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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

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28001 Madrid

 

© 1998 Kathryn Attalla

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um homem inatingível, n.º 273 - novembro 2017

Título original: Taming the Tycoon

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-635-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– O que é que queres dizer com isso de que tenho uma irmã? – furioso, Ian Bradford levantou-se e olhou para o advogado, um homem de meia-idade, que se encontrava sentado à secretária. – Deve haver um engano qualquer.

Richard Jenkins era advogado da família há muitos anos, ainda Ian era uma criança. O contacto entre eles era mais frequente do que com o seu pai, já para não falar do tipo de tratamento, que era bastante mais cordial.

– Não há engano algum, Ian. Tens aqui uma fotocópia da certidão de nascimento.

Ian pegou no documento que o advogado lhe deu. O ataque cardíaco que o seu pai tinha tido, chocara-o menos do que aquela revelação.

– Tem dois anos?

– Quase três – murmurou Jenkins.

– Que diferença é que isso faz? O meu pai tinha mais de cinquenta anos.

Jenkins suspirou, indignado com aquela observação.

– Não se renuncia ao sexo depois dos quarenta.

Ian riu-se, visivelmente amargurado.

– Tenho a certeza de que o meu pai não o fez.

Wesley Bradford atravessara uma crise de maturidade durante os últimos trinta anos, mas sempre afirmara, com muito orgulho, que após o seu divórcio nenhuma outra mulher o tinha conseguido amarrar.

– Aqui está escrito que a mãe da criança só tinha vinte e cinco anos. Tiffany Moore. Que tipo de homem era este? Afinal, parece que não era um homem assim tão íntegro como proclamava – gritou Ian. – Vinte e cinco anos? Pelos vistos, gostava de jovenzinhas.

– O teu pai era um homem atraente.

– O meu pai tinha dinheiro. Esse é que era o charme dele. Quem to diz, é alguém que o conhecia melhor do que a maior parte das pessoas.

Ian voltou a ler o documento. Se o pai sentira tanto orgulho na sua filha, porque é que não lhe tinha dado o seu nome? Uma mulher podia inscrever o nome de um homem qualquer como pai do seu filho, numa certidão de nascimento. Sobretudo quando estava em jogo a participação numa grande empresa.

– Está descansado, que a gente resolve já o assunto – disse, mal-humorado. – Garanto-te que vou pedir um teste de ADN.

Jenkins abanou a cabeça.

– O teu pai exigiu-o, antes de aceitar dar uma determinada quantia em dinheiro, no sentido de ajudar nas despesas com a educação da criança. Os resultados estão aí, nessa pastinha.

– E a mãe da menina? Onde é que está a viver?

– Morreu há seis meses, num acidente de carro. A tua irmã vive com a tia, em Nova Iorque.

– Não tenho nenhuma irmã.

– Trata-a como entenderes. Chelsea Moore é filha de Wesley e, de acordo com o que está escrito no testamento, é dona de metade da Westervelt Properties.

Ian voltou a gritar de raiva. O pai tinha escolhido uma maneira muito cruel de reconhecer as suas obrigações paternais, em relação aos seus dois descendentes. Por que razão é que não optou por deixar o seu dinheiro à filha bastarda? Ele não o queria, nem precisava dele. Agora, estava satisfeito por não ter permitido que o avô o tivesse acompanhado, naquela manhã. O testamento só teria servido para abrir ainda mais uma velha ferida. Não havia dúvida alguma de que Wesley não tinha resistido a dar mais uma punhalada na família, mesmo do túmulo.

Ian esperara vinte anos para ver cumprida a promessa que fizera em criança. Ninguém o ia impedir de a concretizar agora. Ninguém.

– Posso impugnar o testamento?

– Não tens base legal para o fazer – Jenkins franziu o sobrolho, sorrindo com uma expressão matreira. – No entanto, poderias tentar obter os direitos administrativos sobre a herança da tua irmã. A decisão do juiz seria certamente mais favorável ao vínculo entre dois irmãos do que àquele que possa existir entre tia e sobrinha. Sobretudo, tendo em conta que tu estás mais familiarizado com a empresa.

