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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Katherine Garbera

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O milionário italiano, n.º 2244 - fevereiro 2017

Título original: The Moretti Heir

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9422-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

De qualquer ponto de vista, Marco Moretti era um homem que tinha tudo. A vitória que acabava de obter fazia parte do seu plano para chegar a ser o piloto Moretti mais premiado de todos os tempos. O seu avô Lorenzo tinha ganho três campeonatos seguidos, algo que Marco também tinha feito, embora tivesse intenção de superar o recorde do seu avô nesse mesmo ano.

Ambos os pilotos Moretti estavam empatados em vitórias com outros três pilotos, mas Marco pensava obter outra naquele ano, algo pelo que tinha lutado desde que era um motorista novato.

Estava convencido que conseguiria. Nunca tinha fracassado em nenhuma das metas que se tinha proposto, e aquela não ia ser uma excepção. Então, porque se sentia tão aborrecido e inquieto?

O seu colega de equipa, Keke Heckler, estava sentado à mesa junto dele, bebendo e conversando com Elena Hamilton, um modelo de capa da revista Sports Ilustrated. Keke parecia ter o mundo nas suas mãos. Marco não conseguia deixar de pensar que devia haver algo mais na vida do que as corridas, os triunfos e as festas.

Talvez estivesse a ficar doente e fosse sucumbir à gripe ou algo parecido a qualquer momento.

Ou talvez se tratasse da maldição de família. Supostamente, nenhum Moretti podia triunfar ao mesmo tempo nos negócios e no amor.

– Marco? – disse Keke com o seu marcado sotaque alemão.

– Sim?

– A Elena perguntou-me se vais estar com a Allie mais tarde.

– Não. Já não estamos juntos.

– Oh, lamento – disse Elena.

Uns minutos depois, Keke e Elena levantaram-se da mesa para irem dançar enquanto Marco permanecia sentado. Aquela festa era tanto para ele como para a alta sociedade que seguia as corridas de Fórmula Um. Viu outros pilotos entre o mar de belezas que assistia à festa, mas não se aproximou de nenhum.

Allie e ele tinham-se distanciado durante a época do ano em que não havia corridas. Era como se só quisesse estar com ele quando era o centro das atenções. Uma parte de Marco desejava a vida tranquila que as outras pessoas levavam. Não podia renunciar ao glamour que estava unido ao mundo da Fórmula Um, mas, às vezes, quando estava sozinho, teria gostado de contar com alguém com quem partilhar os momentos tranquilos da sua vida e da Nápoles para a qual se costumava retirar para ser um homem normal.

Olhou em volta. Nenhuma das magníficas mulheres que havia ali sobressaía das demais, eram todas muito belas para serem descritas, mas Marco sabia que nunca encontraria entre elas uma que quisesse semelhante tipo de vida.

Que lhe sucedia?

Estava em condições de iniciar uma nova era para a Moretti Motors. Os seus irmãos e ele tinham crescido num mundo de luxo e privilégios, conscientes de não terem riqueza própria. Algo que Dominic, Antonio e ele mudaram mal alcançaram a idade suficiente para fazê-lo.

Na actualidade, os três eram homens respeitados no duro e competitivo mundo do design de automóveis. Sob tal comando, a Moretti Motors tinha voltado a recuperar a liderança do negócio de carros de corridas. O poder do motor Moretti e o novo design do seu chassis tinham transformado os seus carros nos mais rápidos do mundo, algo de que Marco era consciente cada vez que se sentava ao volante do seu Fórmula Um. Que mais podia pedir?

De repente ficou sem fôlego ao reparar numa mulher que se encontrava no outro extremo da sala. Era alta e o seu cabelo era cor de ébano. A sua pele era pálida, como o luar do mediterrâneo. Os seus olhos… na verdade encontrava-se muito longe para ter a certeza, mas pareciam profundos e sem limites.

Envergava um vestido subtilmente sensual, da mesma cor azul céu que o fato de macaco das corridas de Marco. Usava o cabelo apanhado ao alto e alguns caracóis soltos emolduravam-lhe o rosto.

Marco pôs-se de pé. Estava acostumado a que as mulheres acudissem a ele, mas tinha de conhecer aquela. Tinha de averiguar quem era e reclamá-la para si.

