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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Pamela Toth

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

As raízes do passado, n.º 9 - Setembro 2018

Título original: Her Sister’s Secret Life

Publicada originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Este título foi publicado originalmente em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-816-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Steve Lindstrom gostava de chegar à obra antes do resto da sua equipa. Aquela primeira meia hora solitária permitia-lhe dar uma olhadela sem que ninguém o assaltasse com perguntas sobre especificações de construção ou entregas de materiais. Saboreava o progresso de algo nascido graças à sua visão, ao seu investimento e, em grande medida, ao seu suor.

De pé junto da sua camioneta, bebia o seu café e observava os últimos vestígios de um amanhecer cor-de-rosa e dourado enquanto se desvanecia atrás dos picos das Montanhas Cascade, a este. A construção era sempre um risco, mas um mercado receptivo e a sua reputação crescente tinham-lhe permitido comprar aquele terreno com uma vista impressionante. À frente dele elevava-se o esqueleto de madeira do que estava a transformar-se na sua casa mais espectacular até ao momento, assim como o seu maior risco financeiro. Perto havia outra, igualmente luxuosa e quase acabada.

Desde que Steve começara a trabalhar na construção durante as férias de Verão, o trabalho sempre lhe proporcionara uma satisfação semelhante à de marcar um golo ou à de tirar uma boa nota num exame difícil. E transformara-se no chefe. A gestão, as decisões e as dores de cabeça relacionados com as Construções Lindstrom correspondiam-lhe.

Uma brisa leve, carregada de sal e de sol, chegava da enseada Admiralty Inlet e alguns veleiros sulcavam o fluxo. Uma águia sobrevoou um grupo de abetos. A sua cabeça branca destacava no céu azul e a envergadura das suas asas era digna de admiração. Uma sensação de paz assentou sobre a esplanada, a estrada sinuosa e os dois edifícios.

Steve pousou a chávena de café, agarrou na sua pasta e consultou as datas de entrega e dos subcontratados. Não era fácil ocupar-se de dois projectos ao mesmo tempo. Um atraso dos fornecedores ou um problema de instalação e o seu planeamento derrubar-se-ia como uma fileira de peças de dominó.

Desde que ouvira dizer que Lily Mayfield estava de volta à cidade, não conseguira concentrar-se, exactamente quando mais precisava de o fazer. A possibilidade de se encontrar com ela irritava-o imenso. Ao longo dos anos, as suas lembranças de Lily tinham começado a desaparecer, mas a ideia de voltar a perder-se nos seus olhos azuis e embriagar-se com o seu perfume voltara a dominar a sua mente.

Afastou uma pedra com um pontapé para que ninguém tropeçasse nela, desejando ter alguma desculpa para agarrar num martelo e destruir algo, em vez de ter de falar com o arquitecto e tranquilizar o banqueiro.

Estava a dar uma olhadela à estrutura da garagem para três carros que tinham construído no dia anterior, quando ouviu um motor. Levantou a cabeça. A carrinha do seu amigo Wade Garret aproximava-se pelo caminho lentamente, para não levantar demasiado pó. Wade alojava-se em casa de Steve, mas no dia anterior não fora dormir a casa.

Steve observou-o a estacionar e a sair do veículo. Wade era tão alto como ele, mas mais magro. Vestia calças de ganga, t-shirt e tinha um boné de basebol sobre o cabelo escuro. O sorriso do seu rosto era o de um homem que acabara de sair da cama, depois de uma noite de sexo glorioso.

Steve sentiu uma pontada de inveja. Custava-lhe recordar há quanto não desfrutava de uma noite de sexo e muito menos glorioso.

– Não te esperava hoje – replicou, quando Wade chegou ao seu lado.

Wade trabalhava para ele a tempo parcial, mas já andava há algum tempo a falar sobre voltar para a sua antiga profissão de corretor de bolsa.

– Hoje não trabalho, amigo. Estou a celebrar – Wade deu-lhe uma palmada entusiasta nas costas. – Se não fosse tão cedo, convidar-te-ia para uma cerveja.

– Saiu-te a lotaria ou estiveste com uma rapariga de luxo? – balbuciou Steve, estudando-o.

Conhecia Wade há alguns meses e nunca o vira tão animado. Na verdade, estivera muito triste desde que acabara com a sua namorada, Pauline Mayfield, que era também a irmã mais velha de Lily.

– Eh, amigo, estou contente por algo muito melhor que o dinheiro – respondeu Wade, com um sorriso. – Muito melhor.

