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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Maureen Child

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A aventura mais perigosa, n.º 958 - maio 2017

Título original: An Officer and a Millionaire

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9858-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Hunter Cabot, membro das forças especiais da Marinha, tinha uma ferida de uma bala por cicatrizar, trinta dias de licença e, pelos vistos, uma esposa que ainda não conhecia.

Quando chegou à sua vila natal, Springville, na Califórnia, parou na estação de serviço de Charlie Evans. Foi ali que soube do seu novo problema.

– Hunter, que bom ver-te! A Margie já nos tinha dito que vinhas.

– A Margie? – perguntou, apoiando-se na sua carrinha. Observou o homem a atestar o depósito em silêncio. Conhecia-o desde o secundário.

Charlie sorriu.

– Estarei errado ou a tua mulher vai querer-te só para ela? – perguntou.

– A minha… – Hunter nem sequer conseguiu pronunciar a palavra «esposa». Estava confuso. Não tinha casado com ninguém. – Olha, Charlie…

– Eu não a culpo, claro – acrescentou o amigo, antes de lhe piscar o olho. – Deve ser difícil para ela ter o marido fora, ainda por cima casados de fresco.

– O que é que queres dizer com…

– Tenho a certeza que a Margie está ansiosa por ver-te. Ela contou-nos tudo sobre a vossa lua-de-mel em Bali.

– Charlie… – disse Hunter, arqueando as sobrancelhas.

– Não há problema, homem, não tens de me contar nada.

Que raio é que poderia dizer? Hunter abanou a cabeça e pagou-lhe. Era óbvio que Charlie tinha perdido a cabeça. Passava demasiado tempo a inspirar gases tóxicos.

Porém, apercebeu-se de que não era só Charlie. Parou num semáforo na rua principal e cumplimentou a velhota que estava a passar a passadeira, a senhora Harker, que tinha sido sua professora. A mulher aproximou-se.

– Hunter Cabot, arranjaste uma esposa muito esmerada. Só espero que lhe saibas dar valor.

Hunter limitou-se a assentir. Que raio é que se estava a passar? Seria uma partida colectiva?

Conduziu em direcção à mansão dos Cabot e, pelo caminho, ouviu mais comentários sobre a sua esposa. Hunter estava prestes a explodir. Não fazia a menor ideia do que se estava a passar, mas não tardaria a descobrir.

Saiu da carrinha, pegou na mochila e entrou na mansão como um raio. Nem sequer cumprimentou a governanta que foi a correr atrás dele.

– Senhor Hunter!

– Desculpa, Sophie. Preciso de tomar um banho, depois falamos – respondeu, subindo a escadaria de dois em dois degraus.

Atravessou o corredor, coberto por uma carpete vermelha, e dirigiu-se para a sua suite. Entrou, largou a mochila e ficou imóvel. Ouviu água a correr na casa de banho. Seria a sua «esposa»?

Sentiu-se furioso e curioso ao mesmo tempo. Sem pensar duas vezes, deu um passo em frente.

Abriu a porta da casa de banho e ficou admirado com a nuvem de vapor e o som de alguém a cantar desafinadamente. Era Margie, sem dúvida.

Embora não fosse essa a melhor expressão para a denominar. Hunter aproximou-se da porta do chuveiro e abriu-a. Lá dentro estava uma mulher nua, com um corpo cheio de curvas. Tentadora.

Ela deu meia volta e, ao vê-lo, cobriu-se o melhor que pôde e soltou um grito de horror.

Hunter sorriu.

– Olá, querida. Já estou em casa.

– Quem… o quê… como… quem?

– Bolas… É assim que tu recebes o teu marido? – perguntou, divertido com a situação.

– Eu… Eu.

Tinha-a deixado nervosa, disso tinha a certeza. Tinha os olhos quase a saltar-lhe das órbitas, como se estivesse à procura de um ponto de fuga.

Mas não tinha maneira de fugir e não iria a lado nenhum até ele obter respostas. Hunter não iria facilitar-lhe a vida. Era o que ela merecia depois de se ter feito passar por sua esposa.