Já avançava para ela quando a mulher se voltou e desapareceu entre a multidão. Estava a procurá-la com o olhar quando sentiu que alguém apoiava uma mão no seu braço.

Marco voltou-se e viu que se tratava do seu irmão Dominic. Eram da mesma estatura e ambos partilhavam os mesmos clássicos rasgos romanos, pelo menos segundo a revista italiana de negócios Capital… algo que Antonio, o seu irmão do meio, costumava utilizar para fazer pouco deles.

– Agora não – disse Marco, que tinha intenção de encontrar a misteriosa mulher.

– Agora sim. É urgente. O Antonio acaba de chegar e temos de falar – Dominic era o líder da fraternidade. Não só por ser o director da empresa, mas também porque era o motor daquela nova época de prosperidade para a Moretti Motors.

– Não pode esperar? Acabo de ganhar a primeira corrida da temporada, Dom. Acho que tenho direito a celebrar.

– Podes celebrar depois. Isto não nos vai levar muito tempo.

Marco olhou de novo para onde tinha visto a mulher, mas não havia rasto dela. Tinha desaparecido. Talvez a tivesse imaginado.

– O que sucedeu? E onde está o Antonio?

– A caminho. Vamos à secção VIP para falar. Não me fio da multidão.

Aquilo não surpreendeu Marco. Dom não corria riscos no que se referia à Moretti Motors. Foi ele quem se apercebeu que a maldição que caiu sobre o seu avô Lorenzo era a responsável por os seus pais terem perdido todo o património. Marco não dava muito crédito às maldições feitas por velhas bruxas italianas, mas o seu pai achava que a maldição era responsável pela mudança de fortuna da família.

Quando eram adolescentes, os seus irmãos e ele juraram com sangue que nunca se apaixonariam e que devolveriam a velha glória e poder ao nome Moretti.

Enquanto avançava com o seu irmão entre a multidão, Marco foi felicitado em várias ocasiões pelo seu triunfo, mas ele não deixou de procurar com o olhar a mulher morena. Não a encontrou.

Quando entraram na zona VIP da sala, separada do resto por uma cortina, encontraram Antonio à espera deles.

– Vocês demoraram muito.

– O Marco é o campeão. Todo o mundo o disputa – disse Dom.

– Qual é o problema? – perguntou Marco, que não estava interessado em enredar-se numa das habituais discussões fraternais que não levavam a nada.

– O problema é que a família Valerio não quer deixar-nos utilizar o seu nome para a nova produção do nosso carro.

Valerio tinha sido o carro insígnia da Moretti Motors até aos anos setenta, data em que deixou de produzir-se. Recuperá-lo era o plano de Dominic para restabelecer o domínio da empresa no mercado.

– Como posso ajudar? – perguntou Marco. – O Keke ou eu podemos levar o carro a Le Mans e ganhar as vinte e quatro horas com ele.

– Impossível. O advogado dos Valerio interpôs um recurso.

– Necessitamos convencer a família Valerio a permitir-nos utilizar o seu nome – disse Dominic.

– O que sabemos deles? – perguntou Marco.

– Que Pierre Henri Valerio odiava o avô Nonno e que provavelmente está a saltar de alegria no além ao pensar que os seus descendentes têm algo de que necessitamos – disse Antonio.

– De maneira que se trata de uma disputa familiar.

– Mais ou menos. Acho que diriam não só para demonstrar que podem.

– Nesse caso, terei de oferecer-lhes algo que não possam rejeitar – disse Antonio.

– Por exemplo? – perguntou Marco. O seu irmão do meio estava acostumado a ganhar. Todos estavam.

– Logo pensarei em alguma coisa. Deixa-o nas minhas mãos.

– Não podemos permitir que desbaratem os nossos planos.

– Sem dúvida que não.

Marco sabia que o problema não duraria muito. O advogado dos Valerio levaria uma surpresa quando tivesse de lidar com Antonio.

 

 

Virginia Festa tinha passado por um momento de pânico quando Marco se tinha levantado e se tinha encaminhado para ela. Sabia que gostava que as mulheres se mostrassem interessadas, mas não até ao ponto de se mostrarem muito óbvias. De maneira que se voltou com a esperança de… oh, na verdade tinha-se afastado devido ao pânico.