– Estás a sair com alguém – adivinhou Steve, apoiando o ombro numa coluna. – Quem é a sortuda?

– Não é o que pensas – Wade abanou a cabeça. – Mas queria que fosses o primeiro a descobrir.

– Os rapazes chegarão em breve, portanto será melhor dizeres de uma vez. O que se passa?

Wade tinha o rosto encarnado e quase saltava de excitação.

– Pauline e eu estamos juntos outra vez – deu um grito selvagem e atirou o seu boné ao ar. – Vamos casar-nos.

– Felicidades! – exclamou Steve, alegrando-se pelos dois. Deu um abraço forte a Wade e deu-lhe uma palmadinha nas costas antes de o soltar.

Não era de estranhar que Wade estivesse tão feliz. Estava louco por Pauline desde que ela lhe arrendara o apartamento que havia por cima da casa dela.

Teria sido muito egoísta da parte de Steve desejar que Wade se apaixonasse por outra, só porque ele tivera uma relação com Lily. E ainda mais naquele momento, quando ela estava de volta à cidade com um filho de doze anos de quem ele não sabia nada. Era uma criança que, segundo se rumorejava, se parecia muito com Steve.

– Céus – replicou, – não é de estranhar que estejas a sorrir como um parvo. Vais casar-te com um bom partido, não há dúvida.

– Claro que sim – afirmou Wade. Ouviu-se uma mota. Os trabalhadores começavam a chegar.

– Hora de começar a trabalhar – declarou Steve, – mas esta noite pagarei a primeira rodada no Crab Pot. Traz Pauline, para que possa dizer-lhe como escolheu mal.

– Dir-lhe-ei, veremos o que pensa – respondeu Wade, falando como se já estivesse casado.

Carlos chegou na sua Harley, seguido por George na sua carrinha vermelha.

– Tenho de te pedir um favor – disse Wade a Steve, enquanto os homens descarregavam as suas ferramentas. – Podias ser o meu padrinho de casamento? Será no fim de Setembro e muito simples – ele pigarreou. – Sei que é pedir muito…

Steve supôs que Wade reparara na sua reacção quando ouvira a voz de Lily no atendedor de chamadas. Deixara uma mensagem a Wade. Apanhara-o de surpresa.

«Esta é a oportunidade de demonstrar que ela é apenas uma má lembrança», sussurrou uma voz na cabeça de Steve. Dado que as irmãs tinham resolvido as suas divergências, sem dúvida, Lily estaria no casamento e seria parte da vida de Pauline, mas não ia permitir que a presença de Lily o assustasse.

– Não digas tolices – resmungou Steve, embora sentisse um formigueiro no estômago. – É uma honra que mo tenhas pedido, está claro?

– Obrigado, amigo – o sobrolho franzido de Wade desapareceu.

– Eh, Frisco, trabalhas hoje? – gritou Carlos, usando a alcunha que dera a Wade. – Isso significa que não tenho de fazer nada, não é, chefe?

– Incorrecto – respondeu Steve. – Ele tem coisas melhores para fazer do que pregar pregos – virou-se para o seu amigo. – Bom trabalho! Conseguiste uma mulher fantástica.

Steve não ia preocupar-se. Tudo se resolveria. Lily era parte do seu passado e continuaria a ser.

 

 

Lily Mayfield e a sua irmã estavam na calçada, à frente da Fios Singulares, a loja de trabalhos de ponto de cruz de Pauline. A loja ocupava parte do andar de baixo de um velho edifício da zona comercial histórica de Crescent Cove.

– Continuo a espantar-me com o facto de tudo isto ter crescido tanto desde que me fui embora – Lily olhou para a rua ocupada. Dos candeeiros antigos pendiam cestas com flores e bandeirolas. Há treze anos, quase todos os locais tinham estado desocupados.

– Já estás aqui há tempo suficiente para te teres habituado às mudanças – respondeu Pauline, enquanto estudava a montra da sua loja. – Pensavas que ia ficar tudo paralisado até tu decidires voltar?

– Não, claro que não – Lily olhou para o seu relógio de pulso. Já era quase hora de ir buscar o seu filho, Jordan, a casa do seu amigo.

– O que pensas? – Pauline olhou para a montra com o sobrolho franzido. – Demasiado cheia? Ou pacóvia?

Lily olhou para os vasos que estavam postos à frente de um portão de madeira branca. Em cada vaso, havia panos com uma flor bordada.

– Está bem pensado – comentou Lily. – Se não fosse tão desastrada, até eu gostaria de aprender.