Deu uma olhadela e viu que o chuveiro estava cheio de cremes femininos. As suas toalhas preferidas, pretas, tinham sido substituídas por toalhas azul-claro e até havia uma jarra com flores.

Pelos vistos, Margie tinha-se instalado confortavelmente na sua mansão. Também devia ter mentido ao avô de Hunter. Que raio. Subitamente, sentiu-se furioso, mas conteve-se com um enorme esforço. A mulher que estava à sua frente, nua e atraente, tinha enganado um pobre velho solitário. Tinha a certeza de que o tinha ludibriado para lhe tirar tudo. Mas ia pôr fim àquela palhaçada. Hunter não iria deixar-se afectar por mais atraente que ela fosse. Talvez até o deixasse perturbado, mas não a ponto de o distrair do seu objectivo.

Deu um passo em frente e sentiu-se embriagado com a fragrância proveniente de Margie. Jasmim, se não estava enganado. Sentiu um arrepio.

Margie olhava-o como se fosse um coelhinho indefeso em frente de uma cobra.

Não só era mentirosa como também astuta.

– Não me dás um beijo? – perguntou, aproximando-se ainda mais dela. Se Margie tivesse levantado a mão, ter-lhe-ia visto o peito. – Não tiveste saudades minhas, querida?

Ela olhou para trás e viu que não tinha como fugir.

– Não te aproximes mais… Seu tarado.

– Tarado? – perguntou, soltando uma gargalhada. – Sou só um marido a dizer olá à mulher.

– Isto é tudo menos dizer olá – disse, agarrando rapidamente numa toalha. Num abrir e fechar de olhos tinha-a enrolado à volta do corpo.

Que tristeza. Só tinha conseguido vislumbrar os seus seios grandes e os seus mamilos rosados por uns instantes. A sua esposa tinha um corpo de fazer qualquer homem perder a cabeça e com o desejo de explorar todos os seus contornos.

Margie olhava-o com total desprezo. Os seus olhos verde-esmeralda teriam congelado qualquer um que cruzasse o olhar com ela. No entanto, Hunter, que estava exasperado e simultaneamente excitado, não se mexeu.

– Quem és tu, afinal? – perguntou-lhe, devolvendo-lhe o olhar gelado.

– Quem sou? – disse, abanando a cabeça com força, salpicando Hunter. A toalha quase lhe caiu. – Estou na minha casa de banho a tomar um duche, a pensar na minha vida quando de repente… Oh, meu Deus – esbugalhou os olhos. – Tu és… Nem acredito que não te reconheci logo. Assustaste-me…

– Miúda, se te assustei foi porque estavas a pedi-las. Imagina como é que me senti quando cheguei aqui e toda a gente me disse que eu tinha uma esposa.

– Não acredito que…

– Mais ou menos – soltou Hunter. Deu outro passo em frente. Começou a falar mais calmamente. – Tenho um mês para descansar. Vim aqui para descansar, para ver o meu avô – olhou à sua volta antes de voltar a pousar o olhar nela. – Imagina a minha surpresa quando cheguei aqui e toda a gente me disse que a minha esposa ia ficar muito contente quando me visse.

– Bom, por acaso não estou. Não fiquei nada contente. Estou é irritada. Zangada, por assim dizer.

– Estás zangada? Lamento muito.

– Como é que ficarias se te aparecesse um estranho no duche, vindo do nada, como no filme Psycho? Só faltou as notas estridentes de um violino – acrescentou, um pouco mais calma.

– Não sou eu que estou aqui a mais, miúda. Tu é que és uma mentirosa e tu é que estás a mais.

– Tens a certeza disso? – perguntou, cruzando os braços e saindo da banheira.

– Certeza absoluta. Sabes perfeitamente que não estamos casados, por que é que não dizes de uma vez por todas o que estás a tramar? Como é que conseguiste convencer o meu avô a deixar-te entrar aqui em casa? – quanto mais pensava nisso, mais irritado ficava. – O Simon não é nada idiota. Deves ser uma grande vigarista para teres conseguido enganá-lo.

– Uma grande vigarista? – repetiu, indignada, colocando as mãos sobre o peito de Hunter.

