em baixo, de maneira que teria de ir buscá-los à cozinha.

– Volto já, querida.

 

 

Nick acordou sentindo-se desorientado.

A luz azul na escuridão confundiu-o e teve de piscar várias vezes os olhos para acordar totalmente.

Jennie.

Nick levantou-se com um salto. O cansaço da viagem não era desculpa para a sua falta de vontade de ver a menina. Se tivesse ficado na Indonésia mais um mês, Jennie não o teria reconhecido na volta.

Subiu a escada, que lhe pareceu interminável, mas a porta do quarto de Jennie estava fechada e deixou escapar um suspiro de alívio. A ama devia ter voltado e Jennie estaria a dormir.

Quando espreitou ouviu um ruído no berço... de maneira que estava acordada. Um rápido olhar à sua volta disse-lhe que os ursinhos tinham desaparecido... e na cadeira de baloiço que Jilly tinha feito questão de comprar não havia ninguém. Jennie estava sozinha.

Onde demónios estava a nova ama de que a sua irmã tanto lhe falara?

Nick chegou-se ao berço mas hesitou em pegar na menina ao colo.

– Olá, Jennie.

Jennie olhou-o com os seus olhos enormes. Um mês antes eram azul-escuros, mas tinham aclarado.

Os olhos de Jilly eram azul safira; pelo contrário, os seus eram de um azul mais escuro. Mas os de Jennie eram de um azul totalmente diferente, quase acinzentado.

De novo, Nick sentiu uma pontada de medo.

Olharam-se durante uns segundos e quando Jennie levantou uma mãozinha, Nick engoliu em seco. Que importava o passado? Aquela menina era inocente de tudo.

Tocou a sua mão com um dedo e, de repente, Jennie agarrou-se a ele. Nick conteve o fôlego. O silêncio no quarto era total, o momento intenso.

Pigarreou, dizendo a si mesmo que estava a pensar em tolices. E, no entanto, tinha a sensação de que algo tinha mudado e Jennie apertava o seu dedo com força...

Era demasiado.

Nick afastou a mão e dirigiu-se à porta com a cabeça baixa, desesperado por escapar.

Mas antes que saísse, a porta abriu-se e algo duro bateu-lhe na cabeça.

– Mas o que...?

Nick deu por si a olhar para o rosto mais angelical que alguma vez tinha visto. Uns olhos cinzentos, um nariz atrevido, uns lábios carnudos e uma cascata de cabelos loiros.

– Entra sempre nos lugares sem olhar? – sentenciou, esfregando a testa.

 

 

Candace olhou, horrorizada, para o homem que se interpunha no seu caminho.

Nick Valentine.

E devia tê-lo dito em voz alta sem dar por isso.

– Com certeza. Estava à espera de quem?

– Pois...

Candace observou as feições dele: maxilar quadrado, nariz longo, uma pequena cicatriz numa sobrancelha que lhe dava um aspeto perigoso e uns olhos de um azul tão escuro que pareciam quase pretos. Era bem mais alto do que parecia nas fotos, pelo menos um metro e noventa.

E de perto tinha um aspeto bem mais imponente.

– Pensei que continuava lá em baixo, a dormir. Desculpe.

– Vou ficar com um galo do tamanho de um ovo – protestou ele, passando a mão pela testa.

– Desculpe, a sério. Deveria pôr um pouco de gelo.

– Devo pôr gelo? Isso é tudo o que tem para dizer?

Estava furioso, era evidente. O primeiro encontro com o seu chefe não podia ter começado pior.

– Foi um acidente...

– Deveria olhar por onde anda.

A injustiça da acusação fez com que ficasse corada.

– Foi o senhor que veio contra mim.

– E bateu-me com o quê?

– Com um frasco de xarope – Candace mostrou-lho.

– Um frasco de xarope? – repetiu ele, incrédulo.

– Desculpe, a sério.

Estando tão perto dele era difícil pensar com clareza. Nick Valentine era mais forte do que lhe tinha parecido. Não era o corpo de um homem que estava todo o dia atrás de uma secretária.

Mas por que pensava no corpo de Nick Valentine? Não lhe estava a dar uma boa impressão, de maneira que endireitou-se o mais que pôde. Se Nick Valentine duvidava do seu profissionalismo, despedi-la-ia sem hesitar um segundo.

– Por que subiu para o quarto a estas horas?

Ele não respondeu. Estava a estudá-lo atentamente e, na semiobscuridade do quarto, não conseguia ver a expressão dele. Perceberia que estava nervosa?

– É a Candace.

– Sim, sou eu. E o senhor é o Nick Valentine.

– Tem vantagem sobre mim, eu não conheço o seu apelido.

– Morrison – disse ela, esperando a reação dele.

Mas nada mudou nos enigmáticos olhos azuis-escuros. O nome não significava nada para ele e teve de fazer um esforço para não suspirar. Quanto mais tempo continuasse sem saber, melhor para ela.

Candace pensou então que ele merecia saber, mas decidiu esquecer os seus escrúpulos. Se fosse o tipo de homem que se preocupava com a sua filha, as coisas teriam sido muito diferentes.

E, justamente naquele momento, Jennie lançou um grito de protesto do berço.