Em Março havia demasiada humidade em Melbourne, Austrália, algo que tinha previsto antes de deixar a sua casa em Long Island. De facto, tinha planeado cada detalhe daquela viagem com todo o esmero, consciente de a sincronização ser tudo. Mas não tinha previsto o elemento humano. Um erro que sem dúvida a sua avó cometeu quando lançou a maldição sobre os varões Moretti.

Suspeitava que a sua avó, que só tinha conhecimentos rudimentares da antiga bruxaria Strega, não se dera conta de também estar a maldizer as mulheres Festa quando proferiu a maldição contra o seu amante Lorenzo Moretti e a respectiva família. Virginia tinha passado a vida a estudar a maldição que a sua avó utilizou na esperança de tentar anulá-la. Não havia forma de limitar-se a retirá-la, já que a sua avó é que tinha pronunciado o conjuro e já tinha morrido.

Irritava-se por se ter assustado depois de ter chegado tão longe. Estava a iniciar um plano que andava a elaborar desde que tinha dezasseis anos, desde que descobrira a maldição que a avó tinha lançado sobre os homens Moretti e, acidentalmente, sobre as mulheres Festa.

Esfregou as mãos no seu clássico vestido Chanel. Ia ter de encontrar Marco de novo, encontrá-lo e conquistá-lo sem delatar o seu plano. A chave residia em mostrar-se imprecisa. Tinha passado muitas horas a estudar livros sobre o feitiço Strega que a sua avó tinha utilizado para maldizer os Moretti, à procura de uma forma de invertê-lo. Após a sua investigação tinha decidido que, para colocar o plano em funcionamento, devia ser anónima.

Só tinha a lembrança das palavras que a avó pronunciara, palavras que Cassia escreveu no seu diário e que Virginia tinha estudado. A sua avó exigiu vingança devido ao coração partido e, ao fazê-lo, tinha condenado as mulheres Festa a terem sempre o coração partido.

Não podia haver uma união de corações Moretti e Festa. Tinham de permanecer para sempre separados. Mas o seu sangue… Enquanto estudava tudo o que podia sobre maldições, Virginia tinha encontrado uma lacuna na da sua avó. Separadas, ambas as famílias permaneceriam malditas para sempre. Mas se chegasse a nascer um filho com sangue Festa e Moretti, a maldição ficaria quebrada. Um filho voluntariamente entregue a ela por um Moretti repararia o dano que Lorenzo Moretti tinha infligido à sua amante duas gerações atrás e libertaria os Moretti e os Festa da maldição.

Mas chegado o momento da verdade, estava realmente nervosa. Uma coisa era fazer planos para conquistar um homem estando confortavelmente sentada em casa, e outra muito diferente era voar para o outro extremo do mundo para iniciar o seu plano.

Saiu do abarrotado salão para um terraço do qual se avistava o centro de Melbourne. Até então, os únicos lugares em que tinha estado tinham sido a pequena localidade italiana em que a sua avó crescera e Long Island, onde vivia.

Naquela noite, de pé naquele terraço, enquanto contemplava o céu negro pejado de estrelas, sentiu que estava a ponto de começar algo novo. Toda a magia Strega que a sua mãe e a sua avó lhe tinham ensinado se baseava em estar ao ar livre. Alçou o olhar para a lua e deixou que o seu brilho a fortalecesse.

– Está uma noite linda, não está?

A profunda voz masculina que escutou nas suas costas produziu-lhe um agradável formigueiro por todo o corpo, e não se surpreendeu quando, ao dar meia volta, viu Marco Moretti de pé atrás dela. O pânico que tinha sentido há um momento na sala não retornou.

– É verdade.

– Posso reunir-me contigo?

Virginia assentiu.

– Marco Moretti.

– Eu sei. Parabéns pelo teu triunfo de hoje.

– É a isso que me dedico, mi’angela – disse Marco, sorridente.

– Não sou o teu anjo – replicou Virginia, mesmo adorando o som do italiano de Marco.

– Diz-me o teu nome e assim poderei chamar-te por ele.

– Virginia – disse ela, muito consciente que o seu apelido a delataria.

– Virginia… muito lindo. O que estás a fazer aqui, em Melbourne?

– Ver-te ganhar.

Marco riu.

– Apetece-te beber alguma coisa comigo?