– Se achas que me vais distrair fingindo que estás zangada, estás muito enganada – replicou sem conseguir evitar olhar para a orla da toalha que estava a soltar-se.

– Não era suposto que tivesses chegado agora – murmurou Margie, depois de um momento de silêncio.

– Oh, essa é boa, miúda. Era de supor que eu não viesse cá?

– Não disseste ao Simon que vinhas. E pára de me chamar «miúda».

– Eu chamo-te o que eu quiser e bem me apetecer. E tens sorte por ainda não ter chamado a polícia – atirou-lhe. Margie ficou boquiaberta. – E, quanto a não ter avisado o Simon, acho que acertei em cheio – afirmou, olhando-a secamente. – Apanha-se melhor um vigarista em flagrante.

– Eu não sou… Sabias que és um homem muito irritante? Ninguém me tinha avisado que eras assim. Oh, claro, tu nunca estás cá, devem-se ter esquecido dessa tua faceta.

– Mas estou agora – respondeu um pouco incomodado. Era verdade que não ia a Springville muitas vezes. Costumava estar ocupado em missões secretas. – Mas não era de mim que estávamos a falar, miúda – disse, propositadamente, para a irritar. – Vamos ao ponto em questão. Que raio é que estás aqui a fazer? Na minha suite? Por que é que disseste a toda a gente que estávamos casados e como é que conseguiste enganar o meu avô?

– A tua suite – repetiu Margie e inspirou tão fundo que o seu peito encheu-se de ar e a toalha deslizou pelo corpo.

Hunter deparou-se com o seu peito firme, os mamilos rosados e a sua zona púbica. O seu corpo reagiu de imediato. Margie disse um palavrão, apanhou a toalha do chão e voltou a enrolar-se.

– A tua suite? Essa é boa. Estou a viver nesta suite há um ano e não me lembro de te ter visto por aqui – acrescentou sarcasticamente.

– Um ano? Andas há um ano a fingir que és a minha mulher e a viver na minha casa?

Teria passado assim tanto tempo desde a sua última visita?

Infelizmente, devia ser verdade. No entanto, desde o ano passado que falava com Simon de duas em duas semanas e ele nunca lhe tinha falado naquela mulher. Nem uma única palavra. Nada. Que raio é que se estava a passar?

Teria Margie algo a ver com o avô? Tê-lo-ia ameaçado? Dificilmente. Ainda que estivesse a ficar velho Simon Cabot era um homem muito energético. Talvez…

Hunter aproximou-se ainda mais dela. Estava tão zangado que a sua vista estava a ficar turva. Ficou impressionado ao ver que Margie continuava impávida. Olhou-o de forma desafiante.

Hunter teve dificuldade em deixar a admiração de lado. Tinha de descobrir o que se estava a passar.

– A brincadeira acabou, querida. O que quer que estejas a tramar, acabou de ir por água abaixo e, quando souber o que andaste a roubar ao meu avô, nem que tenha sido um só dólar, vais acabar com o rabo atrás das grades.

– Não vou continuar esta conversa nua – replicou, erguendo o queixo. O vapor já se tinha dissipado, estava frio e Margie estava a começar a ficar com pele de galinha.

– Vais ver, não vais sair daqui até eu obter respostas.

– Já devia ter imaginado que eras uma besta.

– Desculpa?

– Tem a ver com o facto de seres militar? Dás as ordens que te vêm à cabeça e ficas à espera que os pobres civis as cumpram, não é? Olha, eu não vou fazer nada do que tu disseres. E devias ter vergonha de ser assim.

– Vergonha? Ainda podes voltar atrás, miúda. Não sou eu que estou a fingir uma coisa que não sou. Eu não estou a viver numa casa que não é a minha à base de mentiras. Não sou eu quem…

– Por amor de Deus, não vou ficar aqui especada a ouvir os teus insultos – interrompeu-o.

Deu-lhe um empurrão que o apanhou desprevenido e passou-lhe à frente. Hunter podia tê-la impedido, mas não gostava de usar a força com as mulheres.

Margie atravessou a divisão e foi directa à cómoda de Hunter.

– Vais vestir uns boxers meus ou uma camisa?

– A tua roupa gasta está na gaveta de baixo – retorquiu, olhando-o por cima do ombro.

