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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Metsy Hingle

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O guarda-costas, n.º 297 - janeiro 2018

Título original: The Bodyguard and the Bridesmaid

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-933-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

«Detesto casamentos», decidiu Clea Mason, olhando com a testa franzida para o bouquet de rosas e lírios brancos que aterrou nas suas mãos. Praguejou contra Ryan Fitzpatrick. Se não a tivesse distraído, não teria apanhado o bouquet.

– Oh, Clea vai ser a próxima a casar-se!

– Não se o conseguir evitar – replicou a Gayle, a sua secretária que acabava de se casar. – Nunca me vou casar.

– Vai mudar de opinião quando conhecer o homem adequado. Como me aconteceu a mim no dia em que conheci Larry – replicou ela num tom sonhador, antes de que a levassem para o ritual de atirar a liga.

Aliviada por já não ser o centro das atenções, olhou para o relógio. «Quanto tempo tem de ficar uma dama de honor?» Ao lembrar-se do casamento das suas duas irmãs, gemeu. Se não se enganava, deveria ficar na festa pelo menos até os recém-casados se irem embora e eles não pareciam ter vontade de o fazer.

Resignada, olhou para os convidados da sua secretária na Destinos. Quase todos eram empregados da agência de viagens. Não era de estranhar, já que os noivos não tinham família em Chicago e os donos da agência tinham insistido em pagar o casamento. Parou ao ver Ryan Fitzpatrick.

Sobressaía com o seu smoking e não só pela sua altura. Era atraente. Com as suas feições afiadas, os seus intensos olhos azuis e o seu sorriso malicioso, parecia um anjo. O cabelo escuro chegava-lhe ao colarinho da camisa e fazia com que ela desejasse passar os dedos por aqueles caracóis rebeldes. Como se se sentisse observado, Ryan levantou o olhar e sorriu devastadoramente.

O seu coração traidor acelerou-se. «Maldição!» Virou-se e tropeçou com Sean Fiztpatrick.

– Desculpa – retrocedeu para se equilibrar.

– Eu não. Podes atirar-te aos meus braços quando quiseres – declarou Sean, a sorrir. Olhou para as flores que ela tinha nas mãos. – Ia pedir-te que dançasses comigo, mas, o que é que achas se em vez disso nos casássemos?

– Não lhe ligues – indicou Michael Fitzpatrick, empurrando o seu irmão mais novo. – Casa comigo, eu sou melhor partido.

Clea riu das suas ridículas propostas e a tensão no seu interior evaporou-se. Eram sobrinhos dos proprietários da Destinos. Ambos costumavam visitar a agência que ela dirigia e eram a fonte de mais do que uma fantasia entre o pessoal feminino. Dado o atraentes que eram e a fama que tinham com as mulheres, Clea agradeceu nunca se ter sentido tentada a ser mais do que uma amiga para eles. Era uma pena que não pudesse dizer o mesmo de Ryan. Ele perturbava-a como não o fazia outro homem há muito tempo.

– Clea, diz ao teimoso do meu irmão que está a perder o seu tempo – insistiu Sean.

– Os dois estão a perder tempo – afirmou a voz profunda de Ryan, atrás dela. – Palhaços, Clea não vai casar com nenhum de vocês. Vai casar comigo.

Sobressaltada, virou-se. O seu coração batia loucamente, de fúria, ao olhar para ele. Os olhos dele brilhavam maliciosamente, enquanto fazia girar a liga da noiva no seu dedo mindinho.

– Casar contigo? – repetiu, irritada pela sua arrogância. – Eu não…

– Não podes esperar. Eu sei, querida. A mim acontece-me a mesma coisa – e antes dela conseguir protestar, atraiu-a para si e beijou-a.

Capítulo Um

 

– Quero o caso de Clea Mason – declarou Ryan. Cruzou os braços e olhou para o seu irmão Michael atrás da mesa, pronto para a batalha.

– Não há nenhum caso, mano – desligou o telefone e recostou-se no cadeirão.

Ryan conteve o mau humor que ia crescendo no seu interior, desde o momento em que a sua tia Maggie lhe dissera que havia um maluco a incomodar Clea.