– Só se pudermos ficar aqui – Virginia não queria voltar ao bulício da festa. Fora dela mantinha melhor o controlo e podia concentrar-se. Além disso, necessitava reunir toda a magia Strega possível. O céu coalhado de estrelas e a lua ajudariam.

– Sem dúvida.

Marco fez um gesto a um empregado.

Quando as bebidas chegaram, Marco pegou Virginia pelo cotovelo e afastaram-se das pessoas que deambulavam pelo terraço. Enquanto caminhavam, Virginia tornou-se muito consciente do subtil toque dos dedos de Marco na sua carne.

Quando chegaram a uma zona mais tranquila, Marco deixou cair a mão. Apoiou-se de costas contra o corrimão e olhou para Virginia. Ela perguntou-se o que veria, na esperança de a achar misteriosa, sexy e sedutora. Temia que os seus nervos delatassem o jogo que trazia entre mãos.

Parlame de ti, mi’angela bela.

Virginia não contava sentir-se atraída por Marco. Tinha imaginado que chegaria ali, mostraria um pouco de perna e de decote para estimular Marco, que este a levaria para a cama e que ela partiria na manhã seguinte.

Não tinha contado que os seus sentidos se vissem tão afectados por Marco. Adorava a sua pronúncia e o ritmo das suas palavras enquanto falava. Também gostava do aroma da sua colónia e que a fizesse sentir-se como se fosse a única mulher do mundo. Naturalmente, aquilo encaixava com o que tinha apurado sobre ele, que as suas relações, mesmo curtas, eram muito intensas.

– O que queres saber, mi diavolo belo?

Marco voltou a rir e Virginia compreendeu por que motivo era considerado um homem tão encantador. O encanto formava parte intrínseca da sua personalidade.

– De maneira que pensas que sou atraente.

– Penso que és um diabo.

– Adoro o som do italiano nos teus lábios. Fala-me de ti em italiano.

– Só conheço algumas frases. O que queres saber de mim?

– Tudo.

Virginia moveu a cabeça.

– Essa seria uma história muito aborrecida. Nada como a afamada história de Marco Moretti.

– De certeza que isso não é verdade. A que te dedicas?

– Agora estou num período sabático – disse Virginia, o que era correcto. Tinha pedido uma licença de seis meses sem vencimento no seu trabalho como professora numa escola universitária de arte para seguir a temporada de corridas de Fórmula Um e conhecer Marco.

– Porquê?

– No ano que vem vou cumprir trinta anos e decidi que já era hora de conhecer o mundo. Sempre quis viajar, mas nunca tive tempo.

– Portanto é uma mera coincidência que ambos estejamos em Melbourne?

– Sim – respondeu Virginia. Uma coincidência provocada por ela.

– Melbourne é só a primeira paragem. É uma das minhas cidades favoritas.

– O que é que te agrada nela? – perguntou Virginia.

– O que mais me agrada esta noite é que estejamos juntos.

– Essa frase feita é muito má – disse Virginia com ironia.

– Não é uma frase feita, é a verdade – replicou Marco. – Vem dançar comigo.

Virginia tomou um golo da sua bebida. Tinha chamado a atenção de Marco e tinha conseguido que a conversa não se centrasse nela, e agora…

– De acordo.

– De verdade tiveste de pensar? – perguntou Marco enquanto lhe dava a mão e a atraía para si.

– Na verdade não. Mas não esperava isto.

– O que é que não esperavas?

– Que fosses tão atraente.

Marco riu.

– Eu também não esperava encontrar-te a ti, Virginia.

– E o que esperavas?

– Outra festa para celebrar a vitória na qual todos simulam sentirem-se felizes por mim, mesmo que realmente lhes seja indiferente.

– E isso costuma supor um problema para ti?

– Na verdade não. Assim são as massas. Todo o mundo está aqui para ver e ser visto.

Virginia tinha a certeza que Marco tinha revelado com as suas palavras mais do que pretendia. Mas antes que pudesse perguntar-lhe mais alguma coisa, pegou-lhe no queixo, inclinou-se e beijou-a na boca.

Virginia sentiu a calidez da sua respiração e o delicado toque da língua dele contra a sua boca.

E nesse momento soube com certeza que a missão que agora enfrentava era mais perigosa do que tinha imaginado. Porque ia ser muito difícil não ficar louca por Marco Moretti.