– Fá-lo.

– Infelizmente, não domino essa área, Ian. Vou ter de trabalhar com outra pessoa.

– Muito bem. Pede à tua secretária que prepare os documentos necessários, para que os possa assinar ainda hoje – ordenou, recostando-se na cadeira com a intenção de descansar um pouco, depois de ter lido o testamento do pai. – O que é que sabes dessa tia?

– Dentro de meia hora, estará aqui. Poderás julgá-la tu mesmo. Só quis falar contigo primeiro, porque conheço os teus sentimentos relativamente à empresa do teu pai.

– À empresa do meu avô – corrigiu Ian.

– Wesley comprou…

Ian deu um murro na secretária.

– Deves querer dizer roubou e não comprou.

Jenkins brincou com a sua gravata. Podia defender o seu cliente até o inferno gelar, mas tanto Ian como ele sabiam qual era a verdade.

Enquanto a mãe se recuperava no hospital de uma operação a um cancro, Wesley aproveitou-se dos poderes que a esposa lhe dera para ficar com as suas acções da Westervelt Properties. Somando-as às dele, conseguiu cinquenta e um por cento, assim, na qualidade de sócio maioritário, retirou o avô de Ian da presidência e assumiu ele o controlo da empresa.

Jenkins começou a bater com a ponta dos dedos sobre a secretária.

– Porque é que não te reúnes com a mulher e tentas chegar a um acordo antes de se iniciar uma batalha legal, que poderia demorar anos?

– De que é que isso adiantaria?

– De acordo com o testamento, as acções da menina deverão ingressar num fundo que será administrado pela sua tutora. Pode parecer-lhe menos arriscado vendê-las.

– Esperemos que tenhas razão.

O advogado abanou a cabeça com uma certa tristeza.

– Se é isso que realmente queres, vais ter de controlar o teu temperamento. Sei que Wesley nunca vos tratou, a ti e à tua mãe, como…

Ian levantou a mão, impedindo-o de continuar a falar. Não estava disposto a aceitar a compaixão de um homem que tinha ajudado o pai a enganar os avós, para lhes tirar a empresa que tinham construído com tanto sacrifício.

– Não gastes saliva com sermões. Dá-me o que tiveres sobre a tia da menina. Quero saber o que vou enfrentar, antes de começar a reunião.

Ian remexeu a pasta que continha os papéis pessoais do pai. O material recolhido por Wesley acerca da sua última amante e da mãe desta, eram um vivo testemunho da sua conflituosa e desconfiada personalidade. Embora, naquele caso, não se tivesse enganado assim tanto. Tanto uma como outra tinham mantido relações com homens mais velhos e ricos. Para desgraça de Ian, o pai não achara necessário investigar também a irmã.

 

 

Shannon Moore confirmou a morada, no envelope que levava consigo. Senhor Doutor Richard Jenkins. Escritório duzentos e dezoito. Não sabia muito bem por que motivo é que tinha ido. O advogado deveria ter-lhe facultado uma fotocópia do testamento. Afinal, Wesley Bradford não reconheceu a sua filha em vida e depois da morte de Tiffany, quis cortar a mensalidade que dava regularmente. Embora a decisão de recusar o dinheiro tivesse sido de Shannon, se aquele homem tivesse algum interesse na filha, por mais pequeno que fosse, teria lutado por ficar com a custódia dela.

Compôs a saia e entrou no elegante escritório.

A recepcionista, que se encontrava à secretária, observou-a.

– Menina Shannon?

– Sim.

– O senhor Jenkins está à sua espera – levantou o auscultador e anunciou a chegada de Shannon. – Primeira porta à direita.

A jovem agradeceu e seguiu as indicações da recepcionista. Então, apareceu um homem, que lhe estendeu a mão de imediato.

– Obrigado por ter vindo, menina Moore. O meu nome é Richard Jenkins.

Shannon sorriu, cumprimentou-o e entrou no gabinete.