– Pode ser que seja um novato no negócio dos detectives privados, mas como ex-polícia posso assegurar-te que, se um pervertido envia a Clea cartas de amor retorcidas ou lhe telefona, isso é assédio.

– Era o que estava a tentar dizer à tia Maggie – replicou o seu irmão, mais parecido com um advogado por estar vestido de gravata e camisa, do que com um detective. – Somos especialistas em segurança, Ry, mas não somos guarda-costas.

– O facto de a directora da Destinos estar a ser assediada por um tipo não merecerá uma segurança especializada?

– Tu e eu sabemos que não se trata de um assunto de segurança, mas sim de polícia, pelo que não quis aceitar este trabalho.

– Mas aceitaste-o – afirmou Ryan.

– Quando foi a última vez que te opuseste à tia Maggie e ganhaste? – inquiriu, com a testa franzida. E sem esperar resposta, continuou: – E que possibilidades tinha contigo sentado aí e a concordar com tudo o que ela dizia?

– Porque acho que ela tem razão. Clea precisa de protecção. Então, Mike. Ouviste a tia Maggie. Este assunto já tem alguns meses e a polícia não conseguiu ainda nada. Por isso é que nos quer contratar. E como aceitaste o trabalho, alguém terá que vigiar Clea. Eu estou a oferecer-me como voluntário.

– Acho que já há algum tempo que andas atrás de Clea – Michael olhou para ele. – Demónios, não me surpreende que tenhas deixado a polícia de Los Angeles e voltado para cá para te juntares a Sean e a mim, só por causa dela.

Aproximava-se bastante da verdade. Clea tinha influenciado a sua decisão de voltar para casa. Mas o facto de ser o mais novo dos quatro irmãos, tinha-o feito tentar nunca dar nenhuma vantagem aos seus irmãos mais velhos.

– Não estamos a discutir os motivos pelos quais voltei. O problema é a segurança de Clea. Estou a oferecer-me para fazer o trabalho e fazer com que não lhe aconteça nada de mal.

– O «trabalho» seria mais fácil se pudéssemos dizer a Clea que vamos submetê-la a uma vigia.

– Concordo, mas como recusou a sugestão da tia Maggie, não podemos dizer nada. Vou ter de a proteger sem ela dar por isso – e enquanto estiver a velar pela sua segurança, quem sabe o que poderá acontecer? Sorriu ao lembrar-se de como a conhecera há seis meses atrás. Tinha passado pela agência de viagens para cumprimentar os seus tios; enquanto esperava, admirou as curvas duma mulher que estava de costas para ele.

Depois, ela virara-se e ele percebera que, apenas com um olhar daqueles felinos olhos verdes, ficara perdido. Desejava-a, sem dúvida. Um homem não podia olhar para Clea e não a desejar. Mas era mais do que isso. Tinha uma maneira enternecedora de se movimentar pelo escritório, de tratar a jovem mãe que tentava esticar ao máximo o dinheiro que tinha para visitar a sua família.

Tinha ouvido falar da eficiente Clea. As executivas ambiciosas não o atraíam. Gostava das mulheres suaves e frágeis. Aquelas que seriam felizes sendo apenas esposas e mães. Nunca imaginou que se apaixonaria por uma mulher entregue à sua carreira. Nem que iria precisar de tantos esforços para a convencer de que era o homem adequado para ela.

– … e só estás na agência há umas semanas. Não é tempo suficiente para conheceres o negócio.

Ryan voltou a concentrar-se no seu irmão e reparou que perdera mais de metade da conversa.

– Desculpa. O que é que estavas a dizer?

– Dizia que seguir alguém que te conhece pode ser complicado. Sean e eu temos mais experiência. Talvez seja melhor se for um de nós a fazer o trabalho.

– Esquece.

– Ryan…

Levantou-se de um salto. Apoiou as mãos na mesa e aproximou o rosto do seu irmão.

– Eu diria que doze anos no corpo de polícia, oito dos quais trabalhando na brigada de anti-droga e de homicídios, me dão experiência suficiente. Por isso, não me venhas com essa de que vocês são mais velhos e têm mais experiência. Eu quero este caso.

– Que caso? – inquiriu Sean, ao entrar no gabinete, como se tivesse acabado de se levantar da cama.

– O caso de Clea Mason – explicou Michael.