– Espero que tenhas razão – murmurou Pauline, pouco convencida, enquanto brincava com uma madeixa de cabelo loiro, de um tom bastante mais escuro do que o de Lily. – Agora que vão chegar tantas camionetas de Seattle e do Canadá, espero conseguir atrair nova clientela.

– Tenho de ir buscar Jordan – declarou Lily. – Não te esqueças de arranjar tempo para planeares o casamento. Setembro está ao virar da esquina – aconselhou, embora fosse difícil pensar no Outono naquele dia ensolarado de Julho.

– Acho que uma cerimónia simples no jardim das traseiras será fácil – Pauline encolheu os ombros. – Se chover, entraremos em casa.

Lily quase revirou os olhos devido à ingenuidade da sua irmã. A sala da velha casa vitoriana era enorme, mas o mobiliário estava bastante estragado.

– Simples, mas elegante – replicou Lily, com um sorriso. – Não te preocupes. Ajudar-te-ei – há dois meses, nem em sonhos se teria imaginado a planear o casamento com ela. No entanto, estava desejosa. – Felicidades outra vez, Paulie – ela abraçou a sua irmã. – Wade é um homem sortudo.

– A sortuda sou eu – Pauline abanou a cabeça. – Obrigada por me trazeres. Ele virá buscar-me depois, portanto ver-te-ei em casa.

Lily deu a volta ao carro, estacionado ali mesmo, e sentou-se ao volante. Arrancou e, ao virar a cabeça, viu Pauline a cumprimentar alguém com a mão.

Quando a enorme carrinha branca passou ao pé do seu carro, Lily olhou para ela com curiosidade. Uns óculos de sol escondiam o rosto do condutor e um boné de basebol escondia o cabelo despenteado e dourado pelo sol, mas reconheceu o sorriso imediatamente.

Apesar do tempo decorrido.

Por um instante, os seus olhares pareceram encontrar-se, apesar dos óculos escuros. Ela agarrou o volante e desviou o olhar, fixando-o na porta da carrinha.

Dizia «Construções Lindstrom».

Levantou a cabeça para dar outra olhadela, mas foi demasiado tarde. Ele continuara a conduzir, como se não tivesse acontecido nada importante.

Lily soubera que não poderia viver muito tempo em Crescent Cove sem se encontrar com Steve. Apesar do seu desenvolvimento e do grande número de turistas, continuava a ser a pequena cidade onde tinham crescido juntos. Pensava que estava preparada para aquela primeira visão do rapaz que lhe roubara o coração, mas enganara-se. Sempre que pensava em vê-lo novamente, sentia-se embargada pelo remorso e pela vergonha devido à forma como o tratara.

Teria de o ver em breve. Devia-lhe pelo menos isso, mas não se sentia preparada.

Perguntou-se se a teria reconhecido. Certamente, era apenas uma má lembrança para ele e a ideia entristeceu-a.

– Lily, cuidado! – gritou Pauline.

Lily voltou para a realidade mesmo a tempo de ver que o carro que estava à frente dela parara para estacionar. Travou, evitando o choque por centímetros.

– Bolas! – exclamou, desejando que Steve não tivesse olhado para trás e visto o que estivera prestes a fazer.

– Estás bem? – perguntou Pauline, espreitando pela janela. – Viste…?

– Estou lindamente! – gritou Lily, num tom irritado, embora soubesse que a sua irmã não tinha culpa de ela se ter portado como uma idiota.

O condutor que estava à frente dela mudou de opinião e decidiu não estacionar, deixando-lhe a via livre. Com um sorriso envergonhado, Lily despediu-se com a mão e arrancou. Se tivesse sorte, Pauline já teria esquecido o incidente quando regressasse a casa.

Infelizmente, Lily não podia fazer o mesmo. Sentindo-se tão covarde como quando tinha dezoito anos, foi buscar o menino que era a sua compensação por tudo o que tivera de sofrer e o motivo pelo qual devia uma explicação a Steve.

 

 

Quando Steve viu a loira atraente e reparou na sua expressão de espanto, esteve à beira de sofrer um enfarte. Dois quarteirões depois, virou abruptamente e entrou num estacionamento, assustando dois peões que estavam prestes a atravessar a rua. Travou e parou o carro.

A rápida olhadela não bastara para revelar as mudanças que Lily sofrera em treze anos. Não sabia se o tempo manchara a sua beleza, estampando no seu rosto a mesma frieza que dominava o seu coração. Furioso por se importar com isso, bateu no volante com a palma da mão e praguejou, ganhando um olhar surpreendido de um pescador que se aproximava. O homem deu uma volta para evitar o carro e Steve sentiu-se ainda mais estúpido.