Lá dentro, um segundo homem, que estava sentado à secretária, levantou-se e fez uma ligeira vénia, em forma de cumprimento.

– Menina Moore.

O seu fato de seda e o seu relógio de ouro denunciavam riqueza, porém, as calosidades que tinha na mão que lhe estendeu, revelavam tratar-se de um homem que tinha ganho a vida à custa de árduo trabalho. Voltou a ocupar o cadeirão de pele e esboçou um arrogante sorriso. Dos seus lindíssimos olhos azuis, brotava um brilho gélido e, ao ver que a observava fixamente, Shannon sentiu um nervosismo que não sentia há anos. Descaradamente sensual e sexualmente atraente, havia nele algo de perigoso; dava a sensação de ter tudo o que ela detestava num homem.

– Apresento-lhe Ian Bradford – disse Jenkins, parecendo tão incomodado como ela.

Afinal, aquele era o filho de Wesley Bradford. Aparentemente não tinham nada em comum, no entanto, Shannon supôs que o filho tinha herdado o carácter impiedoso do pai. Se tivesse desconfiado de que aquilo era uma armadilha, ter-se-ia preparado melhor para o encontro.

Dirigindo-se a Ian, inclinou a cabeça.

– Senhor Bradford. Dou-lhe os meus sinceros pêsames.

Ele agradeceu com uma suave vénia.

O senhor Jenkins apontou para uma cadeira.

– Sente-se, para que possamos começar.

Shannon aceitou o convite.

– Deveria ter vindo acompanhada do meu advogado?

Ian inclinou-se para a frente e apoiou os cotovelos sobre a secretária.

– Existe algum motivo para acreditar que iria precisar dele?

A jovem decidiu encará-lo, recusando-se a desviar o olhar dos seus olhos. Há muito tempo que não se deixava intimidar por um homem. Se havia algo que os seus trinta e dois anos de vida lhe tinham ensinado, era que a maioria dos homens sabia explorar a fraqueza feminina em proveito próprio.

– Ainda não tenho a certeza. Os senhores arranjaram este pequeno encontro. Porque é que o senhor não me informou?

– Garanto-lhe que não vai haver problema algum – retorquiu Jenkins, tentando acalmá-la e aliviar a tensão que pairava no ar.

Ian passou a mão pelo seu cabelo castanho.

– Tenho a impressão de que a senhora Moore desconfia de nós. Pode explicar-me a razão dessa desconfiança?

– Prefiro manifestar a minha opinião depois de ouvir o que têm para me dizer.

Jenkins entregou-lhe uma pasta.

– Sublinhei a parte do testamento que faz referência à sua tutelada, Chelsea Moore. Se vir a página seis…

– Deixa-a ler tudo, Richard. Não queremos que perca nenhum dos segredos da ilustre família Bradford.

Shannon pôs os óculos e começou a ler o documento. Reparou que Ian não tinha nenhuma fotocópia, por isso, deduziu que já o tinha lido. Passou por cima das indicações para o funeral. Ao chegar à página dois, compreendeu porque é que aquele testamento deixava o senhor Jenkins tão nervoso e Ian Bradford tão angustiado.

Wesley Bradford deixara a cada uma das suas queridas uma determinada quantia de dinheiro. Incluindo à irmã de Shannon e às duas jovenzinhas que se seguiram a ela; ao todo, eram dezoito mulheres. Ainda que só tivesse estado com ele uma única vez, a imagem que fizera dele estava correcta. Tinha sido um homem frio, sem escrúpulos nem sentimentos.

Shannon desviou o olhar do documento e encarou com o sorriso cínico de Ian. A sua expressão era de tal forma grave e hipócrita, que ela estremeceu.

– Acho que vou levar o testamento para casa para o ler com mais atenção.

– Uma vez que está aqui, preferia que ficasse. Gostaria de debater um assunto consigo – Ian inclinou-se para a frente, ficando entre o advogado e a jovem.

Nervoso, Jenkins levantou-se e esticou as mangas do casaco.