– Clea é nossa cliente? – inquiriu, com interesse.

– Não propriamente – explicou-lhe os pormenores, enquanto se dirigia para a cafeteira e se servia uma chávena de café. – Parece que tem estado a receber cartas de amor retorcidas. Ontem recebeu um desses telefonemas. A tia Maggie estava com ela quando recebeu a chamada e, pelo que ouviu, a habilidade verbal do tipo deixa algo a desejar.

– Gostaria de pôr as mãos em cima desse degenerado – gritou Sean.

– Vai para o fim da bicha – declarou Ryan.

– A polícia vai ter de o apanhar primeiro – replicou Michael. – E até essa altura, a tia Maggie quer que alguém da Agência de Segurança Fitzpatrick a vigie.

– E esse alguém serei eu – insistiu Ryan.

– Eh, espera um pouco! Porque é que vais ser tu o único a divertir-te? – protestou Sean. – E eu acho que Clea gosta de mim. Viste como olhou para mim na festa de casamento da semana passada? Está doida por mim. Não me oponho a ser a sua sombra. Eu sou o indicado, Mike. Não te preocupes que tomarei conta dela.

– Nada disso – ripostou Ryan, cerrando os dentes. – Quem vai tomar conta de Clea sou eu.

– Então, mano – Sean riu perante a sua violência, – a dama não está interessada em ti. O que foi que disse em resposta à tua proposta? Oh, sim, já me lembro. Algo como: «nem que fosses o último homem da Terra». Suponho que não fazes o seu género.

– E achas que tu fazes? – contra-atacou Ryan.

– De facto, sim. E sabes? Agora que estou a pensar nisso, em nenhum momento recusou a minha proposta – um brilho de divertimento apareceu no seu olhar. – Suponho que isso quer dizer que ela e eu estamos noivos. Nesse caso, deveria ser eu a ficar encarregue do seu caso.

Com trinta e dois anos de idade, Ryan pensara que tinha superado o hábito de cair nas armadilhas do seu irmão, mas era evidente que isso não acontecera e tinha vontade de dar um soco naquele rosto sorridente.

– Nada disso – repetiu, fechando os punhos com força.

– Sabes, pode ser que Sean tenha razão – interveio Michael, sem conseguir conter o sorriso. – Pela expressão que fez Clea quando a beijaste naquele dia, eu diria que não és o seu Fitzpatrick favorito.

– Não apostes nada – afirmou Ryan. A resposta de Clea ao seu beijo podia ter sido breve, mas o fogo que despertara entre os dois era sem dúvida qualquer coisa.

– Suponho que tu não herdaste o encanto dos Fizpatrick, mano – picou Sean. – Por outro lado, eu…

– Não herdaste nada – cortou Ryan; depois virou-se para Michael. – Quero este caso, Mike. Quando entrei para a agência, concordámos que teria os mesmos direitos. Bom, já estou cá há um mês e ainda só trabalhei com papelada.

– Isso também faz parte do trabalho.

– Mas não é só isso – argumentou.

– Descansa um bocado, Ry – Michael suspirou. – Pelo que eu ouvi, tiveste casos bastante duros antes de entregares a tua placa.

– E encerrei-os e estou pronto para continuar em frente. Quero trabalhar.

– Meninos – comentou Michael, como se os três anos que tinha de diferença dos irmãos o tornassem num velho. – Acho que te fará bem ficares um tempo a trabalhar no escritório para te habituares ao facto de que já não és um polícia que tem sempre casos para tratar.

– Não preciso. Já não sou polícia – entregara-se completamente ao seu trabalho, mas o sistema fora mais forte do que ele. Quando conseguia pôr um delinquente na prisão, os advogados voltavam a soltá-lo. E também sentira que lhe faltava uma família. Essa fora a razão pela qual tinha entregue a sua placa e regressado a casa. – O que preciso é de trabalhar… e não estou a referir-me à papelada. E tu e Sean estão ocupados noutro caso. O mais lógico é ser eu a encarregar-me desde caso.

– Espera um minuto – declarou Sean. – Trata tu da fraude dos cheques na qual eu estou a trabalhar e eu protegerei Clea.

– Desculpa, mano – Michael abanou a cabeça. – Sylvia Miller pediu especificamente que fosses tu a tratar dessa investigação.