Olhou para o telemóvel que estava no banco do lado. Tinha vontade de telefonar a Wade, mas não ia permitir que o facto de ver Lily durante um instante o transformasse num boneco de pano histérico. Comportar-se-ia como um homem, aguentaria e iria directo para o Crab Pot, a taberna local. Depois de algumas canecas de cerveja, pediria a Wade para o levar a casa.

O único problema do plano era que era demasiado cedo para o pôr em prática. Vira Lily quando ia a caminho do armazém de material de construção. Resignado a adiar o degelo, pôs o carro a trabalhar e virou a cabeça para fazer marcha-atrás. Uma ruiva num descapotável amarelo tocou a buzina e cumprimentou-o com a mão. O seu sorriso recordou-lhe que o mundo estava cheio de mulheres amigáveis. Não fazia sentido desperdiçar tempo, ou cerveja, numa presa antiga que lhe fugira.

Exactamente quando chegava ao seu destino, recomposto, recebeu uma chamada de Carlos, da obra.

– Sim – respondeu com brusquidão, perguntando-se o que podia ter acontecido lá.

– Eh, chefe, podes trazer-nos uns hambúrgueres? – perguntou Carlos. – Estamos cheios de fome.

– Depende – Steve saiu da camioneta com o telefone colado à orelha. – Acabaram de levantar a estrutura da cozinha?

 

 

Lily atravessava lentamente a parte antiga da cidade pela estrada que ladeava os molhes, ouvindo o falatório do seu filho, a caminho da casa familiar da rua Cedar, onde estavam a viver com Pauline.

– Fizeram um circuito no pátio de Cory! – exclamou Jordan. Mal parara de falar desde que Lily o fora buscar a casa de um dos seus novos amigos. – Estivemos a experimentá-lo com os skates.

A transferência para Crescent Cove fora difícil ao princípio porque ele sentia falta de Los Angeles e ainda chorava a perda do seu grande amigo e anjo da guarda de Lily, Francis Yost. Depois de crescer na propriedade espaçosa de Francis, Jordan deixara muito claro a Lily que não queria saber nada de Crescent Cove.

Por sorte, o noivo de Pauline dera-lhe uma ajuda, passando tempo com ele até conhecer rapazes da sua idade. A amizade de Wade e Lily causara uma má impressão inicial a Pauline, que encontrara Lily nos braços de Wade quando ele a consolava depois de uma discussão com o seu filho. Felizmente, isso ficara resolvido.

– Então, divertiste-te? – perguntou a Jordan. – Lembraste-te de agradecer à mãe de Cory por te convidar?

Ele levantou o boné para passar a mão pelo cabelo loiro e espesso. Precisava de um corte de cabelo.

– Ai, mãe! – ele suspirou, com cansaço. – Lembro-me sempre dessas coisas. Repetes-me isso desde que nasci – voltou a pôr o boné. – Aposto que já me dizias isso quando ainda estava na tua barriga.

– A minha missão na vida é domesticar-te e transformar-te num ser culto – brincou ela, virando para entrar em Cedar, uma rua estreita com muitas árvores e casas vitorianas em diversos estados de abandono.

Em vez de responder, ele olhou para ela fixamente.

– É verdade que o meu pai vive por aqui? – perguntou. – E que me pareço com ele?

A pergunta não devia tê-la surpreendido. As crianças ouviam muitas coisas.

– Onde ouviste isso? – inquiriu, tentando ganhar tempo enquanto seguia o caminho para a casa, Mayfield Manor. Quando travou à frente da garagem, surpreendeu-se ao ver que as suas mãos tremiam.

Olhou para Jordan para ver se ele reparara.

– Ryan MacPherson esteve a gozar comigo quando chegou a casa de Cory, mas a mãe de Cory disse-lhe para se ir embora.

– Ainda bem para Michelle – afirmou Lily, com ardor. No liceu, tinham-na escolhido como protagonista de uma peça teatral, em vez de escolherem a mãe de Ryan, Heather. Provavelmente, nunca lhe perdoara. Pelos vistos, continuava a ser uma bruxa.

Sentiu o impulso de ir enfrentar a outra mãe por mexericar à frente de Ryan, mas não podia culpar Heather por dizer em voz alta o que metade da cidade devia estar a pensar.

– É verdade? – persistiu Jordan. – O meu pai vive nesta cidade estúpida?

Lily livrou-se de responder ao ver Wade a aproximar-se do carro.