– Vou buscar café para todos.

Shannon agradeceu com um movimento de cabeça e, uma vez mais, concentrou-se no testamento, lendo o parágrafo sublinhado. Tentou manter o rosto inexpressivo, enquanto lia a parte que dizia respeito aos cinquenta por cento da Westervelt Properties, que Chelsea herdara. Já não tinha razões para se preocupar com os estudos da sobrinha. A não ser que o assunto que Ian Bradford queria discutir com ela, estivesse relacionado com a herança.

– Suponho que tenciona impugnar o testamento – replicou num tom seco.

– Não o posso fazer; o senhor Jenkins irá confirmar-lho. No entanto, estou interessado em comprar as acções que pertencem à sua tutelada.

– À minha sobrinha – objectou Shannon, esforçando-se por conter a sua irritação. – Que também é sua irmã.

– Eu não tenho irmãs. Infelizmente, o meu pai teve uma filha – murmurou Ian entre dentes.

Shannon pensou na menina que vivia com ela há seis meses. A pobre Chelsea não tinha mais ninguém da família com quem contar. A sua mãe usara-a. Jamais iria ter a oportunidade de conhecer o pai. Até mesmo Shannon, que fazia todos os possíveis para que a sobrinha se sentisse rodeada de carinho, admitia a sua falta de instinto maternal. Como se tudo isso não chegasse, tinha um irmão que não queria saber dela mas que, apesar disso, ia ter de reconhecer que a menina não dispunha de grandes condições para vir a desfrutar de uma vida feliz.

Ian observou Shannon, quase sem conseguir conter a sua raiva.

– E então?

– Quer que lhe dê uma resposta agora?

– Não vai obter uma proposta melhor.

– Não sei quanto vale a empresa. Está à espera que tome uma decisão em nome de Chelsea, sem dispor de qualquer informação e confiando apenas no que acabou de me dizer, que é uma boa proposta? Por acaso pareço-lhe estúpida, senhor Bradford?

– De forma alguma, menina Moore. Tenho a certeza de que é uma pessoa bastante inteligente – o elogio soou mais como uma acusação. – Só estava a oferecer-lhe a oportunidade de transformar a herança da menina em dinheiro líquido. Afinal, muita coisa pode acontecer até ela completar dezoito anos. Já houve várias empresas estáveis que se afundaram em pouco tempo, sem motivos aparentes.

Estaria a ameaçá-la ou estaria apenas a tentar assustá-la, de modo a tomar uma decisão rápida?

– Quantos anos é que o senhor tem, senhor Bradford?

O homem franziu o sobrolho, confuso.

– Trinta e três. O que é que isso tem a ver com o assunto que estamos a discutir?

– Já é crescidinho para continuar a brincar ao Se não é tudo para mim, não é para ninguém – Shannon pegou na pasta que o advogado lhe entregara. – Se me dá licença, não tenho mais nada a dizer-lhe.

Ian levantou-se ao mesmo tempo que ela.

– Pois eu tenho algo a dizer-lhe.

– A partir de hoje, dirija-se a mim por intermédio do seu advogado. O senhor carece de tacto para lidar com as pessoas.

– A que é que se está a referir?

– Em primeiro lugar, se acredita que me assusta com as suas tácticas de intimidação, está muito enganado.

– E? – o insolente sorriso de Ian, despertou nela um súbito rancor. Ainda assim, tentou ganhar a batalha, mantendo o controlo.

– Quando se quer alguma coisa de alguém, é conveniente a pessoa mostrar-se amável, não arrogante.

– Foi isso que aprendeu nos bairros pobres onde cresceu?

Shannon susteve a respiração. Era evidente que Ian Bradford tinha investigado o seu passado. Acreditaria ele que estava disposta a aceitar qualquer oferta em dinheiro, só porque a sua família passara por graves dificuldades financeiras, durante alguns anos? A herança nem sequer era dela.

– Esta conversa não nos está a levar a lugar algum. Avise-me, quando tiver algo a dizer-me que mereça a pena eu deslocar-me – a jovem pôs a pasta que continha o testamento debaixo do braço e saiu do gabinete.