– Ah, sim, a adorável Sylvia – os olhos de Sean iluminaram-se ao pensar na bela presidente do banco. – Então, não herdei nenhum encanto, pois não?

– Assim, fica tudo arranjado. Eu fico com Clea – decidiu ir-se embora antes de alguém colocar outra objecção.

– Espera um segundo, Ry – declarou Michael.

– Sim? – olhou com a testa franzida para a expressão do seu irmão.

– O mais provável é que o maluco que está a assediar Clea seja inofensivo. Costumam sê-lo. Mas se não o for, se decidir que quer emoções que não consegue com as cartas e com os telefonemas, talvez Clea corra perigo de verdade. Ela não se pode permitir o luxo de ter alguém que não se concentre no trabalho de a proteger.

– Achas que não sou capaz de o fazer? – inquiriu, furioso.

– Eu estou a dizer que tu gostas de Clea – levantou uma mão quando Ryan quis protestar. – Os dois sabemos que meter-se com uma cliente distorce a capacidade de julgamento e perde-se a concentração, porque se deixa de pensar com a cabeça. Se isso acontecer neste caso, será Clea quem vai pagar o preço. Não quero que se magoe.

– Não vou deixar que lhe aconteça nada, nem vou estragar o caso.

– Talvez não de propósito, mas…

– Vamos, Mike – declarou Sean, enquanto tirava um chocolate do bolso. – Clea tem bom gosto. Porque é que vai cair nos braços dele se me puder ter a mim?

Ryan arrancou-lhe o chocolate dos dedos, agradecido por ter algo para agarrar.

– Se eu fosse a ti, não estaria com tanta certeza disso, mano.

– Recusou-te, lembras-te? – troçou.

– Não ouviste falar que as mulheres mudam de opinião? Ela vai mudar.

– Está bem – olhou para ele desgostado e agarrou no chocolate. – Aposto cem dólares como ela te recusa novamente.

– De acordo. Põe aí os cem dólares.

Sean tirou duas notas de cinquenta da carteira e colocou-as na mesa.

– Mike, vais participar?

– Sim – tirou uma nota amachucada de cem. – Eu aposto com Sean. Digo que Clea vai recusar-te.

– Dentro de seis meses, a partir de hoje, quando puser uma aliança no seu dedo, virei buscar o meu dinheiro – prometeu Ryan.

 

 

Um calafrio percorreu Clea. Olhou à sua volta com a sensação de estar a ser vigiada. Olhou para as pessoas que a rodeavam. Rostos normais. Pessoas numa multidão e ninguém parecia interessado nela.

«São os nervos de trabalhar muito e dormir pouco», pensou. De facto, deveria ir para casa para se deitar cedo e não estar numa esquina de Chicago à espera que abrissem as portas do teatro. Não deveria ter aceitado acompanhar os Donatelli a jantar fora e depois ao teatro. Especialmente depois de ter recebido o último telefonema.

Tremeu ao lembrar-se dos murmúrios do outro lado da linha.

«Estavas tão bela hoje. Gostei do vestido vermelho que trazias. Gostaria de te ver agora. Preciso de te ver. Quero estar contigo esta noite. Quero…»

«Pára», ordenou-se a si mesma. Lutando com o pânico que fervilhava no seu interior, ao lembrar-se das cartas e do som daquela voz ameaçadora dizendo-lhe coisas desprezíveis que lhe queria fazer. Ninguém a vigiava, eram os nervos. Respirou fundo para se acalmar. Já estava assim há bastante tempo. Quem não estaria nervosa naquelas circunstâncias?

Claro que o facto de ter visto Ryan Fitzpatrick no restaurante não a ajudara. Franziu a testa ao pensar naquele encontro improvável. Era a terceira vez em três semanas que se encontravam depois do casamento…

Fechou os olhos indignada, ao pensar no comportamento dele na festa e, pior ainda, na sua vergonhosa resposta. Durante um breve momento, quando a beijara, tinha desaparecido toda a sensatez da sua mente. Tinha sido incapaz de resistir ao calor dos braços dele, à sensação da sua boca mexendo-se sedutoramente contra a dela. Ruborizou-se ao lembrar-se de como se derretera com aquele beijo.