– Falaremos depois – disse a Jordan, quando Wade se inclinou e sorriu pela janela.

– Importas-te que rapte o teu filho durante algumas horas? – perguntou a Lily. – Olá, amigo! Queres ir jogar basquetebol?

– Tem de almoçar antes – interveio ela, agradecendo o convite.

– Almocei em casa de Cory – Jordan saiu do carro e bateu com a palma da mão na de Wade. – Posso ir? Por favor, mãe?

Era óbvio que não se importava de adiar o assunto da sua paternidade. Lily, em silêncio, prometeu-se que trataria disso em breve, assim que decidisse o que devia contar-lhe antes de ir falar com Steve.

Que confusão! Já estava a sair do carro quando percebeu que ambos continuavam à espera de uma resposta.

– Sim, podes ir. Leva uma garrafa de água e não te esqueças de a beber.

– Cuidarei bem dele, chefe – declarou Wade, pondo uma mão paternal sobre o ombro ossudo de Jordan. Depois, piscou-lhe um olho por cima da cabeça do rapaz.

– Eu sei – respondeu ela, com um sorriso. – Obrigada.

– Tenho de trocar de sapatos – avisou Jordan. – Volto já.

– Está tudo bem? – perguntou Wade, assim que o rapaz se afastou. – Interrompi alguma coisa?

Depois da sua irmã, Wade era a última pessoa na qual Lily se teria atrevido a confiar. Abanou a cabeça com tristeza.

– Nada que não possa esperar e faz-lhe muito bem passar tempo contigo.

– E para mim é um descanso – redarguiu Wade, seguindo-a para a porta traseira da casa.

– Um descanso dos planos de casamento? – gozou Lily. Até um homem perfeito, que era o que Pauline considerava o seu noivo, desanimava quando tinha de organizar os múltiplos pormenores de um casamento, por muito simples que fosse: convidados, convites, roupa, música, comida. A lista era interminável.

– Por favor, por favor, não contes a Pauline – ofereceu um sorriso deslumbrante. – Já se ri bastante de mim.

– Não direi uma palavra – prometeu Lily, solene, subindo os degraus do alpendre. Antes de poder abrir a porta, Wade pôs-lhe uma mão no braço.

– Lily, espera um segundo.

Ela pensou que queria um conselho a respeito de algum pormenor do casamento, mas tinha uma expressão preocupada.

– Queria dizer-te que pedi a Steve para ser o meu padrinho – murmurou ele. – Sei o que houve entre vocês e espero que não seja um problema para ti. Tornámo-nos muito amigos desde que cheguei aqui.

Todos sabiam que Steve fora o seu namorado formal durante dois anos, até ela se ir embora de repente. Wade também sabia que não avisara Steve de que se ia embora nem falara com ele depois.

– Não me preocupa – forçou um sorriso enorme. – A nossa relação faz parte do passado – surpreendeu-se ao ver que o rosto de Wade não relaxava.

– Falaste com ele? – perguntou Wade.

– Sobre o quê? – Lily arqueou as sobrancelhas, aparentando ignorância.

– Sei que não é da minha incumbência, mas… – olhou para a casa e, depois, para Lily.

– Agradeço que te preocupes – interrompeu-o Lily, abrindo a porta. Não queria que Jordan os ouvisse. – Estou cheia de sede. Queres uma limonada?

Wade agarrou num saco de desporto que pendia de um gancho.

– Não, obrigado, mas se quiseres falar… – parou de falar ao ouvir Jordan correr pela escada.

Lily sentiu um nó no estômago quando apareceu na cozinha segundos depois, com uma velha t-shirt e calções. Mais do que qualquer outra coisa no mundo desejava protegê-lo da dor e da desilusão, mesmo que soubesse que era um objectivo pouco realista.

– Eh, amigo, traz uma para mim também – pediu Wade, quando Jordan abriu o frigorífico e tirou uma garrafa de água. O rapaz pôs a bola de basquetebol sob o braço e obedeceu.

– Até mais tarde, mãe! – despediu-se, passando junto de Lily.

Surpreendeu-a ver como crescera nos últimos meses. Antes de dar por isso, seria um adulto. Sem remorso algum, recusou-se a pensar nos anos que o seu pai perdera.

– O rapaz merece saber a verdade – declarou Wade, num tom de voz sério, antes de sair atrás de Jordan.

– Não sabes o que me pedes – murmurou Lily, quando Wade fechou a porta.

Não sabia se Jordan suportaria a verdade. Nem se algum deles a suportaria.