Com mais interesse do que aquilo que era de esperar na sua actual situação, Ian observou-a a afastar-se. As altas e torneadas pernas de Shannon e as suas estreitas ancas, moveram-se de uma forma elegante, contrastando com o seu estado de irritação. Assim que saiu, ele voltou a sentar-se. Controlar a sua decepção foi bastante mais fácil do que recuperar o domínio sobre as suas hormonas.

Shannon Moore era uma interessante contradição. A imagem de uma controlada mulher de negócios, escondia a arruaceira lutadora que existia por debaixo dessa máscara. O seu cabelo curto e ruivo contornava um rosto de formato ligeiramente oval e a sua franja chamava a atenção para os seus enormes olhos castanhos, que ficavam cor de mel quando se chateava.

– O que é que lhe disseste? – perguntou Jenkins, assim que entrou no gabinete. – Saiu daqui a deitar fumo.

– Fiz-lhe uma oferta. Quer algum tempo para pensar – não tinha dúvida alguma de que, naquele momento, se dirigia para o escritório do seu advogado. Ian encolheu os ombros. Ela era apenas a tutora. Quando chegasse à conclusão de que não tinha o direito de interferir na administração da empresa, iria gostar da oferta que acabara de lhe fazer.

– Não é nada parecida com a irmã.

– Não sei.

Jenkins sorriu.

– É óbvio que sabes. Tiffany Moore foi a mulher que apareceu no casamento do teu primo, vestindo um body de leopardo, recordas-te?

Ian lembrou-se da bonita e descarada loura, cujo riso era bastante sonoro e que tentou meter conversa com ele por diversas ocasiões, durante o casamento. Embora a noiva estivesse grávida, a querida do seu pai atraiu mais olhares do que esta.

– Deves estar a gozar comigo. Essa era a irmã de Shannon?

Wesley investigara o passado da sua querida e, de certo modo, o de Shannon; apesar disso, Ian não sabia de que é que esta vivia. Tendo em conta a sua postura e a sua determinação, era natural que tivesse superado as suas humildes origens. Em termos sociais, adquirira uma desenvoltura e uma elegância que a sua irmã mais nova não tinha.

– Precisamos de discutir alguns assuntos, Ian.

Ian decidiu prestar atenção ao advogado do seu pai.

– Dá andamento ao processo. Se não telefonar dentro de um mês, recorremos ao tribunal.

– Está bem. Wesley pagava uma mensalidade à mãe; era uma forma de contribuir para as despesas da menina. Consideras esse compromisso anulado, agora que ambas as partes morreram?

Reflectiu por breves instantes, antes de responder. Não via qualquer necessidade de entrar em conflito com a mulher, sem antes saber o que pretendia fazer com exactidão.

– Não. Continua a enviar o dinheiro a Shannon até ela decidir o que vai fazer com as acções.

Shannon?

– A menina Moore.

– Tem cuidado, Ian, podes acabar por ser vítima da mesma fraqueza que desprezavas no teu pai.

Ian esboçou um sorriso sarcástico.

– Há duas grandes diferenças: não sou casado e só me interesso por mulheres nascidas na mesma década que eu.

Resmungando, fechou a pasta. Não iria permitir que algo tão trivial, como a sua atracção por Shannon, o desviasse do seu caminho. A Westervelt Properties ia retornar às mãos do avô e estava decidido a fazer tudo o que fosse necessário para cumprir a sua promessa.

 

 

Shannon deixou a pasta na mesinha que tinha à entrada de casa. A viagem de uma hora de comboio, desde Nova Iorque, dera-lhe tempo para recuperar as forças, antes de voltar a ver a traquinas da sua sobrinha. Depois de abrir o correio, dirigiu-se a casa da sua vizinha. Uma floreira de tulipas vermelhas no parapeito da janela, anunciava a chegada da Primavera. Ao entrar na cozinha, sentiu o delicioso cheiro a bolo acabado de cozer.