Não fazia mal que a perda de controlo tivesse sido só momentânea ou que mais ninguém tivesse dado por isso. Ryan dera por isso. Vira-o nos seus olhos, quando conseguira soltar-se, e na curva satisfeita dos seus lábios quando o deixara plantado.

Como pôde ser tão parva? Conhecia os homens do tipo de Ryan, aqueles sedutores fáceis que davam a volta à cabeça de uma rapariga com palavras doces e promessas vazias. Sim, conhecia-os e não queria relacionar-se com ele nem com ninguém do mesmo género. Custara-lhe a aprender a dolorosa lição do que era ter uma relação com alguém assim. Ainda tinha as cicatrizes. E não se importava que ele beijasse maravilhosamente bem, nem que o seu coração se acelerasse quando ele se aproximava dela. Não queria ter nada com ele.

De repente, ficou rígida e voltou a sentir aquele formigueiro na nuca. Cruzou os braços e virou-se devagar. Estudou os rostos na multidão, sem ter a certeza do que esperava encontrar. Passou de um rosto para outro, gente jovem e gente de mais idade. Desconhecidos que, como ela, estavam à espera da abertura do teatro. Ninguém lhe chamava a atenção.

Frustrada, olhou para o outro lado da rua. Focou os olhos ao ver um homem de cabelo escuro apoiado contra a parede de um prédio. Parecia-lhe familiar. Então, ele virou a cabeça e olhou para ela. Durante uma fracção de segundo, os seus olhos cruzaram-se.

«Ryan?» Alguém passou diante dele e escondeu-o do seu olhar. Passados uns segundos, tinha desaparecido.

«E se for Ryan? Pelo amor de Deus, é um detective. Provavelmente está a trabalhar num caso».

– Oh! Parece que vão abrir as portas – comentou a mulher que estava ao seu lado.

Clea afastou-o dos seus pensamentos e observou as portas de vidro, onde um empregado fardado metia a chave na fechadura.

– Já não era sem tempo – queixou-se alguém.

A multidão começou a movimentar-se. Clea sentiu o suave contacto dos corpos e murmurou uma desculpa, enquanto avançava devagar. Desejou novamente ter recusado o convite dos Donatelli. Não via Maggie ou James desde que tinham saído do restaurante. Deveriam estar no princípio da fila à espera dela e dos outros convidados.

Uma respiração quente na sua nuca produziu-lhe um calafrio. Com o coração a bater desordenadamente, tentou virar-se quando a multidão voltou a empurrá-la para a frente.

– Tenho estado toda a noite com vontade de te tocar.

Ao ouvir aquela voz, Clea sentiu que o medo lhe fazia um nó na garganta e a paralisava por uns segundos. Tentou virar-se, mas encontrou-se presa e incapaz de se mexer, na pressão dos corpos que a empurravam para a entrada. Foi dominada pelo pânico.

– Por favor, tenho que passar – conseguiu soltar-se e empurrou o homem que estava à sua frente, tentando libertar-se.

– Vai ter que esperar pela sua vez como todos os outros – declarou alguém.

– Não está a perceber, tenho que…

– Não podes fugir. Eu nunca te deixarei.

O sangue gelou nas veias de Clea, quando o homem começou a murmurar no seu ouvido e a dizer-lhe o que queria fazer com ela. Antes de conseguir abrir passo entre as pessoas, uma mão surgiu atrás dela e sentiu que uns dedos se fechavam com força em volta do seu peito.

Clea emitiu um grito de fúria e de medo. Virou-se e com os cotovelos bateu no peito, ombros e braços do homem. Alheia aos rosnidos de protestos provocados pelos seus movimentos frenéticos, olhou para um mar de rostos desconhecidos

– Quem és tu? – interrogou, e detestou ouvir um tom de histeria na sua voz. – Porque é que me fazes isto?

– A quem é que está a gritar? – inquiriu um senhor de idade.

Olhou para o seu cabelo branco que brilhava na luz nocturna.

– Alguém que me acaba de dizer algo – não foi capaz de reconhecer que o monstro também a tinha tocado.

– Harry, disseste algo à jovem? – quis saber a mulher que o acompanhava.

– Não fui eu – olhou para ela como se estivesse maluca.