– Gasta?

– Que nome é que dás a uma camisa que tem mais buracos do que tecido?

– Chamo-lhe a minha roupa.

Margie ignorou-o e tirou um sutiã de renda azul e umas cuecas a condizer. Sem dizer mais nada, entrou no quarto onde se vestia habitualmente e fechou a porta.

Hunter não iria conseguir vê-la a vestir-se, mas também não queria. Mentira. Teria adorado voltar a vê-la nua. Era humano, não?

– De qualquer das maneiras, o que é que estás aqui a fazer? – perguntou ela, a partir do compartimento.

– Esta casa é a minha, miúda. É aqui que eu vivo.

Ouviu um suspiro. Ouviu outro som, talvez de cabines a cair e Margie soltou um grito.

– O que é que estás a fazer?

– Estou a partir o tornozelo – respondeu ela.

Hunter aproximou-se da porta e olhou à volta. De repente, apercebeu-se de que o quarto onde tinha crescido estava completamente diferente.

As paredes estavam pintadas de verde, não de bege, e a almofada era verde em vez de castanha. A colcha que estava sobre a cama de casal era em renda e não a que tinha escolhido quando fez dezasseis anos. As cortinas das janelas e das varandas eram brancas.

Como é que não se tinha apercebido disso antes? Como é que lhe tinha passado despercebido, a ele cuja capacidade de observação era indispensável para a sua sobrevivência?

– Que raio é que andaste a fazer ao meu quarto? – perguntou, desconcertado.

Margie voltou para a divisão principal da suite. Tinha vestido uma camisa amarela, umas calças gastas que se ajustavam perfeitamente à sua silhueta e calçado umas sandálias de tacão que a faziam parecer mais alta.

Tinha uma postura normal e até conseguira dominar o seu cabelo grisalho com a escova. Cruzou mais uma vez os braços e Hunter viu-lhe uma aliança dourada no dedo anelar.

Bolas.

 

 

Margie olhou-o nos olhos enquanto tentava controlar a vaga de calor que lhe percorria o corpo. Ele observava-a com desconfiança através dos seus olhos azuis. Hunter Cabot era muito… maior do que tinha imaginado. E não era só alto. Era grande. Tinhas as costas largas e as pernas e os braços musculados, como se tivesse passado a vida a levantar pesos.

Conseguira deixá-la impressionada e um pouco intimidada. Não queria confessar-lhe o quão nervosa ele a tinha deixado. Afinal de contas, Margie não tinha feito nada de mal.

– E então? – perguntou, olhando-a persistentemente. – Quem é que te deu autorização para te instalares no meu quarto e o transformares numa casinha de bonecas?

Margie sempre fora da opinião que a melhor defesa era um bom ataque. Tinha aprendido com um advogado para quem tinha trabalhado e nunca falhava.

– O teu avô. Lembras-te? O homenzinho velhote e sozinho que tu nunca vens visitar.

– Não fales do meu avô. Não tens o direito de falar dele.

– Tens a certeza? – perguntou, caminhando na sua direcção. Cada passo seu estava carregado com o rancor que nutria por Hunter Cabot desde que tinha começado a trabalhar para o seu avô. – Olha, ouve só isto, capitão Cabot. Ganhei o direito de falar do teu avô a partir da noite em que ele teve um ataque cardíaco e não tinha mais ninguém ao lado dele a não ser eu.

Hunter ficou corado. Seria de raiva ou de vergonha?

– De qualquer das maneiras, como é que foste parar ao lado dele?

Margie soltou um suspiro. Não tinha a obrigação de lhe explicar absolutamente nada. Simon tinha-lhe prometido que iria falar com Hunter antes de ele voltar. Mas o regresso de surpresa tinha-lhes arruinado o plano.

– Sou a assistente pessoal do Simon.

– A secretária dele?

– A assistente – corrigiu-o. – Estava aqui com ele, quando ele teve o ataque cardíaco. Tentámos contactar-te, mas… surpresa! Não sabíamos de ti.