– Onde estás, Wendy?

– É só um segundo – passado pouco tempo, Wendy Sommers entrou na cozinha. – Como é que correu a reunião?

Shannon abanou os ombros, tentando livrar-se do peso e da tensão que estes suportavam.

– Foi mais interessante do que aquilo que estava à espera.

A amiga deu-lhe uma chávena.

– Queres um café?

– Sim, por favor – a jovem sentou-se e apoiou os braços sobre a mesa de vidro. – O irmão de Chelsea também esteve presente.

– E? – perguntou Wendy, incentivando-a a prosseguir.

– Quando conheci Wesley Bradford, pensei que seria impossível haver alguém mais insuportável do que ele. Pelos vistos, a arrogância é um gene dominante. Ian parece tê-la herdado.

– Tenho a sensação de que ficaste bastante impressionada com esse Ian.

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– Que engraçada! A verdade é que me senti um pouco decepcionada. Pensei… bem, não importa o que pensei – respirou fundo e tentou afastar as preocupações da cabeça. – Deixou bem claro que pretende perpetuar a tradição da família, ou seja, continuar a ignorar a existência de Chelsea.

Por breves segundos, Wendy ficou pensativa e, imediatamente a seguir, deu uma gargalhada.

– És mesmo optimista, Shannon Moore. Por acaso, acreditavas que ia dar pulos de alegria quando descobrisse que tinha uma irmã?

Ao ouvir a amiga, compreendeu o quanto fora ingénua. Bebeu um gole de café e, suspirando, recostou-se na cadeira.

– Talvez, mas se o contares a alguém, nego. Preciso de manter a minha reputação de mulher forte e decidida, que não perde tempo com tolices.

– E que nos ajuda a investir o nosso dinheiro. Aliás, essa é uma das razões pelas quais temos grande consideração por ti. Já para não mencionar o facto de dares emprego a umas quantas pessoas.

– Porque, sozinha, não teria conseguido manter a empresa – Shannon abençoou a educação que tivera e os contactos comerciais que conseguira estabelecer ao longo dos anos, factores que lhe permitiam atender os seus clientes e, além disso, estar em casa para dar toda a assistência à sobrinha. Caso contrário, manter a casa e a firma teria sido quase impossível. – Isto de fazer o papel de mãe é muito mais difícil do que o que afirmavam Donna Reed e June Cleaver.

– É evidente, porque não és a tradicional dona de casa – concordou Wendy. – Esquece esses ridículos livros que ensinam a educar as crianças e segue os teus instintos. Desde que haja amor, tudo o resto correrá bem.

Uma vez mais, Shannon respirou fundo. Enquanto a casa da amiga tinha um cheiro delicioso a bolo acabado de fazer, ela tinha de arejar a sua, para fazer desaparecer o cheiro a bolachas queimadas. Quanto a seguir os seus instintos, era algo complicado, pois, na sua opinião, isso era uma coisa que não possuía. Os seus pais não a tinham preparado para cumprir convenientemente o papel de mãe.

– Ainda bem que não vim à procura de um ombro para chorar – Shannon esperava que Wendy tivesse razão e que o seu amor por Chelsea, que ocupava um lugar muito especial no seu coração, fosse suficiente.

– Preferias que te mentisse? – perguntou a amiga.

– Ter-te-ia agradecido se o tivesses feito. Por hoje, já tive a minha dose de verdade.

– Estás a deixar-me assustada, Shannon. Nunca te imaginei capaz de permitir que um homem te perturbasse tanto. Nem sequer quando andávamos no liceu.

– Não estou perturbada. Tenho o domínio total sobre a situação.

Se isso era realmente verdade, como é que era possível que aquele homem a tivesse feito perder o controlo, uma coisa que nunca nenhum outro tinha conseguido? Como é que era possível que o seu gélido e cruel olhar tivesse gerado, dentro dela, um calor até então desconhecido? Não podia sentir-se atraída por ele.

Nesse caso, porque é que era incapaz de esquecer a imagem de Ian Bradford?