– Espera lá…

– Não – respondeu, colocando o dedo indicador sobre o seu peito. – Já disseste o que tinhas a dizer, agora é a minha vez. Nunca estás por cá. Quase nunca lhe telefonas. O teu avô tem muitas saudades tuas, bolas. E não percebo porquê.

– Isso não tem nada a ver…

– Ainda não acabei – interrompeu-o. – Andas tão ocupado a salvar o mundo que nem tiveste tempo para estar com o teu avô quando ele esteve quase às portas da morte? Volto a repetir o que já te disse: devias ter vergonha de ti mesmo.

Capítulo Dois

 

Tinha conseguido, Hunter tinha ficado boquiaberto e os seus olhos azuis brilhavam intensamente. Tinha tentado dominar a situação desde o início, desde que a tinha surpreendido no duche. Mas Margie tinha conseguido inverter a situação e, naquele momento, era Hunter quem estava a tentar defender-se.

Fez-se um silêncio sepulcral no quarto, de tal maneira que era possível ouvir a respiração de ambos. O sol entrava pela janela aberta de uma das varandas, banhando o quarto com uma luz dourada. Uma pequena brisa trouxe o aroma das rosas do jardim que davam para o quarto. Margie gostava imenso daquele quarto, onde se sentia sempre tranquila e relaxada. Excepto naquela manhã.

– Não tenho razão nenhuma para ter vergonha – respondeu Hunter, tenso. – Não estou cá porque tenho estado a trabalhar, a servir o meu país. Não sou eu que me estou a aproveitar de um homem velho e só.

– Não fazes ideia do que estás a dizer – respondeu Margie, também tensa.

– Não sei ao detalhe, mas acho que faço uma pequena ideia. És a secretária dele e conseguiste convencê-lo de que estamos casados. Não sei como é que conseguiste, mas vou descobrir.

– Isso faz todo o sentido. Coloquei um anel no dedo e disse-lhe: «Já agora, sabes uma coisa? Casei-me com o idiota do teu neto». E o Simon caiu que nem um patinho e acreditou – atirou-lhe. – Deves achar que o teu avô está senil, não? Só pode, caso contrário, o que estás a dizer não faria sentido nenhum.

– Não faria sentido?

– Não te preocupes, eu sei que é uma coisa com a qual não estás familiarizado.

Ficaram a trocar olhares durante o que lhe pareceu um minuto, em silêncio. Margie não queria interromper aquele silêncio e a sua paciência foi bem sucedida.

– Sobre o ataque cardíaco do Simon. Acho que te devia agradecer… por teres estado ao lado dele naquela noite – reconheceu Hunter, visivelmente incomodado.

– Achas?

– Eu estava numa missão. Só me deram a notícia quando regressei à base. Nessa altura eu telefonei-lhe, não sei se te lembras.

– Uma atenção da tua parte – atirou-lhe ao recordar o rosto de alegria com que Simon tinha ficado ao receber o telefonema do neto. – Um telefonema muito pessoal mas, ainda assim, não quiseste vir ver como ele estava.

– Ele já estava bem nessa altura – justificou-se Hunter. – Além disso, fui destacado para outra missão logo a seguir…

– Ora, não é a mim que tens de dar explicações. Devias era dá-las ao Simon e, para tua informação, eu também não estive com ele enquanto ele estava a recuperar.

– Óptimo.

– Óptimo – repetiu Margie. Era muito estranho estar na mesma divisão com o homem com quem estava legalmente casada há um ano. Tinha-se imaginado tantas vezes com Hunter Cabot que agora era difícil para ela sobrepor a realidade à imaginação.

Estranho e, no entanto, nunca tinha imaginado que, no seu primeiro encontro com Hunter, teriam uma discussão tão feia. Mas era ele quem tinha começado. Até a tinha chamado vigarista! Pelo que não se arrependia de nenhuma das respostas que lhe tinha dado. Hunter ainda tinha uma expressão tensa no rosto e, no entanto, havia algo mais no seu olhar. Algo que Margie não conseguiu descortinar mas que a deixou inquieta.

– Onde é que está o meu avô? – perguntou ele.

– Provavelmente no escritório. Costuma lá ficar tardes inteiras – respondeu. Hunter assentiu e saiu do quarto sem dizer